Aos 40 anos de carreira, Magda Cotrofê decide olhar para trás — e convida o público a fazer o mesmo. Referência de beleza nos anos 1980, com passagens marcantes pelas passarelas, campanhas publicitárias e programas de humor na TV, ela lança sua biografia “O outro olhar de Magda Cotrofê”, um mergulho sensível e honesto na vida da mulher que existia por trás da imagem idealizada, mostrando o porque manteve o interesse da mídia por todos esses anos.
Mais do que relembrar momentos de glória e os bastidores da fama, Magda abre espaço para as vulnerabilidades, os dilemas e as escolhas que moldaram sua trajetória. Em tempos em que tudo é compartilhado em tempo real, ela revisita uma época em que a imagem era construída com mais mistério — e talvez mais pressão.

Hoje, Magda Cotrofê continua ativa em diversas frentes: participa de eventos ligados à moda, à cultura e à memória da televisão brasileira, além de ser a representante oficial na América Latina do Bikini Art Museum, na Alemanha — o primeiro museu do mundo dedicado exclusivamente à moda praia, com foco especial no biquíni. Reconhecida como uma verdadeira expert no assunto, ela atua como consultora da direção do museu, levando seu conhecimento no assunto. Não por acaso: nos anos 1980, Magda foi uma das grandes responsáveis por consagrar os icônicos modelos fio dental e asa-delta, que marcaram época e moldaram o imaginário estético da década. Um orgulho made in Brazil.
Na conversa com o jornalista Rodolfo Abreu, a modelo e atriz Magda Cotrofê fala sobre os assuntos que aborda em seu livro, refletindo sobre o impacto dos padrões estéticos que a consagraram e também a sufocaram. Também revela os bastidores emocionais para revisitar suas memórias que atravessam as últimas décadas. Ela fala com franqueza sobre medos, hesitações e conquistas, propondo uma nova narrativa para si mesma — mais livre, mais íntima e mais real.
Entre lembranças vibrantes de décadas passadas e reflexões sobre o presente, Magda Cotrofê surge não apenas como um ícone revisitado, mas como uma voz feminina que decidiu se escutar com mais profundidade — e, generosamente, dividir isso com os outros.
Acompanhe a entrevista.
Rodolfo Abreu: O que te levou a decidir contar sua história em uma biografia neste momento da sua vida?
Magda Cotrofê: Foi um conjunto de fatores. Estou comemorando 40 anos de carreira e já nutria essa vontade há muito tempo. Sinto que estou vivendo um marco importante na minha trajetória, um momento de olhar para trás com maturidade e dividir essa caminhada com o público.
Rodolfo Abreu: O título da biografia é “O outro olhar de Magda Cotrofê”. Que olhar é esse e como ele difere da imagem pública que o Brasil conheceu?
Magda Cotrofê: É um olhar mais profundo, mais íntimo. Ao longo dos anos, o público conheceu a Magda das passarelas, da TV, mas agora mostro a mulher por trás da imagem, com suas dores, escolhas, conquistas e aprendizados.



Rodolfo Abreu: Você foi modelo em um tempo bem anterior às redes sociais. Como avalia o mercado da moda hoje e o fenômeno dos “influencers”?
Magda Cotrofê: Vejo como uma evolução natural do mercado. Hoje tudo acontece muito rápido — uma peça mal chegou e já tem algo novo surgindo. As influencers se tornaram parte desse novo ritmo, uma forma direta de divulgar e vender produtos. É um reflexo da velocidade com que vivemos hoje.

Rodolfo Abreu: Você foi um dos rostos mais conhecidos da década de 1980. Como foi viver aquele tempo — com uma forma diferente de culto à beleza e aos corpos — sendo você mesma uma referência estética da época?
Magda Cotrofê: Foi intenso e desafiador. Naquela época, o culto à beleza era muito idealizado, e os padrões eram rígidos, embora menos discutidos do que hoje. Ser considerada uma referência estética era, ao mesmo tempo, um reconhecimento e uma responsabilidade enorme. A cobrança era constante — do público, da mídia e, muitas vezes, de mim mesma. Mas também foi um tempo de descobertas, de liberdade e de muita energia criativa. Vivi com intensidade, aproveitei o momento, mas hoje consigo olhar com mais consciência sobre o quanto aquilo também podia ser exigente para uma mulher.


Rodolfo Abreu: A televisão também fez parte da sua trajetória. Como foi o trânsito entre moda e atuação? E como você vê hoje a relação entre essas duas linguagens?
Magda Cotrofê: As duas são expressões artísticas, mas com linguagens e tempos diferentes. Sempre fui muito expansiva, e por isso acabei me encaixando melhor nos programas de humor do que em novelas. A moda e a atuação se complementam, mas têm ritmos distintos.


Rodolfo Abreu: Existe alguma história do livro que você hesitou em incluir, mas acabou decidindo manter? Se sim, por quê?
Magda Cotrofê: Sim, houve vários momentos em que pensei duas vezes antes de incluir certos episódios. Às vezes, bate o medo da exposição, de como o público vai reagir. Mas entendi que, se eu queria contar minha história de verdade, precisava ser honesta comigo mesma.



Rodolfo Abreu: Como foi o processo de escrita da sua biografia? Como você acessou as memórias antigas e o que mais te surpreendeu nesse processo?
Magda Cotrofê: Foi um processo intenso. Revisitar memórias pode ser doloroso, especialmente aquelas que achamos que já estavam resolvidas. Mas também reencontrei lembranças lindas, como o nascimento dos meus filhos. Foi uma verdadeira jornada emocional.


Rodolfo Abreu: Como você enxerga as mulheres que ainda vivem dentro de padrões rígidos de beleza? Seu livro, de alguma forma, fala um pouco disso?
Magda Cotrofê: Acho que cada mulher deve ser livre para fazer o que quiser com sua própria imagem. Não cabe a mim julgar. No livro, sim, falo um pouco sobre essa pressão estética — principalmente sobre como ela me afetou e sobre o caminho que encontrei para lidar com isso.
Rodolfo Abreu:. O que você espera que o público experimente ao ler sua biografia?
Magda Cotrofê: Espero que vivam um pouco da energia dos anos 80, que foi uma década vibrante, cheia de movimento, cor, ousadia. E que, acima de tudo, consigam enxergar a Magda real — com suas imperfeições e verdades — por trás da figura pública.
Acompanhe Magda Cotrofê no instagram: @magdacotrofeoficial
Entrevista por Rodolfo Abreu @rodolfoabreu
Fotos do ensaio por Fernando Ocazione @fernandoocazione e demais divulgação