Pablo Sycet é um dos grandes artistas espanhóis e um dos pintores andaluzes essenciais da geração dos anos oitenta. Ele nasceu em Gibraleón em 1953. Formou-se em 1985 com uma bolsa de estudos para Nova York do Comitê Conjunto Hispânico Norte-Americano para cooperação cultural. Possui em seu currículo inúmeras exposições individuais e coletivas, visto que seu trabalho é muito prolífico. A sua exposição “los papeles de Olont”, no Convento del Vado, em 2007, está profundamente gravada na memória do povo de Olont. Muitas das suas obras fazem parte de museus e coleções de prestígio como o Museu Vázquez Díaz de Nerva, Museu Zabaleta, The Hispanic Society of América (Nova York), The Paul Keppler Library (Nova York), Prefeitura de Gibraleón, Conselho Provincial de Huelva etc. Mas não se destaca apenas como pintor, é também um letrista de renome, que colabora regularmente com Luz Casal e Fangoria. Também com grupos olontense como Aviate, Pentimento ou Zorongo Club. Outra área em que se destaca como sendo um dos melhores é no design gráfico. Seu trabalho inclui covers de álbuns conhecidos como “100 éxitos del pop español”, “Angelis” (El Bosch), e “A veces hay un cielo” (Luz).
-Como você se iniciou no mundo da arte?
Apesar de ter uma vocação muito precoce, não tive ideias claras até que, aos 20 anos, decidi escolher entre ser pintor, designer gráfico ou jornalista; que era a minha formação acadêmica. Como foi tão difícil para mim decidir, pois qualquer escolha envolvia muita renúncia, acabei por substituir apenas o jornalismo pela prática de escrever letras de músicas, sem renunciar nada mais, porque vi claramente que era a única solução para tentar ser feliz com o meu trabalho. E, devido a coincidências da vida, mais tarde recuperei o ímpeto daquela renúncia da minha juventude e agora, há vários meses, venho contribuindo semanalmente com um artigo de opinião no jornal da minha terra natal, Huelva Información.
-Sabemos que você é um artista de muitas facetas; além de pintor, atua como curador de exposições, designer gráfico, editor, letrista de inúmeras canções e produções musicais. Ultimamente, o que mais lhe motiva: pintar, escrever, desenhar, ou o conjunto de todas essas expressões?
Realmente, estou tão habituado com todas as minhas atividades, me dedicando a cada momento, ao que o mercado exige, ou seguindo o meu instinto mais íntimo, agora é impossível optar por uma vocação ou outra, ou adaptá-las às circunstâncias: muitas letras de canções surgiram enquanto eu estava no meu ateliê, pintando, enquanto esperava que o pigmento da minha última obra secasse na tela, as musas da escrita vieram me visitar. Eu nunca desprezo as musas, porque elas são sagradas para mim, e são uma verdadeira razão para viver…


-A Movida Madrilenha como movimento contracultural nos anos 80, pretendia mostrar um ponto de inflexão entre a sociedade franquista e a nova sociedade democrática. Muitos, como o cineasta Pedro Almadóvar, mobilizaram-se por uma Espanha culturalmente aberta ao mundo. Você teve algum papel protagonista nesse movimento?
Claro, estive nessa mesma luta pela liberdade que Pedro Almodóvar, no entanto, ligado às artes plásticas, como artista gráfico, pintor ou organizador de exposições; porém, essas atividades geralmente não são tão conhecidas quanto o cinema. Além disso, Almodóvar tem um talento imenso como ninguém, com o seu trabalho e sua personalidade, contribuiu mais e melhor para que a imagem criadora da Espanha fosse vista como ela é hoje.
-Você já visitou algumas vezes o Brasil, apresentando suas exposições. Hoje inaugura a exposição “Sala de Mapas”, individual, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro. Nos conte um pouco sobre essa nova exposição?
É uma viagem emocional por cidades que amo, desde o primeiro momento em que cheguei até elas e me apaixonei; entre elas posso citar, São Paulo, Rio de Janeiro, Havana e Istambul. É a minha forma de devolver a todas essas cidades as emoções que elas provocaram em mim, acionando ao motor da imaginação para criar uma série de pinturas executadas sobre fragmentos de mapas, extraídos de guias turísticos e recriados com formas e cores.
-Depois desse trabalho no Brasil, quais serão seus próximos projetos?
O mais imediato, será nos meses de dezembro e janeiro a apresentação na Galeria La Moderna de Havana, de uma nova série de pinturas sobre papel intitulada ‘Losería’. Pretendo continuar com as atividades da Fundação Olontia (www.fundacionolontia.com) e com a organização da V edição da Feira Transfronteiriça de Arte Contemporânea na Andaluzia, sul da Espanha. Manter a publicação diária das minhas “venezianas” no Facebook, para contar a minha vida, os milagres em quatro parágrafos e refletir sobre o divino e o humano. Sintetizando trabalhar naquilo que amo e que me realiza como pessoa.
Entrevista: Bruno Feros
Imagem: Moises Fernandez Acosta @moifernandezphoto