Susi Sielski Cantarino, é uma artista plástica, argentina radicada no Rio desde 1988, e diretora da Galeria de Arte Metara. Ela nasceu em Buenos Aires. Formou-se em Belas Artes em Israel. Nomeada “Esta é Carioca” pelo prefeito Cesar Maia desde 1991, ela também é nomeada embaixadora do Rio pela fundação Cesgranrio, Rio de Janeiro. Com uma personalidade guerreira incansável, consegue através da sua arte com talento, criatividade e vasta cultura, superar desafios e concretizar sonhos em grandes empreendimentos. Em 2005 a artista participou do Prêmio Internacional “Lorenzo il Magnifico” onde obteve a 2ª colocação na Bienal de Florença, Itália, na categoria técnica mista e instalação. Organizou e produziu grandes eventos como, “Homenagem a Van Gogh”, reunindo os maiores fotógrafos do Rio, “Monet, grande exposição paralela” e “Uma Homenagem a Dali”, reunindo, também, os maiores designers do Rio de Janeiro. Possui em seu currículo inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e exterior.
-Como você chegou no meio artístico e o que influenciou seu trabalho?
Desde muito pequena, ainda em Buenos Aires, as cores, a dança, o teatro e a natureza sempre me comoveram. Comecei a desenhar quando vi as obras de Michelangelo, dançando inspirada na Isadora Duncan e interpretando ao ver Pina Bausch. Sempre me manifestei através de longos discursos e monólogos internos, através de poesias que criava na hora, ou apenas fantasiando histórias. Depois veio o teatro, com as improvisações e performances.
Aos 18 anos, com a chegada da ditadura, viajei para Israel, onde cursei a Universidade de Arte, curtindo, inventando e mergulhando fundo em cada momento de criação!
Registrava memórias e vivências nas fotos tiradas com a minha Pentax, quando percorri a Índia, desertos, florestas ou ilhas distantes. Desde cedo que a minha memória, inconscientemente, ditava as cores, temas que afloravam e fluíam sem parar. Sempre absorvendo, generosamente e feliz, como se não houvesse amanhã.
E o amanhã virou hoje, nestes momentos de incerteza, onde o tempo vem e vai sem controle. Assim, expresso através da minha arte, manifestos com conteúdo que falam de liberdade e tolerância. São obras fortes, como a obra que fez parte da instalação Bambus, com a qual ganhei o segundo prêmio na Biennale de Firenze, outorgado em mãos pelo artista plástico Christo. São também suaves e translúcidas como as “Mezuzot” ou coloridas e abstratas. Navego por diferentes técnicas e temas.
Sou influenciada pela memória inconsciente, por gritos internos pela Liberdade e Justiça. Pelas cores formas da natureza e contrastes. Meu mundo não tem fronteiras nem rótulos.
-O meio ambiente está cada vez mais em risco devido à ação humana, parece que ainda é difícil lembrar que a poluição gradativamente ameaça mais o nosso planeta. O projeto “Do Lixo ao Luxo” nos traz essa conscientização?
Sim, especialmente a conscientização das crianças e adolescentes. Tudo começou com a inquietação e a enorme vontade de encontrar uma solução e um modelo de ação que motive a todos de forma criativa, a jogar o lixo nas lixeiras e não no chão. Assim, idealizei caixas de lixo, reciclando o que temos por perto, no nosso caso, molduras descartadas por clientes da Metara e transformá-las em obras de arte. São criadas sob orientação de artistas e educadores de arte por adolescentes da Fundação Darcy Vargas, no bairro da Saúde, próxima a nossa galeria e molduraria Metara.
Sinto que uma forma ideal de educação começa dando instrução e elementos práticos às crianças, estimulando a usar a criatividade para alcançar objetivos, explicando a importância da preservação do nosso planeta, começando pelo nosso habitat. São elas, as crianças que, ao criarem uma caixa de lixo somente delas, vão poder exigir dos pais e amigos a colocarem o lixo nas obras que eles mesmos criaram, sentindo orgulho, compartilhando a conscientização adquirida com os próximos.
Pessoalmente, tive excelentes experiências enquanto educadora e professora de arte em Israel em Kibutzim, com crianças pequenininhas, em Taiwan, com estudantes aborígenes, no incrível projeto Paint A Future, assim como em Escolas Municipais do Rio de Janeiro. Todas ações são emocionantes e potentes. Estamos confiantes que, com este projeto, iremos atingir o interesse e colaboração das crianças para combater esta luta contra o lixo.
-A escolha do material desperta a necessidade de descartar o que não precisamos mais. Trazer de volta esses materiais em forma de arte é audacioso?
Acho que é ESSENCIAL! Desde sempre os materiais descartáveis foram usados por artistas para criação e obras de arte. Marcel Duchamp e muitos outros do movimento Ready Made, inspiraram artistas, como os que estão presentes na Exposição “Do Lixo ao Luxo” na Metara. Usando o Object Trouvé, em francês ou found object, em inglês que significa objeto encontrado, nas suas obras. Esse termo é usado nas artes visuais para designar obras feitas com objetos encontrados por artistas e que despertam interesse artístico neles. “Seu objetivo é vencer aquela ‘arte retiniana’ uma vez que exige a participação ativa do público.
-Com o projeto “Do Lixo ao Luxo” em fase inicial, o que virá pela frente a partir de agora?
“Do Lixo ao Luxo” é um projeto-modelo embrionário que dentro em breve deverá ter um alcance mais abrangente. Nossa proposta é fazer acontecer, num futuro próximo, em outras escolas, em diferentes bairros e locais, envolvendo pessoas atuantes na área da sustentabilidade e do meio ambiente, com a ‘adoção’ de crianças por designers e pintores que, juntos, irão confeccionar suas próprias lixeiras.
-Além do material descartável, você já utilizou outros materiais para suas produções artísticas?
Centenas. Prateleiras, marretas, enxadas, serrotes, grampeadores, agulhas, facas, malas, bambus, terra, pregos, partes de instrumentos musicais, jornais, folhas. Além dos tradicionais como papel jornal, nanquim, partituras, cartas antigas, selos, tinta acrílica, carvão…
-Tem algum projeto que ainda não tenha realizado e espera um dia fazê-lo?
Vários. O atual, meu programa de TV sobre arte previsto para 2024. É uma fórmula divertida, dinâmica e surpreendente, criada com o intuito de atiçar a curiosidade do espectador através de revelações e curiosidades sobre o tema.
Entrevista: Bruno Feros
Imagens: Bruca Manigua