A temática da peça está concentrada num parricídio.
O espetáculo aqui analisado é inspirado no mito do Édipo, rei de Tebas, que matou o pai e se casou com a própria mãe, e na vida de São Martinho de Tours, santo europeu do século IV, não-mártir, que se tornou cristão e chegou a bispo, contrariando a vontade do pai, que o desejava militar.
Um dramaturgo, de nome O (representado pelo ator OTTO JR.), com domicílio na França, vem ao Brasil, com a intenção de escrever uma peça de teatro, tendo como tema central um parricídio, motivado pelo mito de Édipo, e, numa ideia extremamente arrojada, pensa que seu protagonista deveria ser interpretado por um presidiário parricida, um insipiente, mesmo, na arte de representar, e não por um ator.
Em suma, a proposta é (re)escrever uma peça sobre o complexo de Édipo a partir dos encontros com um presidiário, condenado por parricídio.
O procura então as autoridades responsáveis pela Segurança Pública local, solicitando autorização para entrar em contato com um criminoso, em especial, cuja história lhe chamara a atenção, a fim de manter uma relação direta com ele, por meio de entrevistas, no presídio, na esperança de obter sua autorização para dramatizar a sua história e tê-lo com ator, na sua peça.
Conhece, então, Martin Santos (representado pelo ator Robson Torinni), um interno, que matara o pai com 21 (vinte e um) golpes de garfo, no pescoço e regiões periféricas a este, após mais um forte atrito entre os dois, fato bastante comum, durante o qual o pai não parava de insultá-lo e humilhá-lo.
Para obter mais detalhes, O decide realizar uma série de visitas ao assassino na prisão, e os laços de confiança e amizade entre O e Martin vão sendo construídos aos poucos.
Martin narra, detalhadamente, como se deu o assassinato e, finalmente, a peça fica pronta e o espetáculo estreia, cumprindo uma vitoriosa temporada de dois meses, ao fim dos quais, O precisa retornar a Paris, onde mora, sendo obrigado a se despedir de Martin, prometendo-lhe uma volta, o que fica em aberto, numa cena de extrema beleza, que jamais sairá da cabeça de um espectador com um mínimo de sensibilidade.
O texto de Sergio Blanco é de um primor. Reflete sobre a relação entre pais e filhos. E, no caso em questão, um caso concreto, real, um parricídio. Martin matou seu pai. Pela lei é um criminoso. Teve sua conduta tipificada. Dura Lex Sed Lex.
Contudo, o crime nos leva a refletir sobre outras questões, como a estrutura familiar, os maus tratos dos pais com relação aos filhos, o abandono da escola e a formaçao incompleta, o afeto, o carinho, a solidão, entre outras que a dramaturgia coloca. O que está por trás daquele crime? Quem era aquele pai que chamava o filho de “puta”, que o humilhava?
A dupla de atores está impecável. Eles mostram entrosamento e sintonia. Estão ajustados. É uma beleza de atuação.
O dramaturgo é interpretado por Otto Junior. Ele deixa transparecer a frieza e a segurança de um homem que ia dentro de um presídio dialogar com um criminoso. Tem uma atuação consistente, fria, de quem está dialogando com um assassino.
Por sua vez, o assassino é interpretado por Robson Torinni, que também interpreta o jovem ator. Portanto, ele assume os papeis do próprio ator Robson e do seu personagem Martin, o parricida. É o protagonista.

Quando Robson interpreta Martin, ele apresenta um tom de voz e um gestual irrepreensível.
Os dois atores conquistam o público, realizando uma interpretação brilhante! Eles estão muito bem dirigidos por Victor Garcia Peralta que foi preciso, nas marcações e em detalhes de direção de atores.
O figurino dos dois atores são adequados e pertinentes. O está vestido de forma garbosa, com uma com uma calça em tom marrom-terra e uma camisa preta. É um dramaturgo. Por sua vez, Martin usa uma calça preta, uma camiseta regata e um agasalho, na cor cinza, e um par de tênis. E está acompanhado pela bola de basquete.
O cenário é constituído pela quadra de basquete da prisão, onde ocorrem os encontros entre os dois personagens, e funciona ao mesmo tempo como “escritório” do dramaturgo e sala de ensaio da peça. Há também uma mesa, sobre a qual está montado um equipamento que serve para projetar imagens e filmar algumas cenas.
A luz de Maneco Quinderé é boa, e adequada aos diversos momentos da cena. Nada de muita extravagancia!
Todos nós temos a nossa “Tebas Land”!
É uma “obra de arte” da dramaturgia!
Excelente e Imperdível produção cultural!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela