Novembro é o Mês do Homem devido à campanha global novembro azul, focada na conscientização sobre a saúde masculina, com ênfase na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Aproveitando a data, gostaria de buscar uma reflexão sobre igualdade de gênero.
Antes de mais nada, vale lembrar que reconhecer a trajetória de luta das mulheres é reconhecer também a transformação profunda que a sociedade viveu nas últimas décadas. A mulher conquistou espaço, voz e direitos e isso foi fruto de uma caminhada árdua, marcada por coragem, persistência e enfrentamento de estruturas machistas enraizadas. Seria injusto e até desonesto negar o tamanho dessas conquistas. Graças a esse movimento, o mundo hoje é mais consciente da importância da equidade e da valorização do feminino em todas as esferas da vida.
No entanto, essa luta, tão legítima, não deve se transformar em campo de disputa por superioridade. A igualdade de gênero não significa que um precise se sobrepor ao outro, mas sim que ambos possam coexistir com respeito, equilíbrio e oportunidades justas. Quando se inverte o eixo e surge a ideia de que a mulher deve agora ocupar o lugar de poder “por revanche histórica”, corremos o risco de distorcer a essência da igualdade e isso fragiliza o próprio avanço conquistado.
A misoginia, o ódio às mulheres, é um mal real e estruturante, responsável por séculos de opressão e silenciamento. Mas é preciso reconhecer que o caminho contrário, a misandria, o preconceito e a aversão aos homens, também fere o ideal de justiça e harmonia social. Embora a misandria não seja um fenômeno comparável em escala ao machismo, ela se manifesta em discursos e atitudes que diminuem o valor do homem como parceiro, pai e cidadão.
O que se observa, em alguns contextos, é uma narrativa que, para valorizar a mulher, desvaloriza o homem. Em questões familiares, por exemplo, há situações em que o papel paterno é minimizado, como se o cuidado e o afeto fossem atributos exclusivamente femininos. Esse tipo de pensamento não promove justiça, ele apenas cria novas desigualdades.
A verdadeira conquista está em compreender que a liberdade de uma mulher não depende da limitação de um homem, assim como o reconhecimento masculino não se constrói sobre a negação do feminino. A igualdade deve ser o ponto de encontro.
O que o mundo precisa não é de um “reinado” de gênero, mas de uma convivência baseada em respeito mútuo, empatia e cooperação. A mulher não precisa ser mais do que o homem para ser valorizada, basta ser tratada como igual. E o homem, por sua vez, precisa compreender que essa igualdade não o ameaça, mas o liberta também de papéis sociais rígidos e ultrapassados.
No fim das contas, a luta de gênero não deve ser entre homens e mulheres, mas por uma sociedade realmente justa. Porque igualdade é a vitória de todos.
Andreia Calçada é psicóloga clínica e jurídica. Perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil. Mestre em sistemas de resolução de conflitos e autora do livro “Perdas irreparáveis – Alienação parental e falsas acusações de abuso sexual”.


