A produção e realização é do Barata Produções.
A criação e direção é de Eduardo Barata.
O texto de Eduardo Barata e Elaine Moreira é potente, emocionante, poético, afetuoso, memorialístico, é uma celebração à trajetória de dois indivíduos que associam teatro e vida. A biografia de ambos está intimamente ligada à atividade teatral. Eles são guardiões da memória teatral brasileira, interpretando, dirigindo e narrando inúmeras vivências e experiências que ajudaram a escrever capítulos importantes da nossa identidade. Eles são resistências!
O texto narra que ambos os atores tiveram origens sociais distintas. Borghi, de família classe média alta, nasceu na Tijuca numa época em que o bairro tinha cinco cinemas. Era apaixonado por Dalva de Oliveira e fã de Cacilda Becker. Por sua vez, Amir, classe média baixa, teve um pai que vendia rapadura, fez história no Pará e depois no Rio. Os dois fundaram o Oficina com o José Celso Martinez Correa. Borghi e José Celso seguiram um teatro mais profissional. Já Amir fundou o Tá na Rua, numa vertente teatral mais amadora. Mas o que importa é que eles fizeram do teatro suas respectivas vidas, e de suas respectivas vidas um verdadeiro teatro.
No palco, os dois artistas, sentados em cadeiras de rodas, os seus tronos, são coroados como monarcas do teatro brasileiro. Eles chegam aos oitenta e oito anos com vitalidade de quem viveu cada momento com paixão pela arte teatral. Estão atuando juntos num palco de forma inédita, e se apresentam vibrantes, contagiantes, emotivos e afetuosos. Eles seguem um roteiro de texto, mas há também uma “anarquia”, ao narrarem suas lembranças, contarem piadas e debocharem um do outro. Borghi é emoção e nostalgia. Haddad é interpretação e humor. Suas respectivas trajetórias são mosaicos vibrantes da cultura brasileira, marcada por atuações emblemáticas no teatro e na difusão de manifestações populares. Com o teatro, eles mantêm uma relação de afeto profundo e respeito mutuo.
Além de Borghi e Haddad, o elenco é integrado por Débora Duboc, Duda Barata, Elcio Nogueira Seixas e Máximo Cutrim. Eles complementam as atuações dos dois protagonistas, de forma correta e adequada.
Ha ainda duas palhaças, interpretadas por Lenita Magalhães e Laura Barbeiro, e uma cantora lírica, Ana Lia.
A pesquisa do texto é seria, correta, profunda, e cuidadosa, tendo sido realizada por Cláudia Chaves.
A direção é de Eduardo Barata que realizou as marcações corretas e precisas, dando uma dinâmica ao espetáculo, e dando uma direção ao correto trabalho de interpretação dos atores.
A cenografia criada por Rostand Albuquerque e Barbara Quadros é adequada e correta.
O conjunto de fotos preciosas da trajetória dos dois atores presente nas telas cenográficas pertence à Coleção Marcelo Del Cima.
Num determinado momento do espetáculo aparece a foto de José Celso Martinez Correa, outro importante ator brasileiro, amigo de Borghi e Hadad. Estes últimos foram fundadores do Teatro Oficina, ao lado de Zé Celso, e em 1958, começaram suas trajetórias quando dividiam os bancos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. Borghi e Zé Celso se formaram; Haddad, não.
Os figurinos criados por Rute Alves são bonitos, de bom gosto, e coloridos, deixando transparecer o talento da profissional.
A iluminação criada por Ricardo Vianna é correta, adequada, e contribui para realçar as interpretações dos atores de seus personagens.
A direção musical / Música ao vivo é do Trio Julio, que nos brindou com diversos ritmos musicais como marchinhas de Carnaval, sambas, sambas-de-enredo, entre outros, e uma sonoridade melodiosa e agradável. As músicas sao cantadas ao vivo e acompanhadas pelo trio.
O espetáculo encerra de forma magistral com o samba-de-enredo do ano de 1989 do GRES Beija-Flor de Nilópolis, quando Haddad realizou em parceria com o carnavalesco Joao Trinta, o trabalho de encenação da ala dos mendigos, que abria o desfile de forma notável, um dos maiores carnavais já realizados.
Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena é um espetáculo sensível, emocionante e poético; promove o encontro de dois “papas” do teatro brasileiro para juntos narrarem suas histórias e causos; e cenografia, figurinos e iluminação adequados e de bom gosto.
Excelente produção cênica!


