O espetáculo é um monólogo protagonizado pelo ator Andriu Freitas.
O texto de Owen O’Neill, traduzido por Diego Teza, é polêmico, instigante, crítico, contemporâneo, reflexivo e problematizador.
O texto apresenta as confissões de padre Natan, interpretado pelo ator Andriu Freitas, que em sua infância sofreu abuso sexual de outro religioso. Ele é um indivíduo movido por um propósito obsessivo: caçar padres pedófilos e fazer justiça com as próprias mãos.
E Natan assim procedeu: tirou a vida de religiosos que abusaram sexualmente de crianças. Lúcio, Jorge, Keller, Pietro e Thomas. Natan, indignado com as atitudes daqueles homens, teve desejo de vingança.
Em primeiro lugar, Natan procurou as instituições sociais para solucionar legalmente os fatos. Como não obteve resposta, ele mesmo agiu sem dó nem piedade. Ele rasgou os códigos penais e as leis, e passou por cima dos especialistas, das pessoas aptas para aplicar e jugar conforme a legislação. Ele se deixou levar pela emoção, pelo coração, pelo sentimento de raiva e ódio, pela indignação, e não pela razão. Ele é a lei.
Como Natan próprio se define, ele é um Salvador, um “anjo vingador”. Ele é uma figura angelical por se considerar como sendo uma pessoa do bem, que pratica boas ações, ama o seu próximo. Mas também é um vingador, porque por se sentir indignado com os abusos sexuais praticados pelos padres contra os incapazes, ele se nutre de um sentimento de ódio e raiva, e se vinga deles assassinando-os. Sem dó nem piedade! Não deixou impune!
Andriu Freitas, interpretando o padre Natan, tem uma atuação de excelência. Ele está notável! Interpreta perfeitamente e emociona. Ele incorpora o personagem e atua deixando transparecer os sentimentos que se fazem presentes em seu coração. Ele é frio, seco, cruel e calculista. O sentimento de vingança imperou. Não tinha como deixar impune. Confessa com uma tranquilidade, uma paz no coração. E assim ele procedeu. Ele domina o texto, transmitindo com clareza e uma boa retórica; e também o palco, se deslocando intensamente por aquela ribalta e ocupando todos os espaços. Ele realiza uma intensa ação corporal e apresenta distintas expressões faciais. Portanto, uma atuação com muitos méritos e digna de louvor.
A direção é de Daniel Herz que realizou as marcações certeiras e precisas, e deu um direcionamento à relevante atuação do ator, que interage intensamente com a cenografia constituída por diversas cadeiras que adquirem distintos significados.
O figurino criado por Wanderley Gomes é original, criativo e de bom gosto. O ator inicia de camisa e “cueca” branca, e, à medida que o texto vai sendo passado, ele coloca meias, calça e camisa comprida em tom preto, assumindo a sua identidade: o padre Natan.
A cenografia criada também por Wanderley Gomes é criativa e original. Ela é constituída por um confessório, aonde Natan vai se confessar por diversas vezes na parte traseira. E, na parte dianteira, um conjunto de cadeiras que adquire diversos significados à medida que o ator interage com as mesmas. Quando ele as coloca na posição horizontal, elas se transformam nos cinco corpos dos padres pedófilos punidos por Natan.
A iluminação criada por Aurélio de Simoni apresenta um bonito desenho de luz, diversas tonalidades de acordo com as cenas do espetáculo, e contribui para realçar a interpretação do ator de seu personagem.
Absolvição é um monólogo com uma atuação primorosa e digna de aplausos e louvor do ator; um texto potente, crítico e contemporâneo; e figurinos, cenografia e iluminação, que estão articulados e funcionam perfeitamente no conjunto.
Excelente produção cênica!