A curadoria é de Luiz Camillo Osorio. Ele selecionou relevantes e expressivas produções artísticas de Croft, organizando-as de forma correta e adequada, construindo uma narrativa didática, de forma que o público consegue assimilar sem grandes dificuldades as propostas do artista. Há equilíbrio e harmonia na proposta curatorial.
A mostra do artista português é composta, principalmente, por gravuras e desenhos, apresentando também esculturas e instalações. São produções originais, criativas, de qualidade, sofisticadas e engenhosas.
A exposição começa na rotunda do Centro Cultural com uma instalação inédita. Ela é em formato circular, preenchida por um conjunto de espelhos. A imagem refletida nos espelhos é a da claraboia do CCBB-RIO, só que de forma invertida. O público, ao subir ao segundo andar e olhar os espelhos, tem a sensação de que a claraboia está, no fundo, de um poço. A instalação altera a imagem da arquitetura do edifício, deformando-a. Pura ilusão de ótica. Instalação criativa, profunda e densa!
Todas as salas da exposição caracterizam-se por conter gravuras e desenhos que se articulam com as esculturas de ferro, vidro e espelho, dando uma unidade à exibição, que está marcada pela harmonia e equilíbrio, assim como pelo didatismo.
Na primeira e segunda sala observamos gravuras, que apresentam formas geométricas, e coloridas em preto, vermelho e laranja. As esculturas estão casadas com as gravuras. Nestas vemos o tom preto, que se associa ao ferro, e o vermelho e o laranja dialogando com o vidro e espelho.
Na terceira sala vemos a mesma dinâmica das salas anteriores. A justaposição das gravuras com a esculturas. No centro desta sala, visualizamos dois biombos de ferro, vidro, e espelho. O primeiro apresenta-se vazio, transparente, e passa a ideia de profundidade. Por sua vez, o segundo está preenchido por gesso.

Dando prosseguimento, ganham destaque gravuras que se identificam com o procedimento cinemático, “uma permanente edição e montagem de planos que propõem sequencias, próximo do cinema como metodologia criativa”. Gravuras criativas, originais, instigantes, e inacabadas.
Até então, a exposição nos parece fria e sem intensidade. Falta energia vibrante e emoção. Parece estar tudo numa ordem estática e fixa.
Até que alcançamos a penúltima sala, o momento ápice da exibição, quando há uma reviravolta na exposição e se dá o ingresso na ordem da descontinuidade e do transitório, quando a liberdade do artista se radicaliza e ele ganha autonomia.
Visualizamos desenhos de círculos coloridos, apresentando cores vibrantes e pulsantes. São figuras circulares contagiantes, que passam intensa ideia de movimento, ditando ritmo e emoção. O artista extrapola os seus limites. As formas geométricas exatas e precisas começam a perder fôlego. Momento de sair da ordem que subordina a liberdade do artista.
É nesse momento da exposição que arte e sentimento se encontram. O belo e o sublime despontam nas órbitas circulares. De um lado, círculos grandes e com grossa espessura, em tons laranja, vermelho, azul e verde. Do outro lado, predominam os círculos menores e mais finos, em tom preto, azul e laranja. No centro da sala, cruzando os desenhos, há uma escultura estática de ferro e espelho, quebrando o encantamento dos desenhos. Escultura desnecessária. O sublime está nas paredes repletas de imagens circulares coloridas, vibrantes e intensas!
Na última sala, há duas produções que utilizam colagens coloridas em tons verde, lilás e branco, com papel recortado, bastante criativas e originais, em que o artista levou os cortes para dentro do desenho. Passa a ideia do vazado.

E, por fim, duas esculturas de vidro e espelho. Elas funcionam como um portal, que deverá ser atravessado pelo público ao ir embora.
Neste final, o público ao passar pelo portal se defronta com o espelho, que é o espaço da visão, que leva a uma multiplicidade de olhares. Múltiplos olhares, diversas possibilidades!
Os espelhos se fazem presentes em toda a estrutura da exposição. Eles cruzam a obra do artista. Está no cerne do fazer artístico de Croft. Ele os utiliza com o intuito de saber o que acontece no espaço, quando o vidro e o espelho interferem na visão, levando o público a uma reflexão. O olhar viaja rumo à imensidão, onde múltiplas possibilidades de escolha e de ações existem. Cabe ao visitante optar por uma delas.
O público alvo da exposição são os artistas visuais, os especialistas, os colecionadores de arte, e os críticos.
As produções do artista português Joao Pedro Croft são relevantes, sofisticadas e criativas. Coloridas, geométricas e profundas. Leva ao livre pensar. Consideramos uma exposição válida e pertinente.
Excelente produção de artes plásticas!


