A idealização e a criação são de Denise Fraga, José Maria e Luiz Villaça.
O verbo celebrar está ligado à lembrança, ao não esquecimento. A celebração é um dos meios pelos quais os discursos da memória são construídos. E a peça em tela trata justamente de dois atores que querem celebrar junto ao outro suas memórias, suas próprias histórias, e outras tantas que ouviram por aí.
O texto de Denise Fraga, Luiz Villaça e Vinicius Calderoni fala sobre memórias (individuais, coletivas e compartilhadas), experiências, vivências, alegrias e angústias, realidade e sonhos. Trata-se de um texto relacional, reflexivo, bem-humorado, interativo e contemporâneo.
O texto também se mostra reflexivo sobre problemas contemporâneos, como a destruição ambiental, tema presente há um século na literatura em Tio Vânia, de Tchekhov; a violência contra a mulher, ainda tão marcante na sociedade brasileira, e tão bem abordada pela atriz Denise Fraga na peça, inclusive emocionantemente. Também menciona os compromissos da vida, os boletos. Afinal, a vida é um pagamento de boleto!

Ao final do espetáculo, os atores deixam uma mensagem de esperança: o futuro está nos jovens, na sua formação para um dia melhor.
Denise Fraga e Toni Ramos têm uma atuação de qualidade e digna de aplausos. Eles estão unidos, entrosados e afinados. Estão felizes no palco, atuando com leveza e espontaneidade. Eles interpretam, realizam curtas coreografias, dialogam com o público o tempo inteiro e emocionam. Eles tocam o coração do espectador com suas atuações vibrantes e contagiantes. São dois contadores de histórias e ativadores de memória. Eles dominam o texto, passando com uma linguagem simples e acessível. Dominam o palco, se movimentando intensamente e ocupando todos os espaços. E têm uma excelente comunicação com o público, dialogando com o mesmo, interagindo e colocando perguntas. Quando ingressamos no teatro, os dois já estão na plateia conversando com o público e interagindo com o mesmo. Portanto, uma atuação que deixa transparecer a grandeza dos dois atores e sua notabilidade.

A direção é de Luiz Villaça que focou no texto, e deixou os dois atores livres naquela ribalta para realizarem sua nobre apresentação.
Os dois atores são complementados por um conjunto de musicistas, sendo todas mulheres, que, ao longo do espetáculo, acompanham o texto narrado, dando ao mesmo um ar poético e musical.
A direção de movimento é de Kenia Dias, dando aos dois atores um dinamismo e uma movimentação intensa.
Os figurinos criados por Verônica Julian são de bom gosto, adequados ao texto, e facilitam a movimentação dos atores pelo palco.
A cenografia criada por Duda Arruk é clean, criativa e arrojada. Ela é constituída por um conjunto de cadeiras, e, ao fundo do palco, um telão branco, que se movimenta para cima e abre um espaço que se configura como uma “janela” transparente, um horizonte a ser descortinado.
A iluminação criada por Wagner Antônio é boa, e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
A qualidade do texto fica iluminada num espetáculo marcado pelo equilíbrio e harmonia entre as criações artísticas – direção, atuações e concepção visual.
Excelente produção cênica!


