Chico Vartulli – O que é moda para você?
Celina de Farias – Moda é emoção, estado de espírito, fenômeno social que reflete as atitudes do seu tempo, manifesta a subjetividade e a liberdade de expressão de cada um. Produto, tanto material quanto imaterial, inserido no universo da Cultura.
Ao longo da história, a moda não se limitou ao superficial da estética ou do consumo. Ela é, essencialmente, uma ferramenta de comunicação, capaz de refletir contextos sociais, manifestar ideologias, impulsionar transformações políticas e culturais.
O termo moda é associado à beleza e à realidade simbólica. O vestuário, seu maior representante, não é somente um invólucro do corpo, é muito mais, abrange tudo que encanta.
Chico Vartulli – Experiência como coordenadora do Curso Design de Moda IZA.
Celina de Farias – Importante ressaltar que, sempre à frente do seu tempo, o Instituto Zuzu Angel, sentindo a necessidade de linkar a moda à Academia, criou o primeiro curso de Moda reconhecido pelo MEC, no Rio, em 1995. Seu corpo docente era múltiplo, e se percebia a necessidade de despertar no aluno a diversidade da Moda. Já naquela época, o carnavalesco Joãozinho Trinta era professor do curso, confirmando a visão de amplitude. Até hoje, estilistas, modelistas, criadores, cenógrafos, figurinistas, carnavalescos, artistas plásticos, entre outros, que estão acontecendo no mercado, passaram por nós. Por quê? A visão vanguarda confirma o nosso olhar em profissionais diferenciados.
O pontapé inicial dado pelo Instituto Zuzu Angel se multiplicou pelo país afora. Hoje, acredito que a moda se insere muito mais fortemente no guarda-chuva Design. Se pararmos para pensar, tudo em torno de nós é design.
Chico Vartulli – Qual a importância do Instituto Zuzu Angel para a Moda?
Celina de Farias – O Instituto Zuzu Angel de Moda é uma entidade não governamental sem fins lucrativos, fundado em 1993 pela jornalista e filha de Zuzu, Hildegard Angel.
O IZA foi idealizado com o objetivo de preservar a memória, a obra e a luta da estilista Zuzu Angel, valorizar a criação e a produção da Moda no Brasil e destacar sua importância na economia criativa, na cultura e como expressão de seu tempo. Inúmeras atividades ligadas à moda foram e continuam sendo desenvolvidas pelo IZA.
Chico Vartulli – Quais as principais ações do Instituto Zuzu Angel?
Celina de Farias – Não podemos esquecer que, no grande âmbito da cultura, a Moda se insere na Memória. Passado e futuro precisam se unir para entendermos o presente. Mais uma vez, o Instituto Zuzu Angel sai na frente e cria o Museu da Moda.
A Casa Zuzu Angel — Museu da Moda é um espaço físico e virtual reservado à preservação da memória de Zuzu Angel, vida, obra e luta, reunindo histórico acervo têxtil e documental da artista mineira, bem como obras e coleções de outros nomes expressivos da moda do Brasil e do exterior. Tais criações evocam fatos, momentos e personalidades inspiradoras dos séculos XIX, XX e XXI.
O espaço também acondiciona em sua reserva técnica documental — registros dessa trajetória — armazenando documentos, fotografias, cartas, revistas, cartazes, que contam a rica história percorrida pela moda brasileira.
A casa funciona com sua equipe de museóloga, arquivista e estagiários de segunda a sexta-feira, realizando as tarefas de rotina de um museu, bem como cuidando da conservação e preservação do acervo aqui armazenado.
Atendemos as solicitações para visitas técnicas e pesquisas de estudantes, professores, jornalistas, pesquisadores, historiadores que intencionam aprofundar um pouco mais sobre a obra de Zuzu, sua vida familiar, profissional e atuação política, via agendamento e combinação prévia por esse mesmo e-mail.
Na ocasião de realização de eventos, cursos, exposições e mostras, são anunciados via redes sociais e acontecem via agendamento por e-mail e/ou são disponibilizados links de acesso a inscrições.
Chico Vartulli – Qual a importância de Zuzu Angel para a moda?
Celina de Farias – Zuzu Angel foi pioneira e revolucionária para a moda brasileira, por valorizar a brasilidade como tema central de suas criações ao utilizar estampas criadas por ela, utilizando cores e padronagens que remetiam à cultura brasileira em suas coleções, tecidos nacionais como chita, algodão, polyester, seda fabricados em fábricas brasileiras, valorizando as técnicas artesanais em um país onde a influência estrangeira dominava.
Sua trajetória se tornou símbolo de resistência política, ao transformar a moda em um veículo de denúncia contra a ditadura militar após a morte de seu filho, Stuart Angel, quando realizou o primeiro desfile de moda-protesto do mundo, no consulado brasileiro em Nova York, usando peças com elementos de guerra e luto para denunciar as atrocidades do regime militar. Zuzu demonstrou que a moda pode ser uma ferramenta poderosa para a inovação, a identidade e a resistência, inspirando estilistas a utilizar a cultura nacional.
Chico Vartulli – É possível fazer uma moda acessível?
Celina de Farias – A moda atualmente é ao mesmo tempo múltipla e individual. O mundo está se fechando em seus nichos. Podemos constatar, por exemplo, o segmento luxo, em destaque os recentes desfiles de Paris, o ecológico, o sustentável, a economia circular. E assim por diante.
Chico Vartulli – Qual seu estilista preferido?
Celina de Farias – Mais uma vez se caminha para a rotatividade dos estilistas e criadores nas marcas. O fenômeno é bem claro no mercado do luxo, quem comanda são os grandes grupos como LVMH e Kering. Também marcas como Zara, HM, Renner têm uma equipe de criação e não um estilista somente. O importante para o consumidor, de qualquer nicho, é a identificação decorrente do seu modo de viver.
Chico Vartulli – Quais os projetos futuros?
Celina de Farias – Sonhar e esperar que o sonho de um mundo melhor se torne realidade, repleto de valores e afetos para que todos sejam felizes.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação




