Chico Vartulli – Olá, Ricardo! A região da Baixada Fluminense é marcada por uma imagem negativa na mídia, local de desastres e calamidades sociais. Você, em suas produções audiovisuais, procura apresentar uma outra visão da região. Qual é a sua perspectiva ao produzir uma cinematografia sobre a região?
Ricardo Rodrigues – Esperançar. Mostrar o lado positivo. Mostrar que, apesar das dificuldades, podemos. Seja onde estivermos, trabalhando com seriedade e paixão, conseguimos vencer. Seja na Baixada Fluminense ou Santista, seja na Zona Sul ou Norte, seja no Capão Redondo ou no Triângulo Mineiro, seja lá onde for, podemos vencer.
Chico Vartulli – Como surgiu o Coletivo Cinema de Guerrilha da Baixada?
Ricardo Rodrigues – Surgiu após as gravações do curta Enterro de anão, em 2011. Digo sem receio que foi o coletivo independente do audiovisual mais importante da história do país. Foram dezenas de filmes, cineclube, realizamos oficinas, licenciamos filmes para TV, fizemos a série, ganhamos uma mostra no Canal Brasil e no Ponto Cine, fiz júri e curadoria em festivais e mostras de cinema, além de mais de 500 participações em festivais por todo o mundo com diversas premiações.
Chico Vartulli – Na série Vem Pra Baixada, qual era o seu objetivo principal? Como a série foi estruturada? Qual foi a imagem da Baixada que você apresentou?
Ricardo Rodrigues – O único objetivo é mostrar para o mundo o lado efervescente da cultura independente da Baixada Fluminense. A estrutura era simples, pouco equipamento e muita vontade e criatividade. Também tínhamos como ajudantes alunos de nossas oficinas.
E o resultado é surpreendente. Não é uma novidade, mas mostrar o lado bom de qualquer região problemática sempre será uma grata surpresa.
Chico Vartulli – Como se deu a sua formação na área do cinema?
Ricardo Rodrigues – Em dezesseis anos de Audiovisual, minha formação é praticar o cinema. Assistir a muitos filmes com o olhar técnico e praticar as ideias. Agora, em 2025, estou iniciando uma graduação em cinema.
Chico Vartulli – Quais são as suas principais referências (teóricas e práticas)?
Ricardo Rodrigues – Cinema brasileiro, principalmente. Gosto de escolas de cinema (cinema indiano, argentino, nigeriano, por exemplo) que mostram histórias que podemos produzir.
Chico Vartulli – Qual foi a importância do curta O Mendigo para a sua trajetória?
Ricardo Rodrigues – Foram quase cem festivais e mostras de cinema por todo o Brasil e no exterior com premiações bacanas. Foi o primeiro filme, apesar de ser um curta-metragem, de grande repercussão e relevância na minha cidade.
De São João de Meriti. Meu último edital público, deste ano, ainda é sobre o estudo do roteiro e produção desse filme. Então, ainda em 2025, esse filme ainda me traz alegrias.
Chico Vartulli – No âmbito da cinematografia nacional, qual ou quais cineastas você mais admira? Justifique.
Ricardo Rodrigues – Jorge Furtado, pela inteligência sutil e irônica, sempre com uma surpresa no final. Caca Diegues, pela amizade que tínhamos e por ser o primeiro a se importar com a vida no morro. Uma narrativa cinematográfica que persiste até os dias atuais.

Chico Vartulli – Para o cinema nacional deslanchar de vez, alcançar um nível top, o que falta?
Ricardo Rodrigues – Ser contemplado com um edital bacana para produzir uma obra-prima.
Quando eu for contemplado com um edital bacana, preciso produzir o meu melhor trabalho. Daí chego a esse nível top. Ser citado ao Oscar é o nível top.
Chico Vartulli – Como você relaciona cinema e literatura?
Ricardo Rodrigues – Sou inquieto. Entre o intervalo de uma obra e outra, vario. É uma necessidade. E uma missão também.
Chico Vartulli – Quais são os seus planos futuros?
Ricardo Rodrigues – Meu foco para os próximos meses é escrever um romance que está todo esboçado. E, claro, que seja publicado por uma editora bacana. E, claro também, que a história alcance o seu público. Conseguindo isso, é mais uma das missões sendo cumprida.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação



