O texto de Elisa Lucinda e Geovana Pires é poético, materno, ancestral, valoriza as africanidades, antirracista, antieurocentrico e anticolonial. O texto manda para o beleléu o racismo estruturante e o patriarcado, vai ao princípio do mundo e resgata a mulher, colocando-a como figura central da vida humana na Terra. Mostra como os laços maternais podem ser também fontes de inspiração e criação.
O elenco é constituído por Elisa Lucinda e Gabriel Demarchi. Os dois atores estão unidos, entrosados e ajustados. Estão associados e um complementa o outro, de forma uniforme e equilibrada. Eles têm uma atuação de qualidade, interpretando corretamente, cantando, dançando, recitando poesia e fazendo crochê. Emocionam também. Dominam o texto, passando com uma linguagem de fácil compreensão e uma boa retórica; e também o palco, com uma movimentação intensa e preenchendo todos os espaços, resultado do bom trabalho de Elton Sacramento. Portanto, uma atuação digna de louvores e elogios.
Gabriel Demarchi também é o responsável por tocar os instrumentos musicais, como a kamale ngoni, instrumento também conhecido como harpa africana, fato que complementa o texto e lhe dá uma sonoridade agradável e incrível, colocando o público que assiste no contexto da África ancestral.
Gabriel estreou bem. Teve a sorte de iniciar ao lado da experiente Elisa Lucinda. Interpreta bem. Ainda falta uma voz mais firme e potente, mas nada que o reprove.
A direção de Geovana Pires é correta e adequada. Ele realizou as marcações certeiras e precisas, e deu uma direção à correta e de qualidade atuação dos dois atores, que interpretam e emocionam.
A cenografia e o figurino são de Arieli Marcondes. Deixa transparecer um ar africano.
Os figurinos são de bom gosto, criativos, adequados ao contexto da peça e coloridos.
A cenografia é criativa e original. No centro, um trono decorado com máscaras e esculturas africanas. Ao redor, cabaças, jarras de cerâmica, peças de crochê, caixas decoradas e instrumentos musicais, como harpas africanas e maracas. E, no centro do palco, no piso, há um tapete de griôs com estampas adinkras. No teto, há um tecido branco todo armado com um formato que remete aos elementos da natureza (água, terra, ar).
A direção musical de Glaucus Linx é adequada, e remete ao contexto africano, com canções cantadas em dialetos africanos e sons derivados de instrumentos também africanos.
A iluminação criada por Djalma Amaral é boa e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
O Princípio do Mundo é uma peça de teatro com um texto poético, ancestral e maternal; uma dupla de atores que se apresenta com qualidade; e uma direção competente e correta.
Ótima Produção Cênica!