Com a explosão do rádio junto à indústria fonográfica, a música, definitivamente entrava em nova era. Ao fim da segunda guerra por independência, os americanos trouxeram na bagagem não apenas a influência do iluminismo ,mas também a música expressionista como um novo símbolo do moderno e do refinado .
A chegada dos escravos vindos da África trouxeram a força braçal e, despretensiosamente uma nova expressão musical. Devido as longas jornadas encaradas debaixo do sol nas fazendas de plantio, o canto dos escravos tornou-se essencial para suportar sua nova e duríssima realidade. A música dava ritmo e os motivava, aliviando as tensões do trabalho e servia como um desabafo de suas aflições e angústias pelo sofrimento e também pela saudade de sua terra natal.
Das igrejas locais – que frequentavam sempre que possível – assimilaram a influência melódica dos corais e fundiram à suas canções. Alguns aprendiam a tocar instrumentos musicais para entreter seus donos como uma sonoridade mais sofisticada, o que também os valorizava enquanto mercadoria.
Com a adaptação da harmonia surgiria um estilo único, que revolucionaria não somente os caminhos da música local, mas também o status e a relevância cultural do povo negro.
A NOTA AZUL
Nascia uma revolucionária e contagiante harmonia que atenderia pela nomenclatura de Blue Note. Blue era a cor que representava a tristeza na cultura americana, e agora também representava a nota fora da escala, o lamento e a melancolia. Após a guerra civil americana e coma o fim da escravatura, o estilo se tornaria cada vez mais popular. Foram adicionados, trompetes, saxofones, trombones , piano contrabaixo, bateria e outros instrumentos ; assim nasciam as big bands. Era bastante comum ter dez ou mais músicos ao mesmo palco numa mesma apresentação.
SWING, SWING, SWING
Em 1920 veio a Lei Seca, que proibiu a criminalizou a venda e o consumo de bebidas alcoólica no país. Casas noturnas clandestinas vendiam bebidas e ofereciam shows musicais para a máfia, e o jazz embalava as noites hedonistas do submundo. Logo, o estilo seria estigmatizado e associado ao ilegal e imoral. Obviamente a indústria fonográfica já sabia do enorme potencial do produto, porém precisava limpar sua reputação para assim poder vendê-lo como a trilha sonora do estilo de vida americano. Foram adicionados vozes, um tom mais festivo e batizaram de Swing, que agora já não se tratava das lamentações dos escravos, longas improvisações – que poderiam ser cansativas para a maioria – e nem de algo relacionado ao ilegal. O Swing era agora a música dos lares americanos, das casas de chá e dos pubs. Apesar do sucesso, ainda não havia conseguido se libertar por inteiro do estigma. Quando o renomado compositor europeu Antonin Dvorák esteve na América, ficou fascinado pela influência e disse ao mundo que prestasse atenção à música que ali estava sendo feita. Em seu artigo intitulado “Música na América” Dvorák afirmou que o entusiasmo americano, o patriotismo e a melodia musical que encontrou nos negros, certamente ganharia lugar de destaque na história da música universal
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BLUES
O estilo hedonista agora era parte da cultura do americano, e a palavra de ordem era aproveitar a vida. Sedento por entretenimento e novidades, o povo se embriagava da música harmoniosa e sensual que embalava a cena naquele momento. O nome da vez era Muddy Walters. Oriundo das lavouras do Mississipi para tentar a sorte como músico em Chicago, Muddy foi o primeiro a eletrificar sua guitarra e posteriormente outros instrumentos. Descoberto pelo produtor Len Chess – figura extremamente importante no desenvolvimento do blues elétrrico – e integrando o selo de sua gravadora, a Chess Records, Walters conquistou enorme sucesso e relevância compondo e interpretando alguns dos maiores clássicos do blues de todos os tempos. O estrondo foi tão forte que chamou atenção de cinco rapazes ingleses que haviam formado uma banda cujo o nome foi inspirado por uma de suas canções. Esses jovens eram ninguém menos que o Rolling Stones, que juntamente com o Beatles era a sensação da música jovem em Londres .
O blues já não era mais uma exclusividade restrita a América. Passou a ter renome internacional e influenciaria o surgimento de novas vertentes musicais e artistas que ditariam o ritmo da música alternativa global, como iremos conferir na segunda parte dessa série.
Até breve.
Texto e pesquisa: Salvador Razogh