Ela nasceu em berço artístico. Filha de Giselle Tápias, um dos maiores nomes da dança carioca, Flávia Tápias Santoro Schwartz teve a quem puxar. E vem construindo uma trajetória de sucesso. Desde cedo, Flávia foi transitando em torno da dança e se viu bailarina – logo após, virou também empreendedora. É uma mulher intensa, com muitos afazeres que respira o seu trabalho. Ela ama corpos que dançam de dentro para fora, independente de estilo ou idade.
Flávia é coreógrafa, intérprete, diretora de movimento e professora de dança contemporânea graduada pela Faculdade Angel Vianna no Brasil. É diretora e integrante do Grupo Tápias desde 1998, juntamente com a coreógrafa Giselle Tápias. Atua como professora de Técnica de Dança Contemporânea e Composição Coreográfica em diversos festivais e mostras internacionais. Nos últimos anos tem apresentado seus trabalhos como coreógrafa em festivais fora do país. Já passou por Portugal, França, Itália, Bélgica, República Tcheca, EUA e Coreia do Sul, entre outros.
Natural do Rio de Janeiro, casada, tem duas filhas, Rosa (11 anos) e Teresa (3 anos), e duas grandes paixões: a família e a dança. Começou a dar aulas aos 15 e lá se vão 27 anos de trajetória. A descoberta da vocação aconteceu naturalmente, já que sua maior inspiração e referência estava dentro de casa, sua mãe: Giselle Tápias é uma inspiração. Trabalho com muitas pessoas, mas ela me surpreende a cada dia. Muito criativa e empreendedora. Uma artista que eu realmente vejo fazer acontecer. Um privilégio estar junto compartilhando essa vida!
O lado família é lembrado com carinho. O dia a dia é diverso e com bom humor. Como ela relata, “sempre começa de um jeito e acaba de outro”. A divisão entre a artista e a mãe é algo que frequenta o dia a dia de Flávia. “Trabalho muito e duro, mas como amo o que eu faço, os dias passam rápido! A tentativa é um passo de cada vez, um leão por dia e uma Flávia melhor do que a do dia anterior”, conclui.
O lado empreendedora
Além de artista, Flávia é uma empreendedora que enxerga na dança muitas possibilidades de construções humanas e profissionais. Neste contexto, vem trabalhando junto à mãe com intercâmbios e espaços dedicados à construção de uma imagem sólida que contempla projetos como o que oferece espaço para todos que queiram entrar para esse mundo mágico da dança.
Junto com a mãe Giselle, a coreógrafa participou de um festival em Israel e conheceu o Juan Lopes, diretor de uma rede de contatos (network) na Espanha chamada CIDADES QUE DANÇAM. Desta forma, Juan descobriu o trabalho dela no Brasil e a convidou para integrar sua equipe. Surgiu a criação de um dos mais importantes festivais de dança do país: o Dança em Trânsito que contempla grupos e companhias de dança do país inteiro e, inclusive, do exterior. São 21 anos de história, passando por aproximadamente 30 cidades brasileiras e uma estrangeira, levando arte para os maiores centros, quilombos, ilhas, cidades pequenas, em grandes teatros e em muitos espaços urbanos – fomentando cada vez mais a arte da dança, ao mesmo tempo em que investe na formação de plateia.
Sobre fazer diferente e dar chance de escolha a pessoas que são cerceadas dos seus sonhos, Flávia se diz privilegiada por abrir este caminho com o projeto Engenho das Artes, que aos sábados, recebe em média 35 crianças de baixa renda para terem aulas gratuitas de teatro, dança e música no Espaço Tápias. Cada participante ganha em dinheiro uma ajuda de custo para a passagem e o lanche por dia de aula. E no fim de cada ano, haverá uma montagem no palco para que esses jovens vivenciem essa experiência. Segundo Flávia, o Brasil é um celeiro de bailarinos, em que há um caminho aberto para investir em dança profissional e, proporcionar acesso a quem não tem condições financeiras adequadas, é fundamental.
“Esta é uma grande conquista para nós, muitos não teriam condições de estarem ali se não fosse essa ajuda e assim estamos conseguindo dar uma continuidade na formação desses jovens. Eu acredito que tudo é possível, com trabalho e estudo em qualquer lugar do mundo. Hoje existem muitos projetos sociais onde jovens podem começar a educação artística. Tenho muito orgulho de ter fundado um centro cultural em um formato de coletivo artístico, e de ter organizado o Engenho das Artes. Claro, eu não poderia deixar de falar do Dança em Trânsito que possibilita trocas de experiências e proporciona encontros que transformam vidas. Fazer a diferença na vida das pessoas é algo que me move!“, diz.
Em sua vida profissional coleciona trabalhos diversos: atuou como diretora de movimento e coreógrafa em eventos corporativos, tais como Rio Innovation Week 2021 e 2022; Rock in Rio – 2019 e 2022; Vet in RIO – 2019; Moda em Movimento – 2018; Verão no Rio ZOO – 2018; Prêmio Brasil Olímpico – 2017; Engie Innovation Week – 2018; e Skol Summer ON – 2016, dentre muitos outros.
“Os bailarinos brasileiros são muito criativos e sensíveis. O nosso país precisa de mais iniciativas e mais apoio à cultura, para que esses artistas possam criar cada vez mais trabalhos potentes, belos e transformadores. A gente sabe que o Instituto Cultural Vale tem investido muito nesse segmento. É um trabalho que tem impactado bastante no setor das artes em geral no país. É de extrema importância reconhecer iniciativas como essa. Espero que em 2023, a dança retome espaço, sofremos demais com a pandemia, assim como outros setores“.
Um ano de celebração com a nova sede do Espaço Tápias
Para 2023, a proposta é seguir levando a arte para mais lugares e pessoas e conhecer novos artistas, além de conviver com os que já fazem parte da sua agenda. No mês de abril, haverá a comemoração de um ano do Espaço Tápias em sua nova sede, na Barra da Tijuca, no dia 29 – também dia internacional da dança. Para esta celebração será oferecido gratuitamente um intensivo de aulas com profissionais renomados de diversos estilos. Para comemorar também esta data, haverá o encerramento da primeira etapa do Festival Dança em Trânsito com o espetáculo Naitsu – Noites com MURAKAMI, de Regina Miranda, além de uma ação na Praça do Ó com apresentação gratuita para crianças e adultos.
“Tenho orgulho de ter seguido com arte no Brasil e acreditado que era possível. Tenho muito orgulho de ter criado um diálogo com a França e transformado o Grupo Tápias Cia. de Dança em uma companhia internacional com Intérpretes estrangeiros e brasileiros, destaca“, destaca.
Parceria internacional
Muito conectada com o mundo, Flávia foi além mar. Em uma parceria com o Festival Tanec Praha, da República Tcheca, trouxe pela primeira vez ao Brasil, bailarinos refugiados da Ucrânia e de outras nacionalidades para fazer um intercâmbio internacional. De 4 a 11 de fevereiro de 2023, os bailarinos estrangeiros uniram-se aos brasileiros e o resultado já começou a acontecer com o projeto Rotas Afora.
“Esse projeto é um presente! Eu facilito o Rotas, essa residência de Intercâmbio pelo Dança em Trânsito tem uns 10 anos, cada ano com artistas diversos e com uma temática diferente. Em 2022, a Diretora do Festival Tanec Praha assistiu ao resultado da nossa residência e nos convidou para escrever esse projeto juntas. A possibilidade de trabalhar com corpos e histórias de vida tão diversas é rica para todos. Eu acredito na potência dos encontros, seus atravessamentos e também na potência da criação coletiva. Poder dividir a cena e dar as mãos a bailarinos ucranianos nesse momento tão difícil para a Ucrânia, sabendo um pouco da história deles e vendo de perto a força e o desejo que eles têm em seguir, independente das dificuldades que são muitas, é um privilégio, uma responsabilidade e um aprendizado”, conta.
Para o início do segundo semestre deste ano, os bailarinos brasileiros vão para o exterior fazer essa residência e em agosto, quando acontecerá no país o Dança em Trânsito, todos os bailarinos vão se reunir num grande trabalho que será apreciado pelo público brasileiro.
Para finalizar, Flávia deixa um recado para quem quer seguir na seara artística: “Um bailarino ou artista precisa saber o que ele quer dizer, questionar, defender ou apontar quando está em cena, sempre! É necessário trabalhar técnicas diversas fazendo aulas, inclusive aulas de teatro, já que hoje a arte se mistura muito. O conselho que dou é vai seguindo, tenha persistência, coragem, surgirão dias melhores e piores. Fique sempre aberto para aprender com os mais velhos e com os mais jovens! Recomece quantas vezes for necessário, seja gentil consigo. O corpo é uma festa, mas é um só!”.
Foto: Acervo pessoal