Em foco – Olá Manuela! Você começou na televisão atuando como atriz. Num segundo momento, passou a atuar como escritora. Como foi o processo de migração da carreira de atriz para a de escritora? O que a motivou a trocar de carreira?
Manuela Dias – Foi um processo totalmente orgânico. Um dia, aos 19 anos, tive a ideia de uma peça “Soul4”, o Luiz Salém dirigiu, eu produzi e estreamos no falecido Teatro Villa Lobos. Quando estreei como autora, nunca mais atuei. Hoje em dia a carreira de atriz parece coisa de vidas passadas, porque não consigo me imaginar em cena! E acho que eu não era boa atriz. Não era o tipo de atriz que eu escalaria.
Em foco – Você é formada na área de cinema em Cuba. Como foi a experiencia de estudar no país caribenho? Como você avalia a faculdade de cinema cubana?
Manuela Dias – Minha experiência em Cuba foi transformadora. Eu não fiz o curso regular, mas participei do último curso do Gabriel García Márquez, o Gabo. Ele era voraz e impaciente, como toda boa história. Aprendi, além da escrita, sobre ser escritora.
Em foco – Quando você começou a se interessar em ser uma escritora?
Manuela Dias – Como disse, não foi um plano. Escrever sempre foi uma coisa que me ajudou a pensar. Diários, cartas, textos que eu chamava de “pensamentos”. Acho que se tornar escritora é um processo diário, sigo me tornando escritora, essa condição afeta meu olhar e minha forma de estar no mundo. Acho que a semente primordial foi uma enciclopédia de mitologia grega que minha mãe me deu, aos sete anos. Os estudos helênicos são minha maior fonte diária de alimento.


Em foco – Como se deu o processo do seu ingresso na rede globo de televisão?
Manuela Dias – Eu entrei na Globo aos 19 anos. Estreei no teatro com a peça SOUL 4 e daí a Maria Carmem Barbosa, uma escritora e roteirista fantástica, criadora do Delegacia de Mulheres, me convidou para integrar a equipe do SANDY & JÚNIOR. Entrei como pesquisadora e depois de 10 meses no programa fui promovida a colaboradora. Lembro que eu dava tanta ideia quando entrei que um dia a Carminha me chamou num canto e disse: você precisa dar menos ideia por enquanto.
Em foco – Como você define um texto escrito para novela? Quais são as suas características? O que o diferencia em relação a um texto de teatro ou cinema?
Manuela Dias – Cada suporte oferece acessos diferentes tanto ao público, quanto aos personagens. A Literatura pode entrar na cabeça dos personagens, coisa que o o audiovisual não faz. Isso é uma ferramenta e ao mesmo tempo uma limitação. O celular pode ser acessado em qualquer lugar, mas a tela é pequena e o som não envolve. O teatro é ao vivo, uma experiência de muita humanidade, troca, perigo de erro; o público acessa o processo de fazer. Formatos também oferecem especificidades. A força diária da novela é incrível, ao mesmo tempo uma série pode comportar melhor um formato mais “pesado”, mais definido. Talvez o formato de Justiça numa novela ficasse maçante, por exemplo. Eu gosto de escrever tudo.
Em foco – Quando você redige uma novela, você já pensa nos atores que podem atuar? Ou sao dois procedimentos distintos?
Manuela Dias – Amo escalar atores e acredito que a dinâmica entre autor e diretor é fundamental nesse momento da criação. Tenho um profundo respeito e fascínio por essa profissão, que julgo dificílima, uma vocação que exige muita dedicação, entrega. Os atores oferecem suas peles para os personagens, a adequação e subversão na escalação são fundamentais.

Em foco – Quais são os(as) autores(as) de novela que você mais admira? E, quais as suas produções que mais te marcaram?
Manuela Dias – Sinto que sou agraciada por fazer parte desse majestoso rio que é a teledramaturgia brasileira. Creci vendo novela, GUERRA DOS SEXOS eu tinha sete anos e me lembro de quanto chorei no último capítulo, porque iria sentir saudades daqueles personagens que entravam na minha casa todos os dias. Era já o Sílvio de Abreu na minha vida, mestre imenso e generosíssimo com quem tive o privilegio de trabalhar. Estamos falando de Janete Clair, Dias Gomes, Silvio de Abreu, Aguinaldo Silva, Walcyr Carrasco… E atualmente o incrível João Emmanuel Carneiro, que é genial. A Rosanne Swartman uma criadora, autora e diretora incrível! Claudia Souto, Mauro Wilson, Duca Rachid Thelma Guedes, Geraldo Carneiro… É incrível a potência dessas águas!
Em foco – No momento, quais são os projetos que você está lançando?
Manuela Dias – No momento estou lançando Justiça 2 e Dona Lurdes – o filme.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os seus fãs.
Manuela Dias – Eu escrevo, acordo e durmo, pensando no público. Quero emocionar e através do coração tentar que a dramaturgia cumpra seu papel de constituir nossa malha narrativa, que sustenta nossos valores éticos e comportamentais. O público é meu norte, minha meta, minha fonte de criação e meu maior objetivo, diariamente, é que as batidas do meu coração aconteçam em sintonia com a pulsação de cada uma das pessoas que assistam o que eu escrevo!
Fotos: Jorge Bispo