Em foco – Olá Laura! Onde você nasceu? Família? Infância? Ensino médio e fundamental?
Laura Figueiredo – Olá! Nasci em 1962 no Rio, carioquíssima. Éramos 7 (sete) filhos e sempre moramos em Botafogo. O antigo primário fiz no Colégio Santo Amaro e, quando o Colégio Santo Inácio abriu suas portas para meninas na quinta série, entrei, pois lá já estudavam meus quatro irmãos mais velhos. Fiz no colégio o profissionalizante de auxiliar de desenhista de arquitetura, pois pensava em ser arquiteta, conciliar criatividade, desenho, estética… Desisti e fui cursar Geografia.
Em foco – Quando se deu o seu interesse pelas artes plásticas?
Laura Figueiredo – Digamos que a partir da quinta série as aulas de artes plásticas com dois ótimos professores e exposições no colégio despertaram meu interesse. Além de pintar e desenhar, adorava colecionar aqueles calendários com pinturas, usava o papelão que vinha junto a barra de chocolate como tela, enfim a paixão pela pintura e associada à reutilização de materiais já vieram desde cedo. Os quadros na nossa casa também sempre tiveram um papel importante, muitos deles de pintura acadêmica, mas minha admiração era voltada principalmente para os abstratos. Esses últimos não costumava ver na casa das pessoas. Eles me faziam pensar muito, era uma viagem ao desconhecido. O que ele pensava quando pintou aquela obra? Alguns amigos perguntavam aos meus pais se éramos nós, filhos, que havíamos feito aqueles rabisquinhos, aquelas manchas. Eram quadros do artista Manabu Mabe que me fizeram conviver e crescer com o abstrato naturalmente.
Em foco – Qual é a sua formação? Quais são as suas principais referências teóricas e práticas no campo das artes plásticas?
Laura Figueiredo – Tranquei após dois anos meu curso de Geografia na PUC e fiz minha primeira viagem para a Alemanha. Após um ano retornei e resolvi trabalhar. Em 1991 voltei para a Alemanha e em 2001 queria muito pintar. Mesmo com os filhos ainda pequenos resolvi procurar um curso de pintura próximo, o de aquarela. Em 2008 quis aprender outras técnicas, achava que não era ainda a aquarela. Iniciei um curso durante um ano onde pude ter história da arte, aprender varias técnicas como gravura ponta seca, água-tinta, escultura, desenho, papel-maché, pintura acrílica, tornando-se esta ultima sim a minha paixão. Desde então participei continuamente em cursos/workshops de três artistas da região Reno-Neckar que foram fundamentais na minha formação da seguinte forma: Wolfgang Beck – a minha liberdade de expressão; Ingrid Westermann – minha escolha por um caminho entre abstração e figuração; e, Gunda Kupfer – na minha aproximação aos grandes formatos e ao universo da cor e particularmente o aprendizado de xilogravura – técnica da matriz perdida.
Em foco – O que é ser uma artista plástica? Quais são as características do seu fazer artístico?
Laura Figueiredo – É me expressar através da minha pintura, o meu olhar, minhas sensações… ser realmente livre, não estando preocupada em agradar ou me ajustar a nada. As etapas do meu fazer artístico se iniciam a partir do meu entorno. Fotografo muito para registrar tudo o que possa me inspirar. Também existem temas que sugerem desenvolvimento de projetos. Com frequência um tema dá origem a séries podendo ser em diferentes técnicas como por exemplo na pintura acrílica, colagem, e xilogravura.
Em foco – Como você conceitua a arte?
Laura Figueiredo – No século 21 definir um único conceito de arte é praticamente impossível. Vejo a arte como expressão e imaginação de cada um sem que haja limitação de parâmetros. Matisse escreveu para Bonnard um cartão postal “Viva a pintura!”, meu lema é: Viva a liberdade na pintura!! Há espaço para o belo, o chocante, o bruto, inovador, questionador… enfim livre.
Em foco – Você reside na Alemanha. Como está estruturado o mercado para o artista plástico neste país europeu?
Laura Figueiredo – O mercado na Alemanha para artista plástico, principalmente para os que não vêm de formação universitária, é dificílimo. Para tentar conseguir ter acesso a galerias/exposições é preciso pertencer a uma associação de artistas onde se promova a conexão no mundo da arte e a rede de apoio mútuo.

Em foco – Quais foram as suas principais exposições?
Laura Figueiredo – Para mim a principal exposição foi participar numa Mostra em Paris em 2022 na qual pela primeira vez me confrontei com um público fora das minhas origens culturais: Brasil e Alemanha. A importância dela foi que, por causa dela, tomei coragem aos 60 anos de começar a expor minha arte nas redes sociais, ou seja, para todos. 8. Como você retrata o nacional brasileiro em sua obra? O nacional brasileiro está intrínseco em minha obra, pois eu o carrego comigo. Seja na temática, como nas cores. Minha série Kakao e dos jardins exemplificam a minha saudade do Brasil. A segunda metade da minha vida se passa na Alemanha. Aqui, nela, com seus tons de cinza que são importantíssimos pra mim, e que também se refletem na minha obra, como contraste ou às vezes como equilíbrio. São meus dois mundos.
Em foco – Qual é o artista plástico que você mais admira, tanto a nível nacional, quanto a
internacional?
Laura Figueiredo – Existem tantos, mas os do século XX e seus movimentos são minha referência pela liberdade de expressão. Dos grandes nomes, Matisse é o que me toca de forma muito singular porque naquelas pinturas “simples”, nos faz nos sentir ali, ele me transporta sem exageros. Bonnard com seu universo das cores. Nacionais também são tantos, mas sou fã de Burle Marx, suas obras e seu paisagismo me tocam profundamente, são pra mim retratos do Brasil que ficaram na minha memória, cores e formas. Não poderia também deixar de citar o imigrante Manabu Mabe, por ter sido uma fonte de inspiração.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os jovens artistas que estão iniciando a sua carreira.
Laura Figueiredo – Expor mais no Brasil, iniciando projetos para 2024 no Rio de Janeiro e em outros países da Europa como na Finlândia. Aqui na Alemanha também existem projetos individuais e coletivos, além dos que acontecem com a Associação de Artistas GEDOK-Heidelberg da qual faço parte. Minha mensagem: nunca é tarde para começar, talvez mais difícil, mas não desistam.
Foto: Arquivo pessoal/Divulgação