Memória é seleção. Tem fatos que queremos lembrar. Mas tem aqueles que queremos apagar. O recordar e o esquecer são duas faces da mesma moeda desse ato seletivo.
Nena Inoue quer saber a sua origem. Então, num texto que transmite emoção e afeto, ela sobe ao palco para reconstruir as suas origens familiares. Quem eu sou? De onde vim? Quais são os meus laços sanguíneos? Quem são aqueles que testemunharam o meu nascimento? São essas perguntas que a atriz busca responder no monólogo em tela.
A sua memória afetiva e familiar Nena não quer esquecer. Quer manter viva! Quer perpetuar!
Para realizar esse objetivo, a atriz tem o auxílio do ator Pedro Inoue, que também é seu filho, e fica sentado numa mesa projetando imagens no telão, e em alguns momentos participa da encenação. No telão são exibidas imagens de fotografias, certidão de nascimento, certificados, entre outros materiais imagéticos, “fontes” que a levará ao conhecimento dos seus “anteriores”.
Nena tem o conhecimento da sua origem asiática, de vertente japonesa, do lado paterno. Mas ela quer saber se há um componente indígena em seu sangue. E é isso que a inquieta. Então, realiza uma incessante investigação para saber quais foram as mulheres anteriores a sua geração, mas que foram apagadas, esquecidas, e agora ela quer relembrá-las. Como a sua avó materna, Maria Candida, de quem herdou o hábito de deixar a panela de arroz queimar levemente, de propósito, só para raspar a casquinha.
O texto, de autoria de Henrique Fontes, é narrado em primeira pessoa, pela própria atriz. Mas, ao longo da apresentação, vão surgindo as vozes daqueles indivíduos que integram os seus laços geracionais. Eles não podem ser esquecidos, pois integram a sua memória afetiva e familiar, sua origem asiática e latino-americana, com uma pequena porcentagem indígena.
Nena tem uma boa atuação. Consegue ter uma boa comunicação com o público. Narra o texto com emoção e lirismo. Domina bem o palco.
O diretor Henrique Fontes deixa a atriz a vontade no palco. Não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação da atriz.
O figurino da atriz é simples e adequado, bem como o cenário composto por caixotes, uma mesa e papel picado espalhado pelo chão. Ambos confeccionados por Carila Matzenbacher.
A iluminação ajuda a atriz a realizar a sua interpretação.
A busca pelo nosso passado, pelos nossos ancestrais, é um esforço sempre válido e louvável. É um direito que nos pertence, e nenhum acesso pode nos ser negado.
Muito bom!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.