O musical tem como objetivo central realizar uma celebração da vida e obra do cantor, compositor, ator, dançarino e percussionista Marku Ribas.
O musical é biográfico, poético, valoriza a família, resgata as origens indígenas e negras do personagem, canta a ancestralidade africana, mescla de forma correta dramaturgia e musicalidade, é uma potente homenagem ao artista Marku, indivíduo preto da música brasileira, figura da resistência cultural, que teve sua trajetória marcada por atividades no Brasil e no plano internacional.
A dramaturgia de Alan da Rosa e Marku Ribas, numa linguagem acessível e de fácil compreensão, apresenta a biografia do artista, do nascimento até a sua morte, de forma linear e cronológica, embora não deixe de ressaltar a rebeldia e a resistência da sua trajetória. Esta é apresentada por um tom multifacetado, destacando sua atuação como cantor, ator, compositor, com extrema versatilidade no tocar do tambor e do violão, com Influencias americanas, africanas, latinas, e europeia. Também destaca sua experiencia internacional na França, Martinica, e nos EUA, o que lhe possibilitou acumular rios de experiencias.

A dramaturgia não silenciou e denunciou que, durante o período do chamado golpe civil-militar, Marku foi perseguido, teve músicas censuradas, e foi preso. Um momento sublime do espetáculo se dá quando a atriz Lira Ribas interpreta Canto Certo, canção censurada em agosto de 1968. Emocionante interpretação!
Sublinha também que foi no exílio, em Paris, que Marku estabeleceu contatos importantes com povos africanos, sobretudo angolanos e nigerianos, referencia que se fará presente em toda a sua carreira musical cantando os legados da ancestralidade. Essa relação amistosa com os povos africanos se evidenciou quando foi o único artista brasileiro convidado a participar das festividades da independência da Namíbia.
Outro momento importante da carreira se deu quando gravou um clipping para Mick Jagger.
O texto menciona as vitórias, os êxitos, mas também momentos tensos, como por exemplo, quando Marku rompeu com gravadoras, ficou sem trabalho, e teve que deixar o país. Na ocasião foi aos EUA realizar shows, mas nao recebeu o cache. Momento difícil!
O texto é complementado pelas canções protagonizadas em vida por Marku, bem como por projeções de fotografias numa tela, e por imagens captadas ao vivo. Uma autobiografia redigida em vida pelo próprio Marku (daí o fato dele ser também o autor da dramaturgia), e as memórias dos familiares auxiliaram a construção da narrativa da dramaturgia.
A formação da família foi a maior herança legada por Marku. Ele se casou com Fatão Ribas, tendo com a mesma duas filhas: Julia Ribas e Lira Ribas. E elas se fazem presentes de forma integral na peça, atuando, interpretando, cantando e dançando. É um espetáculo da família para a família, que quer manter viva a memória de Marku. E elas se apresentam de forma notável, deixando transparecer uma forte carga emocional!
Mario Broder interpreta Marku. Ele também tem uma atuação perfeita. Domina o texto e o palco. Interpreta, canta e dança de forma correta. E se movimenta intensamente. Se comunica bem com o público. Associa interpretação e emoção em sua atuação.

O músico nigeriano Ìdòwú Akínrúlí completa o elenco de forma correta.
A direção é de Ricardo Alves Jr. e Lira Ribas que realizaram as marcações corretas e imprimiram uma intensa movimentação aos atores em cena. Eles interpretam, cantam, e dançam, tudo de forma dinâmica, dando toda uma intensidade ao espetáculo.
Os figurinos criados por Luis Claudio Silva são simples, adequados, e facilitam a movimentação dos atores pelo palco. Ganham destaque os de Julia Ribas e Lira Ribas com imensas tiras que apresentam um intenso balançar quando as atrizes se movimentam.
A cenografia criada para o espetáculo é adequada, funcional, e preenche todos os espaços do palco. Visualizamos uma tela de projeção, no centro-fundo. Uma mesa, do lado direito, Instrumentos musicais, e microfones. Ao longo da apresentação, a mesa é transferida de lugar, e no seu lugar é montado um jardim cenográfico, espaço de deleite de Marku no fim de sua vida.
A iluminação criada por Marina Arthuzzi, Tainá Rocha e Yasmin Pedreiradac é bonita, serve aos propósitos do musical, e realça a interpretação dos atores em suas diversas cenas.
Júlia Ribas e Marcelo Dai são os responsáveis pela direção musical do espetáculo, selecionando canções primorosas, melodiosas, e que deixam transparecer o espírito de Marku, de cantar a diversidade de vários ritmos.
Marku Musical é um espetáculo que realiza uma caprichada homenagem ao artista Marku Ribas; apresenta um elenco entrosado e em sintonia; e uma dramaturgia construída em farto material documental, e entrelaçada com a musicalidade do artista mineiro.
Excelente produção teatral!