Roberta Stamato trocou o Rio por Milão, na Itália, e o mundo fashion pelo da fotografia de arte depois de cursar fotografia e visual design e se tornar mestra pela Nuova Accademia Di Belle Arti (NABA). Seu trabalho como fotógrafa acabou tomando uma direção bem diferente do caminho na moda, criando arte baseada em fotografia para fins de experimentação e questionamento. Sua investigação anda de mãos dadas com a ecologia e a fronteira entre o que é eterno e o que muda. Ela usa a fotografia para refletir sobre a relação entre durabilidade e desaparecimento. E isso é o que tem chamado a atenção de curadores na Europa e no Brasil.
Depois de nove anos dedicados à fotografia e um mestrado intenso com muito conteúdo, ela resolveu compartilhar seu conhecimento em um curso on-line, “O que você quer ser quando crescer?”, que ela ministra, para sete alunos do Brasil e sete de Portugal, entre fevereiro e abril. “Esse workshop é um convite ao resgate dos desejos mais genuínos por meio da fotografia. Falaremos um pouco sobre a história da fotografia e o panorama da fotografia contemporânea no âmbito das artes e como trabalhar com conceito”, conta. Serão cinco aulas de três horas e um encontro individual para leitura de portfólio ou projeto (30 a 45 min). Os participantes serão convidados a aprofundar sua pesquisa pessoal e a desenvolver um projeto com base nos exercícios propostos. Uma das vagas é direcionada a bolsista, e os interessados devem enviar carta de motivação, origem, endereço e até dez fotos, até o dia 15 de fevereiro, para robertastamatto@gmail.com.
Entre os trabalhos de arte, estão “Ecosex in The Other Way Around“, em andamento, falando sobre a orientação sexual de pessoas que sentem atração pela natureza. “Para os ecosexuais, o prazer e a intimidade estão relacionados ao envolvimento ativo e consciente com o meio ambiente”, explica. As primeiras fotografias foram enterradas junto a sementes e mudas de plantas e, em pouco tempo, transformaram-se em terra, decompondo-se quase que totalmente.
Outras séries são “Brazilian Obsession – Last Game“, com fotos feitas jogo de eliminação do Brasil na Copa do Qatar (2022) e “Genetic Memory“, em andamento, na qual ela busca suas origens, começando pelo lado italiano, aproveitando sua estada no país. Na série, ela usa o incrível organismo unicelular Physarum Polycephalum, também conhecido como Blob (referência ao filme “Blob, a bolha assassina”, de 1988), que, apesar de não possuir um cérebro, transmite conhecimento, celularmente, para outros indivíduos da mesma espécie.
ECOSEX IN THE OTHER WAY AROUND – ROBERTA STAMATO
Texto curatorial de Vittoria Tolentinati, curadora Independente
Verona, Itália
Em um momento histórico crítico como o que vivemos, no qual a natureza está sujeita a demandas humanas cada vez mais extremas e destrutivas, o trabalho de Roberta Stamato representa um verdadeiro alerta para que se dê um passo atrás, para que se retorne às origens desse vínculo fortemente intrínseco entre o homem e a natureza. Não é coincidência que obras desse tipo sejam concebidas em contextos ambientalmente delicados; pense na Land Art, que se originou nos Estados Unidos na década de 1960 em resposta ao boom econômico da década anterior, ou na Arte Povera na Itália e, em particular, na figura de Giuseppe Penone. A arte, nesse sentido, sempre foi e sempre será o meio principal e fundamental para transmitir uma mensagem de alarme.
“Ecosex in The Other Way Around” quer representar um hino à liberdade, a liberdade do mundo natural e daqueles que decidem adotá-la totalmente em seu estilo de vida. Sua missão é respeitar a natureza, dar a ela o espaço e o tempo necessários para crescer e criar raízes, apesar da onipresente contaminação humana. Ela também quer dar voz à natureza, que foi silenciada por muito tempo, graças aos mecanismos sonoros que transformaram o projeto em uma verdadeira arte sinestésica.
A visão, o tato, o olfato e a audição estão todos envolvidos aqui, e Roberta Stamato, assim como a figura do alquimista, torna-se o braço direito da Mãe Natureza, apoiando-a na luta para reivindicar seu próprio espaço.
A criação de uma obra desse calibre está enraizada no conceito kantiano de sublimação a ser atribuído a uma natureza infinita e poderosa que supera o homem. É precisamente em um contexto tão alarmante que figuras como Roberta Stamato oferecem um pouco de esperança, pois lançam luz sobre questões que muitas vezes são negligenciadas, principalmente a pergunta “e se a natureza não quisesse isso? “Ecosex in The Other Way Around” é a resposta, é o que finalmente permite que ela recupere a dignidade e a superioridade que merece.
O trabalho da artista também exerce o maior respeito pelo que deve ser considerado a prerrogativa do mundo natural: evolução contínua, mudança contínua. Acompanhando o curso (e a decadência) das coisas, “Ecosex” é pura arte progressiva na qual a vida e a morte, o esplendor e a decadência coexistem em perfeita harmonia. É uma dança erótica entre o homem e a planta, ambos natureza quando desnudados e, portanto, despojados de qualquer enfeite.
A arte de Roberta Stamato frequentemente envolve a mistura de imagens e plantas, fungos, organismos unicelulares, etc. Isso porque, na concepção da artista, o mundo em que vale a pena viver é aquele em que a natureza desempenha um papel fundamental. Talvez, para ter esperança em um futuro melhor e duradouro, todos nós devêssemos ser um pouco como ela e dar alguns passos para trás, cada um com seus próprios meios. Talvez isso finalmente faça a diferença.
Saiba mais sobre o trabalho de Roberta Stamato:
https://www.robertastamato.com/