No Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, refletir sobre a importância da arte na promoção de debates fundamentais é mais urgente do que nunca. A arte, em suas múltiplas linguagens, tem o poder de informar, educar e transformar sociedades, funcionando como um espelho que revela realidades invisibilizadas e como um farol que aponta para um futuro mais justo e igualitário. No Brasil, um país marcado por profundas desigualdades raciais, espetáculos e programas que abordem a temática negra são essenciais para valorizar a ancestralidade e combater o racismo estrutural.
Um exemplo potente dessa força criativa é o programa “Falas Negras”, da TV Globo, que será exibido na data simbólica. Criado por Clayton Nascimento e Antonia Prado, o especial propõe uma fusão de dramaturgia e experimento social, abordando uma questão alarmante: o uso do reconhecimento fotográfico de suspeitos no Brasil. A prática, que muitas vezes recai sobre pessoas negras inocentes, tem contribuído para índices preocupantes de encarceramento injusto.

No programa, um jovem preto é acusado de um crime que não cometeu, baseado apenas em uma foto retirada de um “catálogo de suspeitos” – prática comum em muitas delegacias. A narrativa se desdobra em um julgamento fictício, provocando uma reflexão coletiva sobre as falhas de um sistema que não só criminaliza a pobreza, mas também perpetua o racismo institucional. Sob a direção artística de Antonia Prado, o especial traz Clayton Nascimento à frente, conduzindo o público por essa experiência provocadora e necessária.
A arte de Clayton Nascimento: o teatro como documento vivo
Além de seu trabalho em “Falas Negras”, Clayton Nascimento é um expoente do teatro contemporâneo brasileiro. Seu monólogo “Macacos”, vencedor do Prêmio Shell e do troféus da APCA e APTR, é uma aula sobre história, resistência e ancestralidade. O espetáculo nasceu de uma experiência pessoal do ator, enquanto estudante da Escola de Arte Dramática da USP, e transformou-se em uma obra de relevância nacional.
“Macacos” é um relato histórico e visceral, que revisita episódios marcantes da formação do Brasil sob a ótica de um homem negro. Para além das atrocidades da escravidão, o espetáculo fala de casos recentes de violência policial, como a morte do menino Eduardo no Complexo do Alemão, o monólogo escancara as dores e as lutas da população preta ao longo de anos. O texto, publicado pela editora Cobogó, hoje integra o material didático das escolas públicas de São Paulo, um marco que reafirma o poder da arte em educar novas gerações.

A Consciência Negra e o compromisso coletivo
Ao promover iniciativas como “Falas Negras” e destacar espetáculos como “Macacos”, a sociedade dá passos importantes rumo à equidade racial. Contudo, isso é apenas o começo. A transformação exige engajamento contínuo, valorização das narrativas negras e um compromisso inabalável com a construção de uma sociedade antirracista.

Que este Dia da Consciência Negra seja um chamado para que mais vozes sejam ouvidas, mais histórias sejam contadas e mais ações concretas sejam realizadas. A arte, com sua capacidade de emocionar e provocar, seguirá sendo uma aliada indispensável nessa jornada de reconhecimento, reparação e resistência.
Acompanhe o ator e dramaturgo Clayton Nascimento: oclaynascimento
Espetáculo “Macacos”: @macacosespetaculo
Texto: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
Imagens: Divulgação