O texto é uma excelente adaptação de uma produção literária para o teatro.
O texto é poético, emocionante, denso, crítico, arrebatador, é um grito contra dois problemas centrais da sociedade brasileira: o analfabetismo, e a resistência do patriarcado e a sua violência contra os homossexuais. O texto prega o amor, o carinho, a aceitação de duas pessoas que se amam, mas têm cerceado o direito de expressar sentimentos e desejos. Sofrem preconceito, perseguição, e violência da própria família e dos amigos que os cercam.
É um texto humano, que clama pelo direito dos homossexuais de exercerem a sua liberdade, de criar novos imaginários, novas histórias, quebrar padrões sociais opressores, que trazem medo e insegurança.


A dramaturgia apresenta a história de Raimundo Galdêncio de Freitas, um homem de 71 (setenta e um) anos, que nunca aprendeu a ler ou a escrever porque, desde novo, teve que trabalhar com o pai na roça.
Apesar de ter deixado a vida no sertão para trás, o homem ainda guarda uma carta, escrita há mais de cinquenta anos, por Cícero, com quem viveu um romance proibido. É justamente o recado, nunca lido, que motiva o protagonista a aprender a ler para finalmente descobrir o que a antiga paixão queria lhe dizer.
O elenco é composto por seis integrantes: Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton, Valéria Barcellos e Verônica Reis. Eles atuam se alternando na interpretação de todos os papéis. E procedem de forma notável. Ademais, colocam a emoção, transmitem sentimento. Sensibilizam!

A direção é de Daniel Herz que imprimiu uma intensa movimentação aos atores em cena. Eles interpretam, cantam, dançam, se tocam, se esfregam, se roçam, tudo de forma dinâmica, dando toda uma intensidade ao espetáculo.
Os desenhos coreográficos de Édio Nunes são bonitos e harmonizados.
Figurinos e cenografia são assinados pelo talentoso Wanderley Gomes.
Os figurinos são de bom gosto e adequados. Os atores vestem macacões em jeans manchados, e repletos de remendos e decorações. Durante a encenação, por cima dos macacões, eles vestem saias, camisas, jaquetas, entre outras, vestimentas.
A cenografia é bonita e criativa. Ela é constituída pela lua e o fundo representando o céu, cuja cor varia entre o lilás e o roxo. Outros objetos se fazem presentes como cadeiras, cruz, pano branco cenográfico representando um rio, mala, entre outros.
A iluminação criada por Aurélio de Simoni é bonita, adequada, e realça as interpretações dos personagens em suas diversas cenas.
A trilha sonora de Leandro Castilho é bem nordestina, gostosa de se ouvir.
A Palavra que Resta é um espetáculo que transforma um texto literário numa poesia teatral; apresenta um elenco notável, que associa interpretação e emoção; e cenografia e figurinos de bom gosto e soluções criativas.
Excelente e Imperdível produção cênica!