Carioca, nascida em Ipanema, na rua Barão da Torre, que ainda presenciava as praias desertas, os terrenos baldios, a sorveteria Morais, o ponto final do bucólico Bonde 13, que integrava o espaço urbano do Rio, localizado no Bar 20. O destino de boemia carioca eram o Bar Jangadeiros, Zepelim, o Bar Lagoa, entre outros, pontuados pelo inicio da bossa nova e por intensas discussões culturais e políticas.
Vanda tem um espírito inquieto, solar, vitalidade diurna e noturna, observadora atenta dos acontecimentos, amante fiel do Rio de Janeiro, curiosa, dinâmica, envolvida com diversos itens ao mesmo tempo. Gosta de ser pautada pelos improvisos, de colocar em evidência o exercício do olhar, interrogar a produção da cultura, formada em duas universidades: Ciências Políticas e Sociais (PUC-RIO) e História da Arte (UERJ), com pós-graduação na PUC-RIO.

Coordenou várias pesquisas sobre arte brasileira, realizou diversas curadorias de artes plásticas e autora de ensaios sobre arte contemporânea. O passado é sempre uma matéria construída, uma experiência que se alterna a todo instante, como se fosse o dia de todas as coisas. Um amigo seu afirma, que ela é pluriapta, porque desenvolve e realiza diversas atividades ao mesmo tempo. Dizem que existe algum encanto em ficar de fora, mas a convulsão do mundo das ideias é necessária. Como a cadeira de Van Gogh, como relembra o seu amigo Rodrigo Neves, que guarda a fadiga de todos que descansaram nela comenta klabin. Atualmente, é consultora para diversos projetos culturais e trabalha como curadora independente para galerias e instituições de arte.
A pontuação de elementos como livros, exposições e atualmente as plataformas digitais, pavimentam grande parte do seu território cotidiano, onde procura manter atualizada a reflexão artística no país. Gosta de trabalhar com artistas essenciais para a representação da cultura brasileira, que permanecem hoje como uma forte referência para a arte contemporânea ou que evidenciem um diálogo crítico com outras vertentes da arte. A produção artística atual traz como característica, a diversidade, seja através das pinturas, esculturas, instalações, assemblages, objetos, fotografias, mídias eletrônicas, vídeos ou trabalhos responsivos ao espaço e a presença decisiva de objetos. Frente ao contemporâneo, o que observam são diferenças e singularidades. Gosta imensamente da leitura dos livros sobre arte, sobretudo A Forma Difícil e El Greco: O Mundo Turvo, de Rodrigo Naves, que trazem uma impressionante atualidade, delinear a trajetória do pensamento artístico, compreender o processo de constituição das ideias, esse diálogo conduz a resultados surpreendentes.
Essa caligrafia visual do mundo sempre traz à tona uma constelação de informações e referências dentro do qual ela se movimenta. O seu trabalho é entender o processo artístico. Ampliar, fortalecer, intensificar e estabelecer elos mais sólidos entre os artistas, o meio de arte e o público em geral, é o que tem norteado as minhas ações. O convívio com os artistas, críticos, historiadores, professores, colecionadores e todo o meio de arte, além de todos possuírem uma boa formação cultural, filosófica e literária, proporcionam um vínculo maior com outras experimentações e exercitam o nosso olhar para o fazer artístico, destaca a curadora.

Foi casada com Paulo, que possuía nos anos 1970/80, a Galeria Paulo Klabin, no Shopping da Gávea, RJ, um dos marcos no meio artístico carioca, quando ali se realizaram exposições com itinerários estéticos e repertórios diferentes, como Waltercio Caldas, Tunga, Iole de Freitas, Amílcar de Castro, Franz Weissmann, Sergio Camargo, Iberê Camargo, Luiz Áquila, entre muitos outros. Foi responsável pela linha conceitual da galeria e já estava vinculada à coordenação do curso de pós-graduação em História da Arte, na PUC-Rio, onde ficou trabalhando durante quinze anos, junto com o coordenador geral Carlos Zilio, recém chegado da França. O convívio em sua residência no Largo do Boticário / RJ, local de sua moradia por vinte anos, criou um acesso e um interlocução estreita com o circuito de arte. Fala de um tempo que traz uma matéria expressiva da memória, são momentos luminosos do convívio com a arte e cultura, quando o mercado de arte era ainda incipiente.
Na área gastronômica Vanda se diz ser muito flexível e faz parte de duas confrarias, que trazem novos saberes/sabores para a história da gastronomia carioca. Na história da alimentação, quando a cozinha passou a ser um espaço onde a natureza e a cultura se encontram, encontramos ali fortes elementos do território da estética, área que tenho profundo interesse. Além de Brillat-Savarin, Proust, Escoffier, Carême, entre muitos outros que transformaram o pensar e o fazer gastronômico em arte, temos na contemporaneidade da gastronomia, uma verdadeira tessitura artística, presente na cor, textura, gesto, material ou sobreposições, através de diferentes tratamentos dados à matéria prima e no resultado final de um cardápio. A gastronomia e a arte por vezes flutuam na mesma atmosfera cromática, impulsionadas por variações tonais, composições com nuances geométricas e versatilidades gestuais alimentadas por procedimentos artísticos. São as experiências da arte presentes no comando gastronômico, nos saberes da gastronomia, finaliza Klabin.
Cultivou um enorme interesse pela fotografia, sem nenhuma pretensão artística, mas pelo ato de registrar, documentar imagens que trazem a memória de episódios atrás de si ou pela alta voltagem cromática que a natureza nos proporciona a todo instante, uma espécie de luminosidade flutuante. Com o passar dos anos, essas fotos passaram a ter uma importância pelo condensamento de instantes significativos, pela gramática da pintura ali presente ou pelo tratamento dado ao cotidiano. Instantâneos, fotos de contramão, não planejadas. O pensar fotográfico está permeado pelo pensar pictórico. O meu norte é a frase do Man Ray: I do not photograph nature, I photograph my fantasy, cita Vanda klabin.
Realizou diversas curadorias de arte e inaugurou em dezembro de 2022, a exposição Carlos Zilio: Pinturas, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que comemora a longa trajetória do artista e aponta para uma significativa reflexão sobre as contradições e dilemas da pintura contemporânea.
A arte traz muitas respostas às nossas indagações e por essa razão, a arte nos faz sentir melhores do que somos. É o lugar de materializar uma experiência da realidade. Se focar o seu pensamento na questão da arte, que é um processo de conhecimento, sempre será um convite ao debate e dar margem a discussões, A originalidade hoje em dia é uma exigência. É uma membrana que se interpõe entre nós e o mundo, não tem um significado permanente. Falta conhecer, pois é algo que estamos sempre buscando, terminando este belo texto da historiadora e curadora de artes Vanda klabin.