Em foco – Olá Silvia! Você é gaúcha. Em que cidade você nasceu? Sua família? Infância? Primeiros estudos?
Silvia Pfeiffer – Eu nasci em Porto Alegre, em 1958. Eu morei lá até os oito anos. Meu pai era engenheiro civil. E, ele foi recebendo propostas de trabalho e nós fomos mudando. Viemos para o Rio de Janeiro em 1966, quando eu estava prestes a completar oito anos. Moramos aqui no Rio em 1966 e 1967. Lá em Porto Alegre eu estudei em escolas públicas. Aqui no Rio, eu também estudei em escolas públicas, no Leme, onde eu residia. Em 1968, eu fui para Brasília, local onde não tinha nada, só terras vermelhas. Estudei em escolas públicas e particulares. Troquei muito de colégio. Lá eu comecei a praticar volei e fui muito feliz. Também tive mais vida social, comecei a ingressar na adolescência, um pouco mais independência. Em 1976, retornei para Porto Alegre, com quase dezesseis anos, onde morei por dois anos. Dois anos e dois colégios. A seguir, vim para o Rio de Janeiro cursar o último ano de escola. Cheguei aqui em 1976. Estudei no Santo Inácio. Depois, entrei para a faculdade. E, foi aqui que eu me tornei modelo.
Em foco – Quando você começou a se interessar pela carreira de modelo? Você fez algum curso de modelo e manequim?
Silvia Pfeiffer – Eu passei para a faculdade. Comecei a estudar Direito no segundo semestre de 1977. E, em paralelo, comecei a frequentar uns cursos de secretária executiva, porque queria começar a trabalhar. Neste período, uma amiga me disse que ia fazer um curso de modelo. Então, eu entrei para fazer curso de Direito. Depois, eu até passei para a faculdade de comunicação. Essa amiga que me disse que estava realizando o curso de modelo, ficou hospedada na minha residência. Eu me achava meio desengonçada, grandalhona. Eu fui fazer o curso. E uma professora percebeu que eu pegava tudo muito rápido. Que eu tenho muita facilidade corporal para pegar movimentos. Então, ela me chamou para participar de uma seleção. Fui selecionada. Fiz o desfile. Foi um desfile grande, de uma marca grande. Nós fizemos RJ, SP, e BH. Uma coisa foi puxando a outra. Ela me chamou para outro desfile. Pessoas me viram no outro desfile, e me chamaram.para fazer foto. E desencadeou uma coisa atrás da outra.
Em foco – Como foi a sua carreira de modelo? Quais as principais passarelas que você desfilou?
Silvia Pfeiffer – A minha carreira de modelo foi muito feliz. Eu comecei a aceitar belos convites logo de início. Entrei para o top das maiores modelos. RJ, SP, trabalhei muito nesse eixo. Depois, eu fui para Paris. A primeira vez que eu fui para Paris o meu book não estava muito bom. Fui com o book debaixo do braço. Fui para uma agência que não trabalhou muito bem comigo. Não deu muito certo. Eu estava muito focada em viajar, relaxar. E, na segunda vez, eu retornei muito bem. Peguei vários desfiles europeus. Paris e Milão. Em Paris, eu peguei quatorze desfiles. Desfilei para Giorgi, Channel, entre outras grifes famosas. Em Milão, eu trabalhei muito com Armani. Eu fazia tudo para o Armani. Eu fazia as provas de roupa para os desfiles. Eu fazia o press release dele. E, fazia os desfiles. Eu só não fiz foto de campanha. Eu trabalhava muito. Trabalhei para ele, para a Jane, uma grife italiana, trabalhei para o Versacce. Fiz ere uno, que era uma grife que o Armani tinha, que era uma outra linha de roupas. Trabalhei muito. Foram várias grifes. No ano de 1985, minha filha nasceu. Eu comecei a ir por períodos mais curtos, porque antes eu ficava dois meses. Quando a minha filha nasceu, eu passei a ir por vinte dias. Eu ia já sabendo que desfiles ia fazer. E, eventualmente, eu pegava alguns outros quando já estava lá. Em 1989, foi a minha última ida para a Europa.
Em foco – Você integra uma geração de modelos brasileiras, como Luiza Brunet, Monique Evans, Vanessa de Oliveira, entre outras, que ficaram marcadas por serem mulheres de finesse e politesse. Como você observa as modelos da sua geração em relação às de hoje?
Silvia Pfeiffer – Eu não tenho convívio com as modelos. Assim como tinham modelos com finesse, eu acho que hoje também tem modelos assim. E, na minha época, também tinham modelos sem finesse. Eu não sei se eu estou sendo ingênua. Mas, eu não vejo a coisa dessa maneira não. Você sempre tem de tudo em todas as áreas, em todas as épocas.
Em foco – Por que você migrou da carreira de modelo para a de atriz?
Silvia Pfeiffer – Migração é uma palavra bem comum em carreiras com pouca durabilidade. Esporte, por exemplo. A carreira de modelo também. Eu me tornei atriz no ano de 1990. Em 1988, eu fui contactada pela Graça Mota, que é irmã do Nelson Mota, e produtora de elenco, muito competente, e ela estava fazendo um casting para um elenco de um filme. Testes. E, ela me chamou. Eu fiz. Na realidade, antes de 1988, eu já pensava: quando eu deixar de ser modelo o que eu irei fazer? Quando veio o convite, eu não recusei. Vou experimentar. Fiz o teste, e passei. Desde que eu fosse preparada por uma pessoa. E eu fui preparada pela Bia Lessa, diretora de teatro, por quase dois meses. Acabei não fazendo o filme. A evolução toda do trabalho ficou registrada em fita. Naauela época era beta max, VHS. Acadei retornando para a carreira de modelo. Peguei alguns trabalhos em New York. Então, ao retornar, a Bia Lessa pegou as fitas e pegou a minha mão. Ela me levou à Rede Globo e me apresentou ao Daniel Filho. E realizei o meu primeiro trabalho.
Em foco – Como se deu a sua formação como atriz? Quais as suas principais referências?
Silvia Pfeiffer – A primeira pessoa que me viu na Globo foi o Daniel Filho. Depois, fui apresentada ao Paulo Ubiratam. Mas ele não me chamou para fazer a minisérie que ele estava fazendo. Acabei sendo chamada pelo Roberto Talma para fazer A Boca do Lixo. Eu tinha como espectadora admiração por atrizes e atores. Sem conhecer o outro lado. Sem ter a noção do que é interpretar como atriz. A minha admiração, minha referência começou a partir do momento que eu comecei a contracenar com pessoas. Porque eu cai de paraquedas. Peguei pessoas brilhantes no primeiro trabalho: Reginaldo Farias, Stênio Garcia, Claudio Correa e Castro. Depois, no Meu Bem, Meu Mal, Lima Duarte, Yoná Magalhães, José Mayer, Marcos Paulo, Fábio Assunção, Lisandra Souto. Muitas pessoas brilhantes. Um elenco maravilhoso. Eu fui observando. Então, essas pessoas foram se tornando as minhas referências. Após eu atuar em Boca do Lixo, eu vi a importância da complexidade do que é ser ator. A minha dificuldade. Fui fazer um curso com o Sérgio Britto. Depois, eu fiz trabalho de voz com a Glorinha Boytemmiler. Depois, eu fiz preparação com uma fonaudióloga, a Marcia Tanuri. O Talma, que foi o meu primeiro diretor, o que ele conseguiu tirar de mim foi mérito dele. Uma pessoa completamente inexperiente fazendo uma minisérie. Eu tive setenta e duas horas para estar em São Paulo, e gravando sem ter tido preparação, tempo para decorar as cenas todas. Mas eu ia decorando, a medida que eu ia gravando. Mas o importante é que deu tudo certo.
Em foco – Isadora Venturini! Esse foi o seu primeiro personagem numa novela da Rede Globo intitulada Meu Bem, Meu Mal. Como foi essa experiência?
Silvia Pfeiffer – As pessoas foram muito acolhedoras. O elenco foi muito acolhedor para comigo. A oportunidade aparece. Eu vou morrendo de medo, mas eu vou. Tem um ditado filosófico que diz que o deus oportunidade só possui cabelos na frente. Não os possui na nuca. Ou seja, a oportunidade se você não agarrar ela na hora em que ela chega, não vai ser depois que ela estiver passando que você irá conseguir. Tem que montar encima dela e ir. Então, eu abracei com muito comprometimento. Eu me comprometo a fazer da melhor forma que eu puder. Com seriedade, pontualidade. Eu acho que isso é importante.
Em foco – No teatro, você interpretou a soprano Maria Callas. Por que você se interessou em interpretá-la? Foi gratificante para você?
Silvia Pfeiffer – Foi uma experiência incrível. Eu estava em casa, quando o Montenegro me ligou perguntando se eu tinha interesse e estaria disponível na data x porque a Marília Pêra estava procurando uma pessoa, e queria saber se eu estava disposta a ouví-la para fazer um trabalho. Respondi: claro! Na mesma hora eu respondi. Ela me ligou. Nós nos falamos. E, imediatamente, eu disse que sim. Quando eu desliguei o telefone, eu falei Silvia Pfeiffer porque você não falou para pensar. Mas eu pensei assim. Se eu disservque vou pensar, podia parecer que eu não queria fazer. Mas eu quero fazer. Só que me deu pânico. Imagina você ser dirigida pela Marília Pêra, fazer Callas, no teatro….Fazia tempo que eu não fazia teatro. Eu tinha feito teatro uma vez. Em 2007 na peça Marido Ideal. Na Callas, quando eu disse sim, até chegar o texto âs minhas mãos, eu já tinha…eu peguei dois, três livros para ler. Comecei a assistir todas as entrevistas dela que estavam na internet, óperas. Me abasteci de Callas. Foi difícil, um grande desafio. Marília maravilhosa, uma tremenda experiência de palco. Eu ainda muito novata. Eu não tinha uma formação teatral. Era eu e Cássio Reis. Ele foi imprescindível na minha realização porwue eu entrei muito em pânico. E ele me acalmava. Foi muito gratificante essa experiência. Marília, o apoio do Cássio, falar sobre a Callas, reestrear no teatro.
![](https://revistavislun.com/wp-content/uploads/2023/11/Screenshot_20231004-191413_Instagram.jpg)
Em foco – Como você avalia a sua carreira de atriz? Se sente realizada e satisfeita?
Silvia Pfeiffer – Eu scho que eu tive uma feliz carreira, e que eu continue tendo, onde todas as oportunidades que surgiram eu fiz corretamente. Algumas eu fiz muito bem. Eu soube abraçar a oportunidade que me veio. Eu só não estou satisfeita porque o tempo que estou ficando sem trabalhar está se tornando maior. Isso dá um frio na barriga. Não estou parada. Espero que venham mais coisas.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os fãs que lhe acompanham.
Silvia Pfeiffer – Eu estou buscando uns projetos, formatando. Eu tenho um programa de poesias numa rádio digital. Chama-se sons e poesia. Todo sábado, às 18 horas. Onde eu coloco minha play list e falo minhas poesias. Estou buscando um texto para teatro. Tenho um projeto de teatro já em edital, com um amigo de SP. Adoraria voltar a fazer televisão.
Para os meus fãs: muito obrigada pelo carinho. Espero poder realizar trabalhos bons que sejam luz. Eu acho que a arte toca em algum lugar. Que eu possa tocá-los em algum lugar, de preferência no coração. Comprometimento. Vivam! A coisa mais importante é viver! Vamos viver!