O casal Cláudio, interpretado por Michel Melamed, e Cláudia, interpretada por Letícia Colin, vivem brigando. Numa noite de sexta-feira chuvosa, após mais uma dessas contendas, Cláudia sai de casa e vai dormir na portaria do edifício onde reside. E, acaba por criar raízes. Passam dias, passam noites. E diferentes situações fazem com que Claudia permaneça na portaria, até, finalmente, chamá-la de lar.
A partir do momento em que a portaria passa a ser o lar do casal, eles passam a interpretar diversos personagens, assumindo distintos papéis. Porque assim é a vida de um casal. Para que a união seja mantida, há que se reinventar sempre, recomeçar, assumir diversos papéis.
A sequência em que os moradores do prédio, interpretados pelos dois atores, saem para trabalhar pela manha é muito bem realizada e engraçada, e os dois têm pouquíssimo tempo para as trocas de roupa. E conseguem realizar!
Os diversos personagens são interpretados de forma bastante jocosa, hilária, divertida, deixando transparecer a excelente capacidade de interpretação dos dois atores. Eles brincam intensamente em cena, se divertem, e divertem a plateia também.
O casal de atores Letícia Colin e Michel Melamed estão perfeitos. Antes de iniciar o espetáculo, já estão no palco se alongando e aquecendo. Porque assim a peça exige. Há um entrosamento perfeito entre os dois. Dominam o texto e o palco plenamente. Realizam interpretações adequadas, e passam o texto com emoção e poesia.

O entrosamento da dupla extrapola o palco. Vem da vida, do dia a dia do casal que eles constituem na vida real. Eles já estão juntos há cerca de oito anos. Então, transportam para o palco público toda essa vida conjugal que levam no âmbito privado. Portanto, há uma química perfeita!
A direção do espetáculo é do próprio Michel Melamed, que procede com técnica, fazendo as marcações perfeitas de si próprio e de Letícia, que canta, dança e interpreta de forma magistral. Mas também com emoção, deixando transparecer o lado sentimental e cômico da vida.
Michel também assina o inteligente texto, de conteúdo denso, e problematizando uma questão contemporânea, que é a manutenção do casamento na complexa sociedade em que vivemos.
O cenário criado por Marieta Spada é adequado e bem resolvido. É a portaria do edifício onde reside o casal em estilo art decó. Há um sofá verde, uma mesa com televisão e aparelho de telefone, e uma cadeira.
Os adereços de José Cohen e Lucila Belcic também são adequados, e seguem a beleza da obra.
Os figurinos criados por Luiza Marcier também são adequados e bem solucionados.
O figurino utilizado pelo casal tem início com uma vestimenta, e a seguir, utilizam outras também. Inicialmente, ele usa uma roupa toda preta, blazer, camisa e calça. E, a atriz utiliza um vestido estampado em branco e preto, lembrando uma zebrinha.
Os vários tipos que residem no edifício vestem distintos figurinos, salientando o do síndico, que é engraçadíssimo.
São 24 (vinte e quatro) cenas por oitenta minutos, mudando o figurino o tempo todo. Haja folego!
A luz é de Adriana Ortiz, adequada, bonita, e ajustada as diversas cenas.
O espetáculo teatral é bem produzido, tem dramaturgia, direção, casal de atores, cenários e figurinos. Tudo é uma beleza!
Excelente produção cultural!