A produção cênica está situada na relação entre teatro e literatura.
Seguindo as palavras da autora do texto e também responsável pela trilha sonora, Rachel Gutiérrez, tudo se passa no paraíso, na “biblioteca das bibliotecas”.
É nesse espaço que acontece a homenagem a quatro expressivas escritoras brasileiras, que por meio das suas produções literárias contribuíram para imaginar e narrar o Brasil.
Ao homenageá-las, a dramaturga está convidando e estimulando o público a realizar a leitura das suas respectivas obras. Afinal, livros servem a instrução, e não como adorno na estante.
As quatro literatas homenageadas, e as respectivas atrizes que as interpretam, são: Carmen da Silva interpretada por Stella Maria Rodrigues; Eneida de Moraes por Isabella Bicalho; Hilda Hilst por Helga Nemetik; e, por fim, Clarice Lispector por Laura Proença. É um encontro fictício e em algum lugar do universo, pois elas não estão mais aqui na órbita terrestre. Mas suas produções estão.
As quatro atrizes estão sintonizadas e ajustadas. Todas se destacam em suas respectivas personagens. Não tem uma que se sobressai mais que a outra. O que atesta que o elenco é integrado por atrizes de excelente nível e com experiencia na arte de representar.
As leituras dos trechos das obras das literatas homenageadas são realizadas pelas atrizes com interpretações primorosas. Não é o ato de ler por si. É o ato de interpretar e teatralizar as partes selecionadas, de forma lírica e emotiva. Cada leitura apresentada é um mergulho no universo riquíssimo dessas mulheres que ajudaram a inserir o Brasil no rol das nações produtoras de obras literária. Nós também produzimos literatura, e de qualidade!
Essas mulheres literatas ao produzir os seus textos também estavam cavando um espaço na sociedade brasileira. Elas queriam falar, participar, trabalhar, expressar seus pensamentos. Eram mulheres de carne e osso, que queriam ser reconhecidas. E elas por meio da literatura conseguiram ganhar prestígio e reconhecimento no âmbito da sociedade brasileira.

A direção artística do espetáculo é de Sérgio Fonta, que não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação de cada uma das quatro atrizes. Ele acredita no potencial do elenco.
Os figurinos criados por Wanderley Gomes são simples, adequados a cada uma das literatas homenageadas, e pertinentes. Bacana a “peruca” da Eneida!
Por sua vez, o cenário criado por Danielly Ramos também segue a mesma linha, constituído por três bancos, e um gabinete ao qual é acoplado uma pequena escada de três degraus onde as atrizes sobem para encenar. No teto estão pendurados o conjunto dos extratos retirados dos livros, lembrando uma biblioteca.
Confesso que os responsáveis pelos cenários e figurinos lembraram da máxima do cenógrafo Fernando Pamplona: “Tem que se tirar da cabeça o que o bolso não dá”.
A iluminação de Cristiano Teodor contribui para realçar a interpretação das atrizes e suas respectivas personagens.
A diretora executiva e proponente do espetáculo é Patrícia Castro, representada pela empresa Arte Cultura LTDA.
Patrícia Castro também é gestora cultural e ministrante do curso Caminho das Pedras: da Arte ao Produto Cultural. Ela irá ministrar dois workshops gratuitos como contrapartida social do projeto. Portanto, são atividades que complementam e estão associadas a festa literária realizada no palco.
Quem tiver interesse de participar dessa “festa da literatura” que venha, porque é uma festa cultural e de saber!
Excelente produção cultural!