Na montagem, dirigida por Menelick de Carvalho, a história se passa na cidade de Mauleon, numa aldeia do país basco francês, no século XVIII, antes da Revolução Francesa.
O camponês Nemorino, pobre e simples, é apaixonado pela bela e adorável Adina. Esta é uma rica proprietária de terras, portanto, pertencente a uma classe social mais abastada em relação a que ele pertencia. Ela é uma mulher letrada, enquanto ele só sabe suspirar.
Adina se mostra difícil para Nemorino, não tem por ele qualquer carinho e afeto. E, o aconselha a proceder como ela: mudar todo o dia de amante.
Um certo dia, o sargento Belcore passa pela região onde fica a aldeia, e visita o povoado. Ao ver Adina se encanta pela mesma, e a pede em casamento.
Constitui-se assim o trio amoroso da história: Nemorino, Adina, e Belcore.
Chega a aldeia, numa bela manhã, o “grande médico, doutor enciclopédico” Dulcamara em seu balão. E apresenta aos aldeões o seu “elixir balsâmico”, que cura todos os males que nos afligem.
Nemorino procura o Doutor Dulcamara e lhe pergunta se ele tem o elixir da “Rainha Isolda”, lembrando a personagem da história de Tristão e Isolda. O charlatão, então, lhe apresenta o suposto elixir do amor, que significa o “poder da alquimia”. Segundo o charlatão, Nemorino se tornaria irresistível a todas as mulheres. Na verdade, a poção era um vinho, que o vigarista vendeu para o atormentado agricultor.
O agricultor obtém o frasco com o líquido e recebe as instruções de Dulcamara de como tomá-lo para conseguir conquistar o amor de Adina. Nemorinotoma a poção do elixir. Contudo, o produto não surte efeito. Ela permanece seca, cruel, pouco amorosa.
Nemorino é paixão, sentimento, afeto, e carinho. Ele é “luz”, verdade, quer conquistar Adina pelo amor. Por sua vez, Dulcamara é um vigarista, fala em nome da ciência para se beneficiar de forma indecorosa. É um charlatão, um ser falso, das “trevas”.
E, para atrapalhar ainda mais, Belcore recebe mensagem do seu oficial superior que teria que ir para outro batalhão. E, apressa Adina a aceitar o seu pedido de casamento, que prontamente acata.
Os preparativos para o casamento estão em pleno andamento. Quando o tabelião chega ao centro da aldeia, Adina diz que quer esperar até a noite.
O fato leva Nemorino ao desespero. Ele ama Adina. E, para conquistá-la, procura o charlatão para comprar mais uma garrafa do elixir. Contudo, não tem dinheiro.
Entristecido, Nemorino encontra o rival Belcore que o aconselha a entrar no exército, onde receberá o soldo imediatamente: venti scudi. Com o dinheiro o aldeão sai para comprar uma segunda garrafa.
Um acontecimento mudaria o rumo da história: o falecimento de um tio de Nemorino, que lhe deixou uma considerável fortuna. O enriquecimento do personagem levou as mulheres a olharem o agricultor de outra forma. Todas passaram a desejá-lo. E, ele atribuiu ao elixir equivocadamente, pois não passava de um simples vinho.
Adina se surpreende com a paixão das mulheres por Nemorino. E Dulcamara lhe confidencia que Nemorino havia vendido sua liberdade em troca de dinheiro, para poder conquistá-la. Ela, então, se solidariza com Nemorino, e compra o contrato de ingresso no exército, para que não saia da aldeia. E, o ato lhe contagia e o enche de esperança.
Adina rejeita de Dulcamara a garrafa contendo o elixir. E, diz que conquistará Nemorino com o seu rostinho, com os seus olhos, seus lábios, suas carícias. Portanto, ela conquistará expressando o seu sentimento, o seu amor pelo agricultor. Um ar romântico irradia da ópera!
Ao deixar extravasar o que sente o seu coração, o seu interior, Adina diz que também o ama. Se casam, e a aldeia celebra a união, produto do poderoso Elixir do Amor.

O elenco de cantores é de primeira.
Aníbal Mancini faz um Nemorino apaixonado, que busca afeto e ser compreendido. Levou consideráveis aplausos na ária Una furtiva lacrima. Em alguns momentos, consideramos que podia ter um timbre de voz mais forte.
Michele Menezes faz uma Adina arredia, cruel, indiferente a Nemorino. A situação só vai se reverter num segundo momento, quando irá buscar a atenção do agricultor e se apaixonar pelo mesmo. Tem uma atuação primorosa, timbre forte, e canto afinado.
Por sua vez, Vinicius Atique faz um Belcore que quer possuir Adina de qualquer forma, e busca afastar Nemorino de perto dela de qualquer forma. Canta e interpreta bem.
E, o vigarista Dulcamara é representado por Savio Sperandio, que faz uma interpretação primorosa, veste um belíssimo figurino, e tem um timbre de voz potente.
E, finalmente, Fernanda Schleder apresenta uma bela Gianetta, feliz e cantante.
Portanto, um ótimo elenco, que canta e interpreta bem a música de Donizette.
Os figurinos criados por Desirée Bastos são criativos, de bom gosto, e foram elaborados seguindo o estilo do contexto histórico em que a ópera é encenada. São muito bonitos os figurinos dos camponeses, e nesse grupo também inserido Adina e Nemorino; os militares, em tons azul e branco, com o sargento Belcore e seu pelotão; e o do charlatão Dulcamara, que remete ao vestuário turco, em tons rosa e verde. Portanto, os figurinos sao criações admiráveis e adequadas.
Os cenários também são uma criação de Desirée Bastos, também bonitos e bem produzidos. Ele é todo pintado em painéis. É a fazenda de Adina, toda repleta de árvores e plantas, e uma ponte sobre o rio. Tem um caráter bucólico. Há também a chegada do balão de Dulcamara. E, na grande festa, há mesas e cadeiras onde sentam os camponeses.
Os cenários não são mirabolantes a la Hollywood. Mas dão conta da proposta, e são de bom gosto.
A regência ficou por conta de Felipe Prazeres, que comanda a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal com firmeza e controle. Em alguns momentos da apresentação, ficamos com a sensação de que o som da música da orquestra estava em tom elevado e abafava a voz dos cantores. Mas nada que prejudicasse o espetáculo!
O coro do Theatro Municipal complementa e enaltece ainda mais a apresentação da ópera.
Elixir do Amor é uma ópera bem produzida, conta com um bom elenco, orquestra e coro afinados, e bonitos figurinos.
Excelente produção de ópera!