Juliana Medella é uma artista de muitas faces. Atriz, bailarina, coreógrafa, diretora de movimento e assistente de direção, ela transita entre as artes cênicas com a naturalidade de quem fez do corpo um laboratório de criação. Com uma trajetória marcada pelo estudo do movimento, sua formação na dança a levou ao teatro, onde construiu uma carreira sólida e versátil. Aos 15 anos, já estava nos palcos profissionalmente, e desde então não parou mais. “Sou feliz em ser múltipla”, diz ela, ao comentar sobre a diversidade de funções que assume nos espetáculos.
Com um olhar aguçado para a cena, Juliana acumulou experiências ao lado de grandes nomes do teatro brasileiro, como Bibi Ferreira, João Falcão e Luiz Fernando Lobo. Seu trabalho como assistente de direção também a aproximou de diferentes visões artísticas, atuando ao lado de diretores como Gustavo Gasparani e Duda Maia. Nos espetáculos que assina como diretora de movimento, Juliana Medella leva seu estudo e experiência de movimentação do corpo de forma brilhante para as produções teatrais.
Foi no teatro de grupo que ela viveu um dos períodos mais intensos de sua trajetória: dez anos na Intrépida Trupe, ícone do circo-teatro carioca. “Você constrói uma intimidade cênica que é muito valiosa para sua própria formação como artista”, reflete, destacando a resiliência e o espírito coletivo necessários para sustentar um trabalho desse porte no Brasil.

Atualmente, Juliana brilha nos palcos ao lado de Othon Bastos na peça “Não me entrego, não!”, onde interpreta a Memória, um papel que surgiu organicamente dentro do processo criativo e não poderia ser vivido por qualquer um. O desafio foi encontrar a medida exata para suas intervenções, respeitando o tempo cênico de Othon e criando uma fusão harmônica e sensível com sua interpretação. O resultado? Uma atuação reconhecida pelo público e pela crítica, coroada com uma indicação ao Prêmio FITA 2024 de melhor atriz coadjuvante. “Othon sempre foi um ator de contracena”, diz, atribuindo ao veterano a sensibilidade que permitiu sua entrada em cena. E com essa mesma entrega, Juliana segue expandindo sua arte, reafirmando-se como uma artista completa e inquieta.
Em entrevista ao jornalista Rodolfo Abreu, o furacão Juliana Medella fala sobre sua trajetória única e mostra a paixão e a entrega intensa que marcam seu trabalho. Acompanhe a conversa junto com o ensaio inédito pelas lentes de Fernando Ocazione e styling de Ricardo Pinto.
Rodolfo Abreu: Você atua há muitos anos como atriz, bailarina, coreógrafa / diretora de movimento e como assistente de direção, além de ministrar diversos cursos com foco no movimento consciente e coletivo. Por onde você começou e em qual dessas funções você prefere atuar?
Juliana Medella: Eu comecei minha formação em dança e durante a minha trajetória a pesquisa pelo movimento é protagonista. Esse trabalho com o corpo me levou ao teatro e contribuiu demais para o meu entendimento cênico, afinal, teatro também é corpo. Qualquer processo criativo, pra mim, precisa passar pelo corpo, mesmo que depois a criação aponte outro percurso. Acho que cada artista tem o seu caminho. Fiz a minha primeira peça profissional aos 15 anos e não parei mais. E fui agregando funções sim. Eu gosto de estar dentro do teatro contribuindo como o projeto pedir, não importa a função. Sou feliz em ser múltipla. Inclusive, agreguei também a massoterapia e adoro essa troca individualizada no consultório. Os conteúdos se cruzam. Todas as práticas corporais que vivi, dentro e fora do teatro, foram importantes para a minha formação e para a minha vida.


Rodolfo Abreu: Você também esteve em muitos projetos como assistente de direção. Com quais diretores você já trabalhou e como se estabelece essa função pra você?
Juliana Medella: Já fiz assistência para Tania Nardini, Alex Cassal, Gustavo Gasparani, Diogo Vilela, Duda Maia e Flávio Marinho. Cada diretor tem um olhar diferente. Alguns são mais abertos a discutir ideias e caminhos, outros já chegam com a proposta mais pronta e não gostam de tanta interferência. Mas o bacana de estar como assistente é justamente poder observar essa diversidade e poder lapidar o meu próprio olhar estético. Mas claro que prefiro as parcerias onde eu possa ser mais atuante. Agora, eu aprendi muito também com os diretores que trabalhei como atriz ou diretora de movimento como João Falcão, Bibi Ferreira, Luiz Fernando Lobo e Diego Molina. Eu trabalhei como coreógrafa no espetáculo Tango, Bolero e Cha-Cha-Cha que a Bibi dirigiu e observá-la como diretora foi uma faculdade.


Rodolfo Abreu: Você fez parte do grupo carioca, de circo e teatro, Intrépida Trupe. Como foi a experiência de trabalhar também com a arte circense e como você vê o teatro de grupo no Brasil?
Juliana Medella: Sim, fiz parte da Intrépida por 10 anos. Foi muito aprendizado! Eu acho o teatro de grupo fundamental para um ator. Você constrói uma intimidade cênica que é muito valiosa para sua própria formação como artista. Isso você não acessa em nenhum outro lugar, porque precisa de tempo, dia a dia, muita escuta e resiliência. E no circo ainda tem o fator risco que potencializa as vivências. Não dá pra banalizar o fato de você estar a dez metros de altura.
E no Brasil, não é muito fácil sustentar um coletivo, pois não há investimento nessa área. As companhias, muitas vezes, não têm subsídios e os artistas precisam se desdobrar em outros trabalhos para conseguir se manter. Uma pena.


Rodolfo Abreu: Como tem sido a experiência de interpretar a Memória em “Não me entrego, não!” ao lado de Othon Bastos? O que mais te desafia nesse papel e como surgiu o convite para sua participação especial nessa peça que fala da trajetória desse ícone da nossa dramaturgia?
Juliana Medella: Tem sido muito especial. Poder observar o Othon é como fazer uma master class todos os dias. Roubando um trecho do texto da peça quando ele fala do Zé Celso: “Tem sido um doutorado em artes cênicas!” (risos). O mais desafiador na peça foi descobrir como as minhas interferências poderiam entrar como uma fusão, sem agredir a fala do Othon ou puxar o foco de forma dura. O Othon tem um tempo cênico, às vezes, mais esgarçado… E desde que começaram os ensaios, em abril 2024, fui observando e estudando essa respiração dele com as palavras. Quando os ensaios começaram, eu ainda estava só como diretora assistente. Ao longo do processo foi que o Othon sentiu essa necessidade de alguém em cena, de forma mais atuante do que simplesmente um ponto. Ele sempre foi um ator de contracena. E daí decidimos que seria mais fluido assumir minha presença na área cênica. Enfim, sorte a minha! (risos).

Rodolfo Abreu: Seu trabalho em “Não me entrego, não!” foi reconhecido não somente pelo público, rendendo também uma indicação à categoria de melhor atriz coadjuvante no Prêmio FITA 2024 – Festa Internacional de Teatro de Angra. Como foi essa experiência?
Juliana Medella: Ah! Fico feliz e grata com o reconhecimento do meu trabalho, claro! O Prêmio Fita é uma festa incrível onde você se apresenta para um público sedento por arte. Quer coisa melhor?!


Entrevista por Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
Créditos do ensaio fotográfico
Fotografia e visagismo: Fernando Ocazione (@fernandoocazione)
Styling: Ricardo Pinto (@art.ricardopinto)
Estúdio: (@serginhocarvalhofotografia)
Crédito das imagens de cena: James Click (@jamesclickphoto)
Não me entrego, não! (últimas apresentações)
Teatro Vanucci – Gávea
Sexta à domingo
Somente até 23 de fevereiro
Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/94189/d/299152
FICHA TÉCNICA
Elenco: Othon Bastos
Texto e Direção: Flavio Marinho
Diretora Assistente e Participação Especial: Juliana Medella
Direção de Arte: Ronald Teixeira
Trilha Sonora: Liliane Secco
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Programação Visual: Gamba Júnior
Fotos: Beti Niemeyer
Visagismo: Fernando Ocazione
Alfaiataria: Macedo Leal
Coordenação de Produção: Bianca De Felippes
Consultoria Artística: José Dias
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação
Assessoria Jurídica: Roberto Silva
Coordenador de Redes Sociais: Marcos Vinicius de Moraes
Assist. de Diretor de Arte: Pedro Stanford
Assistente de Produção: Gabriela Newlands
Administração: Fábio Oliveira
Desenho de Som e Operador: Vitor Granete
Operador de Luz: Marco Cardi
Contrarregra: Paulo Ramos
Realização: Marinho d’Oliveira Produções Artísticas