Em uma noite num karaokê, quatro mulheres compartilham suas histórias hilárias e cantam suas músicas. Assim se desenrola o espetáculo “Karaokê – O Monólogo”, um cabaré contemporâneo com texto e direção de Aloísio de Abreu e a interpretação vigorosa de Helga Nemetik. A voz potente de Helga, bastante conhecida do público em musicais como “Cinderella”, “Chaplin”, “Meu Destino é ser Star” entre outros, segura e empolga nos números musicais, mas também constrói a personalidade de cada uma das personagens.
Muitas pessoas que vão a um karaokê chegam tímidas, com medo da reação do público à sua performance. Mas não é isso que acontece com as quatro mulheres interpretadas por Helga. Elas são seguras, donas de si e se sentem muito à vontade naquele karaokê que frequentam. Mais que isso, fica claro que “precisam” ir ao karaokê para dar voz às suas realidades – seja cantando, seja contando suas histórias.
Saídas da mente criativa de Aloísio de Abreu, as personagens deixam o público à vontade, parecendo mesmo que já conhecemos cada uma delas, devido à capacidade do autor de captar características, expressões e tipos humanos que facilmente podem ser encontrados por aí. A caracterização idealizada pelo visagista Fernando Ocazione dá suporte às transformações de Helga em cada uma das personagens.
A primeira, Mere do Posto, é uma comunicativa garota de comunidade que investe na beleza, mas sua autoestima ainda está bastante abalada pelo término com o namorado e, assim, ela canta ao seu amado (e dança de forma hilária) “Undererê – Desejo de Amar”, de Eliane de Lima. Na sequência entra Lorrene, uma mãe que leva sua filha recém-nascida e fala das arguras de uma nada romantizada maternidade das mulheres que não tem uma rede de apoio para dar suporte. Ela canta “Vaca Profana”, clássico de Caetano Veloso na voz de Gal Costa. Depois chega a antropóloga musical Maristela Porto, que dedica sua vida a achar significado nas letras mais enigmáticas da MPB, como “Açaí”, de Djavan. Mas vê seus orientadores darem as costas por não entender suas interpretações e, enfim, acha algum consolo nas interpretações místicas de uma médium que incorpora a psiquiatra Nise da Silveira. Fechando o quarteto de personagens, Soninha, ex-cantora infantil e ex-futura backing vocal, mas que agora trabalha como dubladora (incluindo leitura de placas nos filmes – que exige toda uma técnica), passando agora finalmente ao importante posto de dublagem de personagens com falas. Soninha fecha a noite do Karaokê lá em cima, em clima Disco, com “Never Can Say Goodbye” de Gloria Gaynor e “Last Dance”, de Donna Summer.
O jornalista Rodolfo Abreu conversou exclusivamente com Helga Nemetik sobre “Karaokê – O Monólogo” e sobre os projetos da atriz para os próximos meses.
Confira as perguntas da entrevista que estão no vídeo.
– Em “Karaokê – O Monólogo” você vive quatro mulheres completamente diferentes. Além disso, você vai se transformando em cada uma delas ali no palco, nas vistas do público – o que deixa ainda mais impressionante a sua atuação. Como foi o processo para construir cada uma delas para esse espetáculo?
– O que você empresta da sua personalidade a essas personagens?
– O monólogo se passa numa noite de Karaokê onde as personagens vão cantar, mas trazem também suas histórias incríveis. E traz aquele clima catártico, onde o público acaba se envolvendo com as histórias e com as músicas e cantando junto. Você já frequentou muito karaokê na vida?
– “Karaokê – O monólogo” dá voz a realidades femininas através de suas histórias e da música. Você acha que esse espetáculo pode ser considerado de certa forma uma reflexão de questões feministas, trazidas com bom-humor e música? E você acha que a música pode ser porta-voz das dessas questões?
– E falando em música, nos acostumamos a te ver cantando também na televisão, no “Popstar” e no “Show dos Famosos” – esse último onde você inclusive unia o canto com a performance total. Conte um pouco como foi viver tantos ícones da música como Madonna, Pavarotti, Ana Carolina, Janes Joplin, Liza Minelli, Beyoncé, Roberto Leal e Gretchen.
– Onde o público te encontra depois da temporada do Karaokê no Reduto, em Botafogo?
KARAOKÊ – O MONÓLOGO
Com Helga Nemetik. Texto e Direção de Aloísio de Abreu
Quando:
08, 15, 22 e 29 de junho de 2023
Sempre Quintas-feiras às 20h
Onde:
Reduto: Rua Conde de Irajá, 98, Número 90, Botafogo
Rio de Janeiro, RJ
Ingressos:
https://www.sympla.com.br/evento/karaoke-o-monologo/2023901
Texto e entrevista por Rodolfo Abreu
Fotografias de cena: Fernando Ocazione