Em foco – Um pequeno perfil do curador e crítico de arte Marcello Dantas.
Marcello Dantas – é designer, curador de exposições, e diretor de documentários desde 1986. Formado em Cinema e Televisão pela New York University, e pós graduado em Telecomunicações Interativas pela mesma universidade. Estudou História da Arte e Teoria do Cinema em Florença na Itália e Relações Internacionais e Diplomacia em Brasilia.
Entre as grandes exposições em que foi curador se destacam: Antes – Histórias da Pré História (2004), e Arte da Africa (2003), ambas no CCBB; 50 Anos de TV e + (2017), na Oca do Parque do Ibirapuera; Paisagem Carioca (2000), no MAM do Rio; De Volta à Luz e a Escrita da Memória, no Instituto Cultural Banco Santos; e, Mano a Mano no Centro Cultural de la Villa de Madrid.
Dantas realizou parte do projeto da Praça da Língua no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, como seu diretor artístico. Recentemente inaugurou o Museu do Caribe, em Barranquilla, Colômbia.
Desde o ano de 2014, ele é curador da Bienal de Vancouver, Canadá, voltada à arte pública.
Portanto, Marcello Dantas é um premiado curador com ampla atividade no Brasil e no exterior.
Em foco – Qual é o papel do curador nas artes?
Marcello Dantas – É quem faz a ponte entre o universo criativo de artistas e o público, quem fertiliza esse encontro e as possibilidades que os temas dos nossos tempos podem germinar na cabeça dos dois lados de uma exposição. O curador observa, mas também provoca, desafia e indaga.
Em foco – O que faz o profissional responsável pela curadoria de exposições?
Marcello Dantas – Pensa, escreve, trabalha, propõe e viaja muito.
Conversa, ouve, observa, deleta muito ruído desnecessário do mundo. Dorme quando dá. Tem uma vida bem torta com pouca rotina.
Em foco – Uma dica importante para quem está iniciando a carreira de curador.
Marcello Dantas – Acostume-se a viajar muito. Tenha boa memória. Tanto de nomes quanto imagens. Exercite sua capacidade de relacionar coisas desconexas. Enxergue entre as linhas.
Em foco – Qual foi a exposição que mais te marcou?
Marcello Dantas – Acho que a Bienal de Veneza de 2001 curada pelo Harald Szeeman foi das melhores exposições que ja vi. Quase tudo era bom. Assim como a Trienal Echigo Tsumari no Japão em 2009 curada pelo Fram Kitagawa.
Em foco – Em que país visitado você encontrou mais dedicação a arte em termos de exposições e investimentos?
Marcello Dantas – O maior investimento em artes e cultura atualmente está na Arábia Saudita. Lá eles estão criando uma infra estrutura com pelo menos 15 novos museus e programas muito abrangentes. A França tem sido exemplar em criar instituições sólidas. Fora isso existe obviamente a força empreendedora americana mas ela depende do interesse dos milionários. Eu admiro muito o que está sendo feito na Tasmânia também pela originalidade.
Em foco – Você tem sido o curador de diversas exposições que trazem artistas estrangeiros ao Brasil, como Drift (2023), A Tensão (2021), Ai Weiwei (2019), entre outras. Como você avalia essas exposições?
Marcello Dantas – São importantes plataformas de construção de públicos e de contato com poéticas distantes porém relevantes tanto politicamente como sensorialmente. Quero que as exposições que faço fiquem na memória do público por um bom tempo e acho que essas conseguiram isso. Me orgulho delas e da ponte que fizeram para que mais pessoas gostem de arte.
Em foco – E no exterior, você também leva artistas brasileiros?
Marcello Dantas – Fiz muito isso. Levei artistas brasileiros para Canadá, Arábia, México, Argentina, Colômbia, China, Nova York, Espanha. Muita gente boa, essa troca é importante. Fiz também a Bienal do Mercosul com um time gigante de brasileiros excelentes.
Em foco – Quais são os seus projetos futuros?
Marcello Dantas – Estou curando a Bienal DesertX na Arábia Saudita. Fazendo o pavilhão do Brasil em Osaka no Japão. Além de exposições que circulam pelo Brasil e um museu novo em Brasilia e um espaço de artes em São Paulo.
Em foco – Como você avalia a situação do Brasil no que diz respeito ao apoio as artes plásticas?
Marcello Dantas – Precisa botar ordem na casa no Ministério da Cultura. Precisa ganhar momento no cenário internacional novamente. Precisa estar mais aberto ao mundo. Mais permeável ao novo. E menos viciado no mesmo discurso.