Em foco – O que é o Instituto Preservale?
Nestor Rocha – O Instituto de Preservação e Desenvolvimento do Vale do Café nasceu em 1994 como forma de união entre os diversos gestores de propriedades, de maneira a agregar valor ao patrimônio rural, acrescentando à renda corrente das fazendas as receitas de hospedagem e visitação, com finalidade cultural e educativa. Outro fato relevante é o constante trabalho que visou evitar que diversos casarões palacianos tivessem como destino a ruína. Mais tarde, o instituto incorpora novos projetos e finalidades voltados ao meio ambiente, colaborando presentemente para um novo olhar diante dos crescentes desmatamentos e a necessidade de reflorestar o Vale.
Em foco – Como o Vale do café tem se afirmado como produto turístico?
Nestor Rocha – O Instituto Preservale foi uma das células importantes para a retomada do Vale do Café como destino turístico. Várias ações foram lançadas pelo Preservale e atraíram parceiros fundamentais na retomada. Para isso, contribuíram também iniciativas promovidas pelas fazendas, como o Fórum Replanta Vale. Uma ação realizada pela Fazenda São Luiz da Boa Sorte, que conta com apoio do Sebrae, Setur, Emater entre outros nomes importantes.
Em foco – Quais são os grandes diferenciais da fazenda são Luiz da Boa sorte?
Nestor Rocha – Os grandes diferenciais da Fazenda São Luiz da Boa Sorte podem ser apresentados a partir de sua condição primeira. Ela é um equipamento do Século XIX, suas terras são de 1835. Hoje é um patrimônio tombado pelo Inepac em sua totalidade. Neste sentido, a São Luiz é um grande Museu.
A partir daí, temos a hotelaria como o principal produto da Fazenda São Luiz da Boa Sorte; uma hotelaria boutique, um produto exclusivo, muito requinte, conforto, excelente cozinha e muita atração para casais e casais com filhos.
O viés cultural e educacional é outro diferencial. Hoje a fazenda é referência no turismo educacional no Vale do Café, recebendo as principais escolas do Rio de Janeiro, como Escola Americana, British School, Eliezer Max, Corcovado, OLM, Colégio Cruzeiro entre outras. A fazenda também recebe escolas de São Paulo de Minas Gerais. Uma equipe cuida especialmente deste tema.
A fazenda também tem entre suas atrações o Museu do Café, contando a história da bebida e oferecendo uma cafeteria com o seu Café Du Museu, com direito à torra ao vivo. Mais ainda, a fazenda é um produto cultural possante, que traz também ideias e projetos, como o Mata D’Água, de reflorestamento e recuperação de nascentes. A fazenda está retomando a parceria com Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Sua Hotelaria a rigor é hoje uma referência na região. São 31 suítes divididas entre especiais, coloniais e históricas que prometem um imersão ao século XIX com charme e o conforto do século XXI.
Em foco – Há algum trabalho específico na região em prol do ressurgimento do café?
Nestor Rocha – Sim, há alguns. Vamos citar aquele que vem sendo tocado pelas APLs do Café, que tem o Sebrae como parceiro, e outras ações importantes tocadas no Vale para a retomada do plantio do café. As APLs já somam oito encontros e buscam fortalecer a retomada da cultura do café no Vale, considerando suas variáveis, como o café sombreado. Vamos citar também o Fórum Replanta Vale, que já se prepara para a segunda edição, e pretende se consolidar como um espaço para apresentação de novas ideias e projetos, que busquem incorporar novas tecnologias para a produção dos Cafés Especiais na região.
Em foco – Como manter protegido o patrimônio histórico e natural do Vale?
Nestor Rocha – Com apoio. Não se mantém um patrimônio material e imaterial do tamanho daqueles que encontramos no Vale do Café sem que haja apoio de diferentes setores.
Em foco – Há alguma atividade com escolas na região para conscientização histórica?
Nestor Rocha – É importante frisar que a Fazenda São Luiz da Boa Sorte foi pioneira em projetos educacionais criados para as escolas públicas. Em 2014, ela lançou um projeto Viagem ao Tempo dos Barões e Escravizados, que levou à fazenda cerca de 12 mil crianças das redes públicas, com direito a aulas de campo, alimentação e diversão.
Este projeto, premiado pelo IPHAN, com o Prêmio Rodrigo Mello Franco, foi a célula que deu origem ao atual projeto pedagógico da fazenda.
Em foco – Na sua opinião, há alguma prefeitura que se destaca na produção de eventos na região?
Nestor Rocha – Hoje já há maior conscientização das prefeituras em relação a importância do seu papel como agente formulador de políticas em defesa da cultura local. Isso também tem a ver com a realização de eventos. Destaco a Prefeitura de Vassouras com o Festival de Cinema e outras ações, que teve na figura de Wanderson Farias, ainda como Secretário de Turismo, uma personagem fundamental em toda retomada. Wanderson hoje é vice-presidente do Preservale e uma força dentro da Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro. Entretanto, é fato ressaltar que atualmente as prefeituras de uma maneira geral estão conectadas com esta nova realidade. E só para citar uma, falo de Miguel Pereira com várias ações importantes nos últimos anos.
Em foco – Você iniciou um importante trabalho de sinalização turística da região. Ele é vital para o Vale?
Nestor Rocha – Esta foi uma busca incessante da minha parte como presidente do Preservale. A questão era muito séria, porque um destino como o Vale do Café não tinha uma sinalização a sua altura.
Trabalhamos e hoje todas as BRs de acesso à região estão sinalizadas, sem contar que as fazendas históricas mereceram a partir dessa iniciativa uma atenção bastante especial, reconhecendo sua pujança e importância histórica para o país.
Em foco – Como se deu sua entrada no turismo da região?
Nestor Rocha – A Região sempre foi turística. Mas tudo era insipiente. Quando surge o Preservale, a situação começa a mudar. Depois de muito trabalho, que é fundamental continuar, a região é de fato um Destino Turístico importante.
Em foco – Fale um pouco sobre sua formação acadêmica, família e carreira profissional.
Nestor Rocha – Hoje sou Conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, presidente do Preservale e da Associação Cultural Museu do Café. Mas a minha história começa muito antes. Trabalhei no mercado financeiro. Depois me tornei vereador na cidade do Rio de Janeiro. Fui Secretário de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro. É interessante falar deste assunto porque eu era vereador e não havia uma pasta para o turismo, apenas a Riotur, que era uma autarquia. Como vereador eu não poderia assumir a Riotur, então foi criada a Secretaria Municipal de Turismo, que eu assumi. Em seguida, foi criada a Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro. Aliás, a criação dessa secretaria completou 40 anos em 2023. E sobre este assunto vamos falar mais para frente porque envolve outro assunto fundamental, a construção da Passarela do Samba, o Sambódromo.
Minha parceira em toda esta história chama-se Liliana Rodriguez. Companheira de todas as horas, a Jornalista tem longa história no Rio de Janeiro, onde trabalhou em grandes emissoras de TV e rádio, inclusive com programas diários.
Tenho cinco filhos, quatro deles com Liliana, um neto e uma neta. Uma grande família de fato.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação