Em foco – Olá Ricardo! Onde você nasceu? Onde passou a sua infância e adolescência? Onde você obteve a sua formação fundamental e média?
Ricardo Portilho – Nasci e cresci em Governador Valadares, Minas Gerais, onde concluí o Ensino Médio.
Em foco – Quando você começou a se interessar em trabalhar com jardins?
Ricardo Portilho – Venho de uma família de fazendeiros e sempre tive o privilégio de estar em contato com a Natureza. Na fazenda, tínhamos uma horta onde se produzia de tudo. Lembro-me de sempre passear ali. A memória dos legumes e das frutas crescendo, tomando forma e mostrando o ciclo natural da vida me fez ter uma olhar amoroso para a Natureza. As flores também sempre me encantaram. Ver a disposição dos canteiros, alinhados, criando essa uniformidade, cada qual com sua espécie, com texturas e cores e sabores diferentes, me fez aprender ainda criança sobre unidade, conjunto, forma e disposição. Em casa, certa vez pedi a minha mãe para fazer um jardim para ela numa área da casa. Devia ter uns 12 anos. Ele começou com 1m até que, com o passar do tempo, a casa estava cercada de verde. Lá foi meu laboratório, meu jardim botânico onde aprendi na prática, todos os dias, como as plantas cresciam e funcionavam, desde a semente à vida adulta. Minha tia, também paisagista, formada em Belas Artes, uma vez me chamou para ajudá-la num projeto que executava. E lá fui eu aos 14 anos ajudá-la com as mudas de flores, cada qual respeitando o desenho do jardim. Ao fim, quando fomos para casa, recebi meu primeiro pagamento. Vi que podia trabalhar com aquilo que cresci aprendendo a amar. Meu primeiro jardim profissional foi para uma vizinha e, dali em diante não parei mais.
Em foco – Você tem formação na área do paisagismo?
Ricardo Portilho – Sou autodidata e tive grandes mestres ao longo da vida. Célia Corrêa, Gilson Essefelder, Harri Lorenzi e Raul Canovas foram alguns que me ensinam até hoje. Fiz cursos e imersões tanto no Brasil quanto no exterior. Visitei parques e jardim dos mais importantes pelo mundo.
Em foco – Um botânico olha para os jardins com um olhar científico. E você? Qual é o seu olhar?
Ricardo Portilho – Todo o paisagista tem de ser, por obrigação, um pouco botânico. Temos de entender o que pode e o que não pode dentro da Natureza. Precisamos conhecer a nossa flora e fauna. Com o tempo, aprendemos. Meu olhar é sempre para o todo. É um ciclo.

Em foco – O que define um paisagista? Quais são as suas principais atividades?
Ricardo Portilho – Um paisagista tem de ter o dom de admirar e contemplar o belo e ter a capacidade de questionar aquilo que ele admira, respeitando o Meio Ambiente para que Natureza e seres humanos convivam em harmonia. Meus lemas são: planejar, projetar e preservar.
Em foco – No campo do paisagismo, quais são as suas principais referencias?
Ricardo Portilho – Roberto Burle Marx, Raul Canovas e Harri Lorenzi.
Em foco – Para você gostar de trabalhar com jardins, você tem que gostar do mundo natural. O que você mais admira no mundo natural?
Ricardo Portilho – As nascentes, os rios de água doce, nossos mananciais naturais… Temos a OBRIGAÇÃO de preservá-los.
Em foco – Quais são os tipos de plantas que você mais utiliza para a criação dos seus jardins?
Ricardo Portilho – Meus jardins são criados ao longo da execução. É claro que ele surge a partir de um projeto e de uma ideia pré-concebida, mas é na hora da execução que sinto o que de fato precisa ser feito, afinal trata-se de uma arte e de uma obra vivas. As plantas tropicais, como as palmeiras, filodendros, marantas, orquídeas e bromélias me dão essa sensação de deslumbramento. Adoro trabalhar com elas.

Em foco – Quais foram os jardins que você criou que mais ganharam expressividade?
Ricardo Portilho – Tenho orgulho de todos os jardins que fiz. Os que tiveram maior expressividade foram o da rua onde cresci, em Governador Valadares, onde trabalhei também nas casas vizinhas, levando o local a ficar conhecido como Rua Verde. Tenho orgulho também do jardim que me levou a ganhar o concurso Rio Mais Florido, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Trabalhei em cinco das edições da mostra Morar Mais no Rio e, recentemente, nas edições do Casa Cor Rio de 2021 e 2022.
Em foco – Como você define um jardim?
Ricardo Portilho – Uma área verde, natural ou criada pelo homem que te provoca alguma sensação, seja ela de paz, alegria ou somente o prazer da contemplação.E quando estamos num jardim onde nosso campo de visão chega a 360 graus, conseguimos sentir plenamente esse prazer de admirar. O escritor e educador Rubem Alves tem uma definição com a qual me identifico: “todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago construído, é preciso que árvores e lagos tenham nascido n’alma. Quem não tem jardins por dentro não planta jardins por fora. E nem passeia por eles”.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação