O texto escrito por Carol Santaroni, Deborah Sargentelli, Jean Rey, Kaique Bastos e Maria Paula Marini, em parceria com Daniel Herz, narra, no contexto de uma guerra, a comemoração de um aniversário infantil, que é interrompido quando o local é atingido por uma bomba. A partir daí, o grupo de cinco personagens é obrigado a lidar com as consequências de um soterramento e o perigo iminente da morte.
O clima de tensão transparece o tempo integral da apresentação. Nesse aspecto elenco e direção acertaram. A vida num confronto bélico é tensa, estressante, reclusa e triste. Os seres humanos ficam extenuados em meio aos bombardeios e ataques armamentistas, e, no mundo contemporâneo, as armas químicas. Horrores desse mundo trágico. A guerra quebra a harmonia e o equilíbrio, e traz a destruição.
O elenco deixa transparecer esse clima. Os cinco atores (Carol Santaroni, Deborah Sargentelli, Jean Rey, Kaique Bastos e Maria Paula Marini) que o integram por meio de suas interpretações nos apresentam esse momento tenso, em que os direitos humanos são violados e desrespeitados, em que as declarações de direitos são rasgadas em nome do discurso político-bélico-estrategista e do capital. Eles estão ajustados e em sintonia. Falam e se expressam bem, apresentando uma linguagem que é fácil de se compreender. Eles dominam o texto e o palco. Se entregam de corpo e alma naquela ribalta.
No nosso ponto de vista, o elenco apresenta uma boa atuação, consistente, e uniforme. Sublinhamos os diálogos entre o ator Jean Rey, que interpreta o general aposentado, que cumpria rigorosamente as ordens dos seus oficiais superiores, e as suas duas filhas. A primeira filha, interpretada por Maria Paula Marini, enfermeira e humanista, pois não aceita os crimes de guerra cometidos pelo pai. Por sua vez, a segunda filha, Deborah Sargentelli, compreende as atitudes do pai no exercício da sua função, e acredita na vida, tanto que engravida naquele momento trágico. Ela é casada com um soldado, interpretado por Kaique Bastos, que abandona o Exército no meio da guerra, e comete o crime de deserção. E, finalmente, a atriz Carol Santaroni, que perdeu seu filho no soterramento. Todos os cinco atores expressam as suas aflições e devaneios em meio aquele momento em que a bomba cai e o soterramento do edifício onde se encontravam.

A direção é de Daniel Herz que se preocupou com a interpretação técnica perfeita dos atores. Contudo, a sua direção olhou também para o lado da emoção, quando buscou extrair dos atores em suas representações o sentimento de viver soterrados num conflito bélico, seus desesperos, suas angústias, sensação de impotência e fragilidade da vida. Não sabem mais quanto tempo irão viver, pois o ar começa a faltar!
Os figurinos são adequados e funcionais. O elenco está vestido para uma festa de aniversário, comemorar mais um ano de vida, naquele momento em que não se sabe mais quanto tempo dura uma vida.
A cenografia criada por Lara Aline e Mari Faria é criativa e original. Ela é constituída por uma rede que fica suspensa por fios presos ao teto. A medida que o espetáculo vai se desenvolvendo, a rede vai descendo, dando uma ideia de soterramento. No piso do palco há uma marcação, que acreditamos que seja o local onde ficaram soterrados, onde as cenas se desenvolvem.
A iluminação criada por Aurélio de Simone é bonita, adequada, e realça cada cena do espetáculo.
No Front é um espetáculo que transmite o momento de tensão de uma guerra; apresenta um bom elenco; e uma cenografia criativa.
Ótima produção cênica!