O monólogo é encenado pelo ator Andy Gercker, que também é o responsável pelo texto e pela direção.
A busca para encontrar nossa verdadeira essência nos leva cada vez mais nas sociedades contemporâneas a ficar como uns loucos na trilha desse caminho. Buscamos em tudo como seitas, filosofias, entre outras, aquilo que se possa imaginar, mas o produto final nem sempre é aquilo que acreditávamos encontrar. É é bastante interessante como esse caminho é percorrido por Andy Gercker, ator, comediante, neurocientista, brasileiro, que vai ser condecorado pela ONU com um título de honra e a alcunha de Mahatma (Grande Alma). Quem recebe esse título são indivíduos de sabedoria, nobreza, e elevado espírito. Ele terá a responsabilidade de desvendar o erro histórico que o impede de encontrar a sua tranquilidade interior e conquistar Sans Souci, que significa Sem Preocupação.
No texto, o autor sublinha que Mahatma Gandhi, líder indiano, pregou a não violência física. E, Mahatma Andy prega a não violência neuronal.
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E, nesse processo de realização espiritual interna de Mahatma, a dramaturgia da peça nos leva ao século XVIII e resgata a figura do rei prussiano Frederico II, o Grande, um déspota esclarecido, ou seja, um soberano absoluto que invocava as “Luzes”. Tinha como conselheiro um filósofo, Voltaire, deixando assim transparecer uma relação com figuras do Iluminismo. Era uma forma de reconhecer a importância dos letrados e da opinião pública.
E, o rei mandou construir o castelo Sans Souci, em Potsdam, um lugar de não preocupação, espaço de liberdade e de paz. Nos jardins do palácio, ele mandou erguer um Templo à amizade. Naquele local, ele recebia também os seus convidados privilegiados. Era um amante das artes, sensível, admirava a antiguidade clássica, e Mahatma se identifica com ele. Comenta-se que Frederico apreciava os belos rapazes nobres da corte. Portanto, em Sans Souci, Mahatma conquistou a tranquilidade interior que ele tanto almejava: “Grandes almas conquistam palácios”.
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A dramaturgia da peça associa assim realidade e ficção. E, nos leva a refletir sobre a nossa realização espiritual interna, em que buscamos alcançar um estado duradouro de bem-estar e paz interior. O texto está dividido em três atos: 1- Como me Tornei Mahatma; 2- Esforço Constante; 3- a recompensa.
A peça tem pitadas de humor, mas também tem momentos sérios de reflexão. Nessa busca da paz interior ainda consome a Andy Mahatma saber que o Brasil é o país onde mais morrem assassinados integrantes da comunidade LGBTQIA+. Esse fato perturba, dilacera a alma. Se faz necessário corrigir erros históricos de humilhação, perseguição, violência, maus tratos. Como vamos conquistar Sans Souci se ainda há “trevas” no mundo em que vivemos?
A atuação do ator é de um primor. Ele está alegre, exala poesia, emoção, comprometimento, sabe se comunicar com o público, e passa a mensagem do texto de forma fácil. Ele narra os fatos e deixa transparecer os sentimentos. Tudo é feito com muito carinho e dedicação.
Convém sublinhar que, através da peça, Andy narra a sua própria história de vida. Suas lutas, suas vitórias, suas humilhações. E, sublinha que não era bem visto dentro de sua própria casa por ser “do outro lado”, dos “maricas”. Um grave erro histórico.
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O figurino, idealizado por Vinicius Rodrigues e pelo próprio Andy, foi bem idealizado e realizado. Ele entra vestido como um príncipe, com uma longa túnica laranja. E, ao longo do espetáculo, tira a túnica, e fica de calça preta e camisa azul de alça, e por baixo camisa azul estampada de manga comprida, de forma a facilitar a sua performance.
Quanto ao cenário, há um sofá e uma pequena mesa redonda, e projeções de vídeo que ajudam a narrar o texto.
A iluminação de Paulo César Medeiros vem a reforçar ainda mais a excelente performance do ator.
A peça é um convite ao mundo interior, à paz, ao amor, ao respeito ao seu semelhante, independente de gênero, credo e cor. E, nessa jornada de libertação proposta por Mahatma Andy, precisamos de ter saúde mental. Somente assim teremos capacidade de realização espiritual interna, nos tornando grandes almas, e possibilitando um convite à interioridade.
Eu não sou yogi. Sou yag.
Vem! O espetáculo é ótimo! Axé!
Texto crítico redigido por Alex Gonçalves Varela.