O texto inicia com a seguinte frase: tudo pode acontecer numa sexta-feira a noite! Coisas Absurdas. Ainda mais num escritório corporativo, quase no final do expediente. Quando os funcionários já estão querendo desligar os computadores, e começar a curtir a noite. De repente, um deles recebe uma mensagem no email com um arquivo em anexo. Era uma pendencia. Tudo se modifica!
O clima passa a ficar tenso, as discussões começam. Mas, manter a calma é fundamental, porque seus sonhos dependem de seus salários, e em caso de desobediência, correm o risco de ser demitidos. Dessa forma, a submissão as ordens do patrão é um imperativo que tem que ser respeitado. Manda quem pode, obedece quem tem juízo!
O texto, redigido por Rafael Martins, apresenta uma crítica ácida a lógica capitalista que impera na engrenagem do mundo empresarial, seja em pequenas, médias ou grandes repartições. Os grandes capitalistas, os donos do capital, detém os meios de produção, pagam os salários que querem, e exploram os seus funcionários a exaustão. A relação patrão e empregado caracteriza-se por ser assimétrica e de exploração. E, os trabalhadores, como os do escritório da peça, sao submetidos a essa lógica desumana, imediatista, pragmática, fato que explica o motivo de tantos empregados em suas respectivas empresas desenvolverem atitudes depressivas, pânico, e ansiedade generalizada. Assim, a saúde mental vai para o beleléu. Mas, ela é inegociável.

O elenco da peça apresenta quatro atores que transparecem estar bastante motivados por colocar em prática o projeto. Demonstram terem ensaiado bastante, e relativa sintonia e ajustamento. Dominam bem o palco e o texto.
Contudo, há um desnível entre os integrantes do elenco com relação aos atos interpretativos. Alguns atuam de forma mais profunda do que os outros, desenvolvem mais seus respectivos papéis. Em alguns, falta postura de voz e uma interpretação mais adequada ao personagem do que em outros. Também falta passar mais emoção. Faltou feeling, expressividade! Esse é um ponto negativo do espetáculo.
Os atores estão elegantemente vestidos. Ponto positivo para os lindos figurinos de Wanderley Gomes, que são de extremo bom gosto. Os homens vestem ternos estampados, e as mulheres trajam roupas com detalhes delicados.
O cenário de Marcelo Morato é adequado, reconstituindo um escritório corporativo, com assentos e gaveteiros.
A iluminação de Bruno Aragão é correta, e está adequada as cenas.
Vida Útil é um bom espetáculo, que reflete sobre as tensões no mundo do trabalho, e deixa uma mensagem de alerta para o cuidado com a saúde mental.
Bom espetáculo teatral!