O texto narra a história de uma família disfuncional, a relação conflituosa entre a mãe, a psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960), e a sua filha, Melitta Klein, também psicanalista, com todas as dificuldades que há nesses vínculos familiares.
Cronologicamente, a ação se passa no espaço de uma dia, na primavera londrina de 1934.
O dramaturgo imaginou um encontro entre Melanie Klein, interpretada pela atriz Ana Beatriz Nogueira, e Melitta Klein, representada por Natália Lage, mãe e filha, dois nomes expressivos no campo da psicanálise, que, na vida real, viveram uma relação bastante conflituosa, marcada por muitos debates verbais.
Desse debate, também participa Paula, representada pela atriz Kika Kalache, uma das discípulas da Sra. Klein, sua mais nova assistente.
O encontro acontece após o misterioso suicídio do filho de Melanie, Hans, personagem que, obviamente, não aparece na trama.
A peça mostra o efeito dessa morte devastadora e inesperada, na Sra. Klein, na sua filha e na nova assistente.
O fato serve de estopim para um devastador lançamento de acusações e defesas.
O texto, de Nicholas Wright, adaptado por Tereza Falcão, e dirigido por Victor Garcia Peralta, é profundo, rico, consistente, e compacto. Em alguns momentos da encenação são utilizados conceitos da psicanálise, fato que aponta na direção de um texto voltado para especialistas do campo. Contudo, um público amplo e não de especialistas pode assistir o espetáculo.
O elenco integrado pelas três atrizes está ajustado e sintonizado. Todas se apresentam em nível excelente, realizando uma apresentação de se tirar o chapéu. Elas são maravilhosas.
Ana Beatriz Nogueira por interpretar a sra. Klein merece palavras. Ela é a voz da ciência, uma mulher que acredita nos seus argumentos baseados na observação e experimentação, e submetido a luz da razão. Em seus experimentos até os filhos foram usados como cobaia. Ela é seca, dura, cruel, antipática, pedante, presunçosa, e fiel aos seus preceitos científicos. É essa sra. Klein que Ana nos apresenta. Um show de interpretação!
O cenário criado por Dina Salem Levy é constituído por um conjunto de cadeiras, todas perfiladas e arrumadas. A arrumação é desfeita a medida que os diálogos entre as atrizes vão acontecendo, e em novas posiçoes as cadeiras precisam estar.
Os figurinos foram criados por Karen Brusttolin. Eles são de bom gosto, chiques, e discretos, em tons escuros, imperando o preto e o cinza. Devemos lembrar que o assunto central da peça é o suicídio do filho da sra. Klein. Portanto, adequados.
A iluminação contribui para incrementar ainda mais o espetáculo, e é adequada a cada cena da peça.
Em momentos recentes quando os ditames científicos foram questionados, nada mais expressivo do que assistir Sra. Klein.
Excelente produção cênica!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.