O texto de João Cabral de Melo Neto, datado de 1955, é poético, musical, potente, critica e denuncia a realidade social do nordeste, é um grito de alerta contra a fome.
O texto da peça está inserido no conjunto dos movimentos de educação, arte, política e cultura do início da década de 1960, juntamente com o cinema novo de Glauber Rocha, e os textos do médico e geógrafo Josué de Castro, e os da escritora Carolina Maria de Jesus, que sublinhavam as faltas, carências, da sociedade brasileira. Uma dessas faltas é a fome, que continua persistindo até os dias de hoje. Morte e Vida Severina está inserida nessa discussão, e é atual.
Uma montagem histórica da peça foi a de 1965, no Teatro TUCA da PUC-SP, com as músicas de Chico Buarque de Holanda.
No enredo da obra de João Cabral, o retirante Severino desce abeirando o rio Capibaribe em direção do mar e da cidade do Recife encontrando em seu percurso diversas paisagens marcadas pela morte e pela miséria do semiárido, velórios, enterros, animais mortos, além de ver a morte com emprego, tamanha a sua incidência. Ao chegar à cidade, nos manguezais periféricos, assiste a um parto, onde a vizinhança traz seus presentes ao bebê, novas demonstrações da pobreza, rebatida pelo pai da criança com a única esperança: o próprio ato de nascer um novo ser humano.
O espetáculo é notável, atual e emociona! Fala da nossa realidade social.
A montagem é impecável e funciona com perfeição.

O elenco tem uma atuação notável. Todos se destacam como atores e como cantores. Interpretam e cantam de maneira ímpar. E emocionam, expressam sentimento.
Destacamos momentos que consideramos mais expressivos, como a mulher da janela (Ana Clara Assunção, correta e bastante aplaudida), do funeral, dos coveiros e das ciganas (se apresentam com energia e potentes).
E parabenizar Gilberto Miranda, que faz um Severino que deixa transparecer todas as facetas do personagem, marcado pela fome e pela miséria, mas também pela luta e a esperança de conseguir um dia melhor.
A cena final que representa o nascimento de uma vida é emocionante.
A direção geral é de Luiz Fernando Lobo que realizou as marcações precisas e certeiras, e deu o tom para a perfeita atuação do elenco.
Os figurinos de Beth Filipecki e Renaldo Machado são bonitos, de bom gosto, e adequados ao tema da peça. São os retirantes.
A cenografia de J. C. Serroni é adequada e clean. Na parte inferior do palco observamos imagens de pedras e um chão avermelhado. Ao longo do espetáculo ela é integrada por diversos elementos cenográficos que a complementam. Por sua vez, na parte superior do palco, a cenografia é mínima, e a iluminação dá o tom.
As músicas de Chico Buarque apresentam letras com conteúdo denso e crítico, e apresentam melodia e sonoridade de qualidade.
A iluminação criada por Cesar de Ramires apresenta um belo desenho, utiliza variados tons, e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
Foram tantos adjetivos, mas não poderia deixar de ser.
Morte e Vida Severina é uma montagem de excelência, num texto de forte teor crítico da realidade social; um elenco primoroso que interpreta e canta com vigor e potencia; e um conjunto de figurinos de extremo bom gosto.
Excelente e Imperdível produção cênica!