A maternidade é um desejo de quase todas as mulheres. Aquelas que o tem realizado enfrentam essa missão com amor e dedicação. Porque ser mãe não é uma tarefa fácil. Exige compromisso, obrigações, abdicações, solidão, dedicação, e, sobretudo, muito afeto e carinho. O monólogo em tela trata exatamente desse processo revolucionário que é uma mulher se tornar mãe.
A atriz Juliana Didone interpreta Luísa, uma mãe pela primeira vez, e às voltas com os meses iniciais da maternidade. É um momento de alegria, pois se tornou mamãe, realizou o seu desejo, mas também de inseguranças e aflições. Na função materna há novas tarefas e deveres a serem cumpridos. O recém-nascido exige a atenção redobrada, a proximidade, o colo, o choro intenso, as cólicas, a amamentação. Lá se vão horas de sono perdidas, momentos solitários. E Luísa nos faz compreender o que é esse momento de ser mãe de primeira viagem, caracterizado por uma plêiade de comoções com a chegada do primeiro filho.
Os dois primeiros meses (60 dias de neblina) são de sufoco, necessidades que a mãe jamais pensou que teria de suprir, para nos seguintes ela começar a curtir a maternidade. Depois da neblina, começam a aparecer os primeiros raios de sol, a clarear. A maternidade é um desafio inicial dos primeiros meses, mas também é um desafio a vida inteira. Aqueles amigos que se afastaram, surgirão novos. As mães da escola, do parquinho, do clube, entre tantas outras que despontarão, e auxiliarão, pois sabem umas das outras as dificuldades que enfrentam. Estão no mesmo barco! E Juliana trabalha bem na sua fala essas questões presentes na dramaturgia.
O texto interpretado por Juliana Didone no papel de Luísa nos apresenta a voz de diversas mães, todas elas as voltas com as questões que dizem respeito a maternidade. Todas, dentro do seu espectro social, apresentam as mesmas angústias, as aflições, os medos, as inseguranças desse momento pós-parto. Pois ser mãe não é só parir e colocar um novo ser no mundo. Ser mãe é dar carinho, afeto, calor humano, educar, formar, inserir na sociedade. E ela nos brinda com esse bonito texto, reflexivo, que é transmitido com segurança, boa retórica, emoção e lirismo, de autoria de uma craque da escrita teatral, Renata Mizrahi, livremente inspirado no best-seller homônimo de Rafaela Carvalho.
A direção é de Beth Goulart, que acerta ao trazer poucos elementos à cena, deixando uma poltrona repleta de bichos de pelúcia no centro do palco, onde praticamente acontece toda a encenação. Há ainda um conjunto de cordas, duas na parte dianteira, outras duas na traseira, em tom vermelho, que estão presas junto ao teto. Assim, estabelece como foco o texto e a elaboração da atriz.
Convém sublinhar que as cordas são a conexão do cordão umbilical. A atriz, por diversas vezes durante a apresentação, vai num dos conjuntos de cordas e amarra mais um nozinho. Ao final, ela faz a amarração na poltrona, onde tem um coração pulsante, e vai `a platéia e entrega para as mães que estão ali sentadas as pontas das cordas. Busca passar a ideia de que estão todas juntas!
O figurino é simples e adequado, e ajuda a atriz na sua interpretação e locomoção.
A iluminação é adequada, e contribui para incrementar o cenário.
O que nos chamou atenção no dia em que fomos assistir foi o público. Tinha uma presença massiva feminina, e de casais, mulheres e homens juntos. Até porque a maternidade está intimamente associada a paternidade. Também é função paterna auxiliar a mãe, porque um está ligado ao outro. A relação é de auxílio mútuo. Mami e papi estão unidos para construir um futuro cidadão. Tarefa trabalhosa!
Ótima produção cultural!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.