O texto é de autoria de Nelson Rodrigues (1912-1980), e foi redigido no ano de 1953. A montagem é idealizada e dirigida por Sérgio Módena.
Zulmira, interpretada por Camila Morgado, é uma mulher moradora da Aldeia Campista, frustrada e tísica, e é casada com Tuninho, interpretado pelo ator Thelmo Fernandes, torcedor fanático do time de futebol do Vasco da Gama, pobre e desempregado. Portanto, é um casal do subúrbio carioca, pertencendo á classe social pobre.
Zulmira tem uma prima chamada Glorinha. Elas se odeiam, e competem para ver quem é a melhor. E, madame Crisálida, uma cartomante, interpretada por Stela Freitas, disse para Zulmira ter muito cuidado com ela, a “mulher loura”.
Para preencher os “vazios” da vida, Zulmira se converte numa cristã protestante fervorosa da Igreja Teofilista. Nem mais a praia ela vai!
Zulmira, já bastante convalescida, sedenta pela morte, afirma para seu esposo que quer um enterro deslumbrante, o mais caro de todos. Então, manda ele ir a funerária São Geraldo, localizada na Praça Saens Peña, e pagar um caixão de trinta e seis mil cruzeiros, lembrando o enterro da filha do bicheiro da região, Anacleto. Tudo já tinha sido alinhavado com Timbira, dono da funerária, interpretado pelo ator Gustavo Wabner.
Para conseguir bancar o enterro, manda Tuninho ir a casa de Joao Guimaraes Pimentel, interpretado por Alcemar Vieira, milionário, dono de lotações de transportes, seu amante, e pegar com o mesmo quarenta mil cruzeiros.
Quando Zulmira falece, Tuninho vai ao encontro de Pimentel. Lembra ao mesmo de Zulmira, informa que é o seu esposo, e que a mesma faleceu. Pimentel, ainda que contrariado, e sob pressão de chantagem de Tuninho que o ameaçou de entregar a imprensa, dá o valor solicitado.
Tuninho vai então a funerária e contrata o serviço mais barato. E, fica com o restante do dinheiro para curtir nos jogos do Vasco e fazer apostas.
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O elenco como um todo está perfeito. Todos realizam de forma brilhante os seus respectivos papéis. Ganha destaque o trio Zulmira, Tuninho, e Pimentel.
Camila Morgado deixa transparecer a sua Zulmira como frustrada e obcecada pela morte. Pobre, doente, religiosa, e marcada pelo insucesso. Como sua vida foi de derrotas, pelo menos quer um velório espetacular! Era uma forma de tentar ascender socialmente! De mostrar aparência! Interpretação brilhante!
Tuninho é interpretado por Thelmo Fernandes de forma magnífica, deixando explícito ser um viciado em apostas e fanático torcedor do Vasco.
E, Joao Guimaraes Pimentel interpretado por Alcemar Vieira, milionário e dono de lotações, amante de Zulmira, deixa transparecer o seu perfil de mulherengo, que por ter dinheiro seduz a todas.
Os figurinos criados por Marcelo Olinto são simples e adequados, pois foram confeccionados para tipos da zona norte e do subúrbio carioca, onde a trama se passa. São pessoas pobres e simples, com a exceção de Pimentel, que traja um terno em tom vermelho.
O cenário criado por André Cortez é composto por poucos elementos cênicos. Há uma parede “azulejada” que fica na parte central do palco, e com uma espécie de “porta”, mas que também funciona como um caixão da defunta. Há também uma maca com rodinhas, que funciona para diversas utilidades pelos atores.
A iluminação de Renato Machado é correta e adequada aos diversos momentos da cena.
A Falecida é uma peça bem produzida, com um elenco forte e seguro, e tem a marca de Nelson Rodrigues e suas tragédias cariocas.
Excelente produção cultural!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.