O teatro é o espaço ideal para deixarmos a nossa mente vagar. É um lócus de alegrias, celebrações, júbilos, e devaneios. Vamos assistir produções teatrais porque gostamos! Durante a pandemia de COVID, estes espaços ficaram fechados. Mas nós continuávamos indo, como no caso da plateia única, e continuávamos prestigiando os artistas em suas apresentações virtuais. Com o fim daquele momento endêmico, os espaços de Baco voltaram a pleno vapor, com peças de qualidade notável.
O texto de Inez Viana reflete exatamente sobre esse lugar do teatro como um espaço acolhedor, seguro, quando num momento de anormalidade um grupo de atores consegue ingressar num dos que há na cidade, e realizar um ensaio, o último ensaio, porque como é um tempo extraordinário, não sabem se ao retornar para as suas casas conseguirão no dia seguinte voltar para estrear a peça.
Enquanto ensaiam, os atores trazem a tona suas memórias individuais e coletivas do momento anterior a pandemia. E, num momento mágico, esses atores fictícios são postos de lados e irrompem os atores reais, que nos falam de suas recordações. E suas lembranças devem servir de exemplo, apresentam um caráter pedagógico, de “mestre da vida”. Elas ensinam, e serão repetidas em todas as apresentações da peça. Há assim no texto uma mistura de realidade e ficção.
O elenco é constituído pelos seguintes atores:
Elenco Cia Omondé: Debora Lamm, Carolina Pismel Junior Dantas, Leonardo Brício, Zé Wendell, Luiz Antônio Fortes; Atrizes convidadas:Jade Maria Zimbra, e Lux Négre; ator convidado: Jefferson Melo. Eles tem uma atuação notável. Dominam o texto e o palco com plenitude. Estão felizes, alegres, plenos, vigorosos, firmes e seguros. Atuam em sintonia e de forma ajustada. Passam o texto com uma linguagem simples, de fácil entendimento, e se comunicam bem com o público. Eles apresentam uma boa interpretação dos seus personagens, e transparecem emoção.
O espetáculo inicia com um jogo, momento em que o público é chamado a participar. A seguir, os atores passam a fazer palavras-cruzadas. E daí por diante diversas cenas se processam como o mapa astral do Brasil com interpretação de Débora Lamm; Leonardo Brício nos apresentando as suas recordações de uma peça anterior realizada pela própria companhia; Carolina Pismel correndo pelo paco segurando o texto e as suas inúmeras quedas, entre outras.
A direção é de Inez Viana, que focou no texto, e na livre interpretação dos atores. Eles estão a vontade sobre o palco.
A movimentação dos atores é intensa no palco. Eles andam, sentam, se deitam no chão, movimentos adequados as cenas e sob a direção de Denise Stutz.
A direção de arte é de Carla Costa, sendo a responsável pela criação de figurinos e da cenografia.
Os figurinos utilizados pelos atores são simples, roupas do dia a dia, apropriadas para um dia de ensaio, predominando os tons preto e cinza.
A cenografia é simples, constituídas por mesas, cadeiras, e outros objetos.
A iluminação criada por Sarah Salgado é bonita, e realça as diversas interpretações dos atores em suas respectivas cenas.
Último Ensaio é um espetáculo que apresenta uma dramaturgia forte; um elenco competente; e uma intensa interação entre atores e público.
Excelente produção cênica!