Na data de 07.10.2023 estreou no teatro do CCBB RIO 3 a ópera Onheama, de autoria de João Guilherme Ripper, uma ópera infanto-juvenil. Ela foi encenada pelo grupo Pequeno Teatro do Mundo, e apresentada com marionetes.
A apresentação da Ópera Onheama se dá no âmbito do Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens (FIL), que este ano completa vinte anos. A abertura oficial se deu na data de 07.10.2023 às 10 horas da manhã pela sua idealizadora e coordenadora Karen Accioly. A abertura contou com as presenças da Secretária de Estado de Cultura, sra. Danielle Barros; e, o Diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, o sr. Alberto Saraiva. A seguir, ocorreu a apresentação do Show de Tibor Fidel. Teve também a apresentação do Lançador de foguetes, que divertiu o público. Lançar foguetes é lançar idéias, possibilidades. Teve ainda o show do Quintal Mágico. E, a abertura da Exposição Cosmogonia das Infâncias, do fotógrafo Samuel Macedo. E, na parte da tarde, teve a apresentação da peca de teatro Babuzinha. Portanto, um dia de sábado repleto de atrações.
Por sua vez, na parte da tarde, conforme já dissemos, no CCBB Rio, teve a exibição da Ópera Onheama.
Onheama, em tupi, quer dizer eclipse, fenômeno natural em que o sol é encoberto por uma sombra, e durante alguns minutos, o dia vira noite. Uma escuridão total.
Iniciamos localizando o espaço-temporal da produção. Em primeiro lugar, o tempo mítico, típico das antigas civilizações, possuindo uma estrutura circular, e reversível, e possuindo uma “genealogia”. Ademais, busca explicar a realidade por meio do apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. É o tempo dos deuses, da criação, porque está sempre retornando ao início.
Em segundo lugar, uma aldeia indígena, anterior à chegada do homem branco. Os nativos com suas tradições, danças, cantos, festas, práticas religiosas, crenças, deuses. São os nativos manaós. Uma cultura autônoma, livre, com valores próprios. Eles são os donos da terra, vivendo numa harmonia total com a natureza, com a floresta, com os rios, com os animais.
Falar da Amazônia, suas lendas, tradições, costumes, é comentar sobre povos que foram massacrados e violentados pelo homem branco europeu. Foram acusados de serem bárbaros, selvagens, atrasados, inferiores. O olhar eurocêntrico considerou como vil a cultura dos povos amazônicos. Assim, temos que resgatar histórias esquecidas, mas que se mantiveram vivas e chegaram até nós por meio das tradições orais, passando de gerações a gerações, exemplos de uma cultura de valor. E é esse exatamente nesse sentido que se situa o tema da ópera, que recupera uma dessas tradições, a lenda de Onheama.
Os personagens da ópera são: Tuxaua, Nhandeci, Xivi, Iporangaba, Iara, e o boto cor-de-rosa.
A ópera narra que Xivi, a terrível onça celeste, devorou o sol, Guaraci, pajé da aurora, e trouxe a noite, Yami. Guaraci Onheama (eclipse solar). Escuridão total! Eterna escuridão! Não há mais a manhã, o dia (coema)! A vida na floresta ficou uma penumbra. A luz agora estava no ventre da onça.
Mas, Guaraci ainda vive. E, para a luz da manhã voltar, Tuxaua, o líder da aldeia, o cacique, disse que somente um irmão corajoso poderia enfrentar Xivi. Iporanga curumim. Iporangaba é o nome do guerreiro integrante da tribo capaz de salvar “bola de fogo”. Ele recebe então um colar de pedras sagradas de Tuxaua para salvar o sol e a vida dos integrantes da aldeia. E, lá foi o menino nativo em sua missão.
Para encontrar a onça que devorou Guaraci, ele contou com a ajuda de Iara, rainha das águas, que lhe mostrou o caminho do grande Igarapé, onde mora Xivi. E também contou com a ajuda do boto, com seu belo chapéu e todo perfumado, aquele que enredava as lindas mulheres.
Xivi já tinha devorado o sol. Mas, ela queria mais. Queria devorar Jaci, a lua, e a estrelas. E, assim o mundo se acabaria, e ela dormiria no vazio infinito.
Para Iporangaba derrotar Xivi, ele seguiu os conselhos de Iara, conhecedora dos segredos da floresta, que lhe mandou utilizar os segredos das ervas e da semente de paricá. Ao passar em sua flecha as sementes da dita erva, deveria acertar Xivi no seu focinho e, dessa forma, derrotá-la.
E, o curumim seguiu as dicas de Iara, e acertou a flecha no focinho de Xivi. Esta deu muitos espirros, ficou tonta, zonza, e expeliu o sol para fora de seu ventre. A luz voltou iluminando toda a floresta!
A ópera deixa transparecer a luta contra a escuridão em que só uma criança seria capaz de resgataria o brilho da luz. Iporangaba resgatou a luz da floresta, a vida para os rios, as matas e os animais. Manteve a vida da Amazônia. Não deixou a floresta desaparecer! O Sol trouxe a vida à floresta novamente!
Vale sublinhar como no texto Xivi representava a escuridão, a penumbra, as trevas, a ignorância, a destruição, o vazio, e Iporangaba representa a luz, a manhã, a claridade, a vida, a floresta. Ele conseguiu retornar ao início, como havia sido criado, colocando o sol no seu devido lugar, para irradiar a luz.
Iporangaba é a criança, a luz, a esperança e o amor. Ele abriu os caminhos da floresta para derrotar Xivi. A criança é a esperança da floresta, E, nada mais apropriado, da produção Onheama estar sendo exibida no FIL, um evento voltado para o público infantil.
Na parceria entre João Guilherme Ripper e Karen Acioly, quem ganha é o público, que tem a oportunidade de assistir a uma ópera de qualidade por meio de marionetes.
Excelente! Viva a luz do sol! Viva Guaraci! Viva o Povo da Floresta! Viva os Povos Originários!
Texto crítico redigido por Alex Gonçalves Varela.