Falar do nordeste, seu povo, sua gente, é algo que deveria sempre ser realizado. Ainda mais do canto de sua gente. E o que vemos no palco do Prudential é uma ótima produção musical sobre um dos filhos do solo nordestino, o cantor e compositor paraibano Zé Ramalho.
A dramaturgia é de Pedro Kosovski que nos apresenta um texto envolvente, poético, pensativo, e de qualidade. É um texto biográfico sim, mas não se enquadra dentro daquelas produções que narra a vida do biografado do nascimento ao falecimento, numa narrativa factual e cronológica. Ele optou por dividir o texto em cinco módulos, nos quais entrelaça aspectos da trajetória do cantor com o espaço geográfico, ou seja, lugares por onde ele passou e tiveram importância para o desenrolar da sua carreira, como Brejo da Cruz, Campina Grande, João Pessoa, Rio de Janeiro. Esses espaços são geográficos por excelência, mas também sociais, pois foi neles que Zé teceu e construiu relações que viriam a ser determinantes para o seu despontar no cenário musical brasileiro.
No musical, dirigido por Marco André Nunes, as canções repletas de metáforas, misticismos e significados ocultos, característica da produção do cantor paraibano, são todas lembradas. Momento ápice se dá quando a canção Admirável Gado Novo, de 1979, deixando transparecer a militância política do homenageado, é comentada sobre a sua importância enquanto crítica social e interpretada por um dos atores.
O elenco tem como liderança principal a atriz Adriana Lessa, que substitui Léa Garcia em função de sua passagem para o anda superior. E, é complementado por atores e atrizes como Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Pássaro e Tiago Herz. Não são globais, mas são de qualidade, e todos incorporam qualitativamente a figura de Zé Ramalho, por meio dos personagens de suas músicas como o palhaço, os retirantes, o vilão, entre outros. Ele é diluído por todo o elenco. Não há um único Zé interpretado por um único ator. Todos cantam e interpretam suas canções. E, de forma, competente.
O ponto negativo do musical ficou por conta dos cenários e figurinos. São extremamente pobres e pouco criativos.
Cenários não há. Apenas uma carcaça de boi que surge a partir do teto do palco. Extremamente medíocre.
Por sua vez, os figurinos criados para o musical são simples. Contudo, pecam pela pouca originalidade, criatividade e ínfimo gosto.
O musical é de boa qualidade, e nos apresenta a trajetória de um dos ícones da música brasileira. A ascensão e o êxito na carreira é um processo longo e doloroso. E só aqueles que venceram, como Zé Ramalho, sabem disso. Daí, essa bonita homenagem, que vale a pena ser conferida.
Texto crítico redigido por Alex Gonçalves Varela.