O texto é da craque Karen Acioly que, mais uma vez, nos apresenta uma produção voltada para a garotada, numa linguagem não “infantilóide”, que leva os miúdos a pensar, a refletir, e deixa transparecer a preocupação da dramaturga com as questões da infância e da adolescência.
Karen está preocupada com os sonhos. As crianças têm o direito de sonhar! A infância é o mundo da imaginação e da fantasia, é um universo colorido, um carrossel de esperanças. Pois quando sonhamos deixamos o plano do real, desse mundo sofredor, doído, de dissabores, e partimos para um mundo onírico. E, os sonhos sempre vem para quem quer sonhar. Quem não tem a possibilidade de sonhar, de aventar expectativas futuras, fica refém desse mundo amargo. Karen está atenta aos nossos futuros cidadãos, aqueles que deverão manter preservados os seus sonhos, para num futuro próximo, exercer de forma hábil a sua participação na vida do país.
O texto narra a história de cinco crianças (Tico, Flora, Dora, Cora, e Ciro) que, com insônia, não conseguem dormir. Elas acreditavam que os seus sonhos tinham sido “roubados”. Suas mentes não queriam descansar, permaneciam despertas, e elas acabavam ficando impossibilitadas de sonhar. Porque não conseguiam relaxar.
Contudo, ao se manter despertas, elas passam a enfrentar os perigos gerados pelos maus pensamentos, medos, pesadelos, e sonhos ruins, e ao mesmo tempo passam a refletir sobre o mundo em que vivem, suas questões, seus desafios. Porque as crianças também pensam, refletem, e trazem a tona temas como a vida, o dia-a-dia, o amor, a amizade, a relação com os pais, os perigos do consumismo, a destruição do meio ambiente, entre outros temas. Karen traz essas questões para o texto, mas sem torná-lo duro, áspero. Ela procede com poesia e lirismo.
Seguindo as palavras do release do espetáculo, na opereta “fantasia e imaginação, perigos reais e hipotéticos, humor e soluções inusitadas se entrelaçam para proporcionar uma experiência teatral mágica e bem-humorada”.

Na opereta, Juca e Chico são os guardiões dos sonhos. Eles vão contar os sonhos para que as crianças possam se lembrar deles. Eles conduzem a trama e a música, apresentando os sonhos das personagens supracitadas ao longo de cinco histórias entrelaçadas e musicadas, que são: sonho 1 – Tico e seus pés; sonho 2 – Cora e seus cabelos arrepiados; sonho 3- Flora e Dora unidos pelo ombro; sonho 4 – Clara e seus cabelos louros; sonho 5 – Ciro e os ladroes de sonhos.
Todas as histórias narradas ao longo do espetáculo são realizadas pelos próprios atores, que se alternam em cada cena. O elenco como um todo está bem ajustado e em sintonia. E, cantam de forma bem afinada.
O diretor Tércio utilizou a linguagem da opereta para narrar o “roubo” dos sonhos, e todas as consequências ruins geradas por esse fato, de uma forma agradável, suave, e divertida. Ademais, Tércio se utiliza na montagem do espetáculo de bonecos, fato que o engrandece ainda mais.
A direção musical é de Jeferson Mariano. As músicas soam bem, apresentam belas melodias, e letras bem estruturadas. São acompanhadas pelo som do piano.
Os figurinos são assinados por Maria Antonia Hagge. São todos nos tons preto e branco. Bonitos, criativos, de bom gosto, e adequados aos personagens.

Quanto ao cenário, nada de sofisticação, porém adequado ao espetáculo. O interessante é que é no mesmo tom dos figurinos. Há um palco giratório redondo, sobre um quadrado, ambos apresentando uma mesma estampa.
E, a iluminação também é correta e adequada. Vale frisar que cenário e iluminação levam a assinatura também do diretor.
Recomendo a ótima opereta infanto-juvenil. É de nos deixar de cabelos arrepiados a acertada montagem!
Bons sonhos!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.