A produção cinematográfica brasileira é produto de muito esforço e trabalho. Nada é fácil! Autores, diretores, produtores, cinegrafistas, roteiristas, produtores, coristas, técnicos, atores e atrizes, são verdadeiros gladiadores para colocar na tela um produto final que somente eles, profissionais do cinema, sabem dos verdadeiros pormenores que foi para lançar os seus respectivos filmes. Portanto, é de extrema urgência a preservação da memória do cinema nacional. E memória é seleção. Tem fatos que apagamos das nossas lembranças. Mas há aqueles que buscamos preservar. E a produção da Atlântida e as suas chanchadas é um momento ímpar da história do cinema brasileiro, e, com certeza, queremos preservar. O musical que estamos comentando tem esse mote.
O texto produzido por Ana Velloso e Vera Novello tem como ponto de partida a narrativa do enredo da jovem e sonhadora Marly, que vive no interior do Estado do Rio de Janeiro, e chega à capital para tentar a vida artística na cidade grande, como corista da companhia cinematográfica. Seu sonho é ser artista. E, num dos ensaios, a jovem acaba se apaixonando pelo diretor de cinema Luiz Alberto. Deste momento inicial, a trama se desenvolve, surgindo outros personagens e contornos de romance, suspense, e crônica policial.
O ambiente onde se passa a ficção são os estúdios da Atlântida Cinematográfica, criada no ano de 1941, no contexto do governo de Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo, responsável por ter produzido sessenta e dois filmes, em que ganham destaque as chanchadas. E, a direção do espetáculo, de Ana Velloso e Édio Nunes, conseguiu reconstituir de forma boa e criteriosa o espírito das chanchadas, o ambiente em que foram produzidas, e as pessoas que atuaram para produzi-las.
A narrativa textual é complementada pelas diversas canções que integraram as trilhas das produções cinematográficas da Atlântida, como “Beijinho Doce” e “Vai Com Jeito”, entre outras. Algumas das canções são interpretadas de forma mais expressiva e afinada do que outras, como em “Escandalosa” com a excelente interpretação de Patrícia Costa, que assim faz muito bem!
O elenco é composto por atores e atrizes que têm certa experiência na atuação de produções teatrais. Contudo, não têm uma apresentação uniforme. Alguns têm performances mais expressivas do que outros. No conjunto feminino ganham destaque Patrícia Costa, Ana Velloso e Vera Novello. Por sua vez, no elenco masculino ganha destaque Édio Nunes, este também responsável pela coreografia, conseguindo montar uma boa movimentação coreográfica. Portanto, o desnível do elenco é um ponto negativo do espetáculo.
Os figurinos criados pelo renomado Ney Madeira estão dentro do contexto das décadas de quarenta a sessenta do século XX, e são impecáveis, de um bom gosto e delicadeza, sobretudo os femininos.
O cenário é constituído por um cortinado laminado prata e, a seguir, por um pequeno platô. Deste sobressai uma escadaria que dá para o palco. Visualizamos ainda um espaço com cortinado preto e luminárias onde ficam os músicos. Há ainda objetos como mesas, cadeiras, estatuetas, entre outras. Portanto, adequado para a apresentação do elenco e realização do espetáculo.
No conjunto, a boa produção teatral nos faz recordar um tempo que não volta mais, momentos nostálgicos das chanchadas da Atlântida, quando o cinema nacional começava a dar os seus primeiros passos.
Bom espetáculo!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.