Fullgás é uma exposição coletiva que reúne cerca de trezentos trabalhos de mais de duzentos artistas de todas as regiões do Brasil.
A exposição inicia no andar térreo com uma instalação que remete a uma banca de revistas, como Manchete, Veja, Isto É, Fatos e Fotos, Nova, Manequim, entre outras. Algumas deixaram de existir, e outras permanecem. Há também discos de cantores que fizeram sucesso na década de oitenta, como Simone, Cazuza, Luiz Caldas, Eduardo Dusek, Marina, entre outros.
Nos anos oitenta nas bancas encontrávamos jornais, revistas, gibis, álbuns de figurinhas, entre outros artefatos. Hoje encontramos refrigerantes, balas, doces, salgados, capas para celular….
Ainda no térreo, no meio da rotunda, visualizamos um balão branco e azul do artista paraense Paulo Paes.
Nas galerias do primeiro andar visualizamos a exposição propriamente dita.
A partir do momento que passamos pela porta de entrada observamos uma exposição profunda, com um conteúdo denso, reflexivo, crítico, que mostra a íntima relação entre arte, história do Brasil, e política. Ela está delimitada cronologicamente a uma década de oitenta ampla, que se inicia no ano de 1978, revogação do AI-5, e o retorno dos exilados políticos, e vai até o ano de 1993, quando ocorreu o impeachment do governo Collor, ascensão de Itamar Franco como presidente, e a nomeação de Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda.
Cada módulo tem como título um letra de música dos anos oitenta, quando se tinha uma variedade e diversidade de canções, que passava pelo rock, samba, românticas, infantis, entre outras.
O primeiro módulo tem como título Que País é Este?, canção de 1987, do grupo de rock Legião Urbana.


Nesta parte são expostas pinturas. E preenchem o conteúdo da sala, complementando e explicando as pinturas, televisores exibindo documentários, vídeos, clips de música; fotografias; esculturas em madeira; discos vinis. Esse material artístico é atravessado pelos principais fatos históricos do país que vão do fim da ditadura militar a passagem para a democracia, a chamada Nova República. São lembrados fatos como
movimentos negros, de mulheres, indígenas e seringueiros, além do movimento punk; a Constituição de 1988; a efervescência das ruas; a criação dos novos Estados; o primeiro presidente eleito no ano de 1989: Fernando Collor; o impeachment.
Como exemplo de obras que integram este módulo Killer na Amazônia III, de Adir Sodré, ano de 1991; Os Embaixadores do Oriente no Brasil, de Luiz Zerbini, ano de 1989; Dr. Tibiriçá, de Maurício Castro, ano de 1987; trecho do filme Patriamada, de Tizuka Yamasaki, de 1985.
O segundo módulo tem como título Beat Acelerado, música da banda Metro, no ano de 1984.
Esta parte apresenta obras e artistas que preferiram enfocar na nova aceleração do tempo, nos amores efêmeros, no prazer e na paixão pela cor. Celebração aos diversos prazeres que nos rodeiam. Lembra dos megaeventos de música dos anos 1980. Revive uma figura icônica da cidade do Rio de Janeiro: o Beijoqueiro. O sucesso de Roberta Close.
Como na primeira parte, as pinturas expostas são complementadas por capas de revistas Manchete; capas de discos vinis; televisores; xerografias; esculturas.
Dentre as principais obras ganham destaque a exibição do filme Beijoqueiro, o Retrato de um Serial-kisser, de Carlos Nader, de 1992; Cérebro Stand, de Leda Catunda, do ano de 1988; Com Quem Está a Chave do Banheiro 10?, de Beatriz Milhazes, ano de 1989.

O terceiro módulo tem como título Diversões Eletrônicas, música de Arrigo Barnabé e Regina Porto, de 1979.
Registra as diversas Inovações tecnológicas dos anos oitenta, o poder da televisão, o futurismo, e a era das fitas. A explosão da Xuxa e suas paquitas, e o fenômeno Ayrton Senna.
Obras de arte são complementadas por revistas, televisores, vinis, entre outros.
Dentre as obras que ganham destaque está o figurino da paquita; réplica de capacete usado por Ayrton Senna; revistas UFO; rádios; A Batedeira, de Marcos Paulo Rolla, de 1990.
O módulo quatro tem como título Pássaros na Garganta, música de Tete Espíndola e Carlos Rennó, de 1982.
Reúne artistas e documentações sobre o meio ambiente, paisagens, espécies, ecossistemas, desastres ambientais. Registra o assassinato de Chico Mendes, e o evento da ECO-92.
Observamos obras de arte, escultura de barro, totem, pinturas, que são complementadas por revistas e televisores, que auxiliam na explicação do contexto da época.
Dentre as principais obras ganham destaque Dilúvio, de Adriana Varejão, ano de 1985; O Pranto dos Animais II, de Hélio Melo, ano de 1988; Totem 1 e 2, de Vitória Badala, ano de 1988.
O quinto módulo tem como título O Tempo Não Para, música de Cazuza e Arnaldo Brandao, no ano de 1988.
Esta parte comenta sobre a passagem do tempo, a finitude da vida, e o estrago realizado pelo vírus HIV.


Visualizamos pinturas, esculturas, que são completadas por fotografias polaroides, cartazes e televisores.
Dentre as obras que destacamos estão Entre Céus e Ruínas, de Leila Danziger, ano de 1992; O Livro das Horas, de Paulo von Poser, ano de 1984-1988; Iemanjá Hipocondríaca, de Alex Flemming, ano de 1985-2006; As Horas da Cidade, de Leonilson, ano de 1988; escultura de madeira Exu Hermafrodita, de Chico Tabibuia, de 1980.
Fullgás é uma exposição de artes plásticas voltada para um público erudito, que entende do assunto, que respira artes. Contudo, universitários, e alunos de escolas do ensino fundamental e médio também são benvindos, pois todo um contexto histórico social da década de oitenta se faz presente. Quem era adolescente na referida década lembra da Xuxa e suas Paquitas, mas as gerações de 2010 para cá não sabem nem quem elas são.
A exposição reativa memórias, traz a tona um conjunto de artistas de todo o Brasil, cujos pés estão plantados naquela década de lutas e conquistas. Apresenta também um rico acervo documental, produto de uma profunda pesquisa.
Fullgás é uma exposição de artes plásticas que apresenta um valioso acervo de obras de artes produzidas por brasileiros de todos os cantos; uma curadoria erudita, precisa e clara; e uma profunda pesquisa sobre a década de oitenta.