O casal Roberta e Mariano na faixa dos sessenta anos, ou seja, já adentrando a chamada terceira idade, constitui um matrimônio estável. Eles se amam, são felizes, e vivem uma vida a dois de meter inveja a qualquer outra dupla. Contudo, o tempo foi desgastando a relação, tornando-a massante, e cansativa. A solução foi o divórcio.
Contudo, quem imaginou que o litígio judicial fosse levar a separação em definitiva dos dois corpos, acaba por se enganar. Eles se aproximaram ainda mais. Ficaram muito próximos, e um se torna cúmplice do outro. Um elemento foi primordial para os manter unidos: o amor. Eles se amam. Agora, o sentimento não é mais numa relação de marido e mulher. Eles se tornaram amigos, irmãos. Um conta para o outro as suas intimidades, as suas aventuras. Eles dialogam, se aconselham.
O texto narra a vida do casal até o momento em que eles chegam aos noventa anos de idade. E a medida que os anos passam, eles envelhecem. A voz já não é mais tão forte. O andar é mais lento. Vão se tornando mais rabugentos, implicando um com o outro. Mas o sentimento maior, o amor, nunca se apaga. Porque eles se amam.
A dramaturgia da peça, de autoria de Leilah Assumpção, é atravessada pelo tempo. Seja o tempo diacrônico, aquele de datas e fatos numa linha reta, seqüencial, que mostra a vida quotidiana deles, dia a dia; seja o tempo diacrônico, aquele que nos faz refletir sobre a vida do casal, como ela se estruturou, as razões que levaram ao divórcio, a vida dos dois a seguir à separação, as seqüelas da “velhice”, ou seja, um tempo que coloca questões, problematiza.É o elemento tempo que dá o tom da dramaturgia da peça.
Convém sublinhar que o recorte cronológico da peça é realizado quando o casal está com sessenta anos, e prossegue por mais três décadas, até chegar aos noventa. Portanto, a peça se passa quando o casal já está na chamada terceira idade, e acaba por refletir sobre questões desse período da vida, com pitadas de humor.
Eliane Giardini e Marcos Caruso, em seus respectivos personagens, dão uma verdadeira aula de interpretação e atuação. Eles estão entrosados, em sincronia total. É uma atuação de gala. Eles dominam o texto, narrando-o e interpretando-o deforma irrepreensível, e o palco, ocupando todos os espaços nele existentes. Os dois estão juntos e misturados, amalgamados numa “liga de metais”, constituindo assim uma “química” perfeita.
Um dos melhores momentos da peça se dá quando os dois amigos chegam aos noventa anos de idade. Roberta está sentada no sofá e de, forma jocosa, pede para Mariano dar uma corridinha. E ele assim procede, se arrastando, como uma “tartaruga”, deixando transparecer os limites da idade. O público vai ao delírio!
A direção da peça é de Guilherme Leme Garcia. Ele não inventa nada, foca no texto, e na atuação e interpretação dos atores. Eles estão à vontade no palco, com liberdade total.
Os figurinos são adequados aos personagens. Roupas do quotidiano que um casal usa no dia a dia. E, com o passar da idade, vão se adaptando.
Por sua vez, o cenário criado por Aurora dos Campos é constituído por um sofá branco que está localizado no centro do palco. Toda a peça se passa no sofá e ao redor dele. Os atores sentam no sofá, deitam, fica ao redor do mesmo, e se escondem atrás do móvel.
A iluminação criada por Tomás Ribas é adequada, bonita, marca os atores em suas principais cenas, e abrilhanta ainda mais a atuação dos dois.
A peça é um presente aos amantes do teatro! Super recomendo!
Excelente produção teatral!
Texto redigido por Alex Gonçalves Varela.