A idealização é de Pedro Osorio.
O texto narra o encontro entre Henrique, interpretado por Pedro Osorio, presidente de uma empresa de mineração, e Rafael, interpretado por Augusto Zacchi, um jornalista. Eles já se conheciam há algum tempo. O encontro entre os dois acontece com o objetivo do jornalista realizar uma entrevista com o CEO da empresa para investigar os motivos que ocasionaram a tragédia de rompimento da barragem da mineradora, fato que acabou por ceifar inúmeras vidas humanas.
A dramaturga Daniela Pereira de Carvalho confere ao encontro para a realização da entrevista um espaço de intenso debate, marcado pelo conflito, agressividade, e violência.

Quando o diálogo começou a esquentar, marcado por visões contrastantes e pontos de vista divergentes, Rafael informou ao que veio. Ele disse que não era mais jornalista, apontou uma arma para o entrevistado – postura que seria mantida durante o tempo integral da apresentação -, informou que se encontrava em estágio terminal de câncer, e, antes de estar naquele local, tinha ido a um dos estabelecimentos da mineradora e havia pego uma série de explosivos que seriam utilizados para explodir a sede da empresa e matar o seu presidente, no caso Henrique. Lá estavam também seu irmão e a sua esposa. Rafael argumentou que tinha se tornado um “homem bomba”, não tinha mais nada a perder, pois morreria de qualquer forma da sua enfermidade, mais cedo ou tarde. E estava disposto a realizar aquele atentado terrorista como uma resposta vingativa às vítimas do rompimento da barragem e aos indivíduos que perderam as suas residências. Ele estava preocupado com o ser humano, e não com o progresso a qualquer custo, visão imediatista e pragmática, de um representante de uma empresa mineradora, como Henrique, cujos princípios são guiados pela lógica capitalista.
O texto é crítico, coloca questões importantes que se apresentam no mundo contemporâneo, denso, profundo, humano, deixa transparecer que a política perpassa todos os campos da vida em sociedade. Tudo é político. Por detrás dos grandes acontecimentos, das tragédias, dos desastres, dos atentados, está a política. Os interesses políticos prevalecem no mundo atual e estão conectados ao sistema econômico capitalista. Não importa se o que o aconteceu foi desastroso ou calamitoso e teve consequências humanas e ambientais graves. O importante é o lucro, é o avanço do sistema capitalista, e políticos, capitalistas e líderes das grandes empresas e corporações estão juntos e associados. O ser humano foi para o beleléu!

Os dois atores tem uma atuação notável. Estabelecem diálogos tensos, marcados pela agressividade. Eles atuam com uma técnica de interpretação perfeita, mostrando segurança e potencia. E à excelente interpretação, eles associam a emoção. Eles deixam transparecer qualidades e sentimentos. Dominam o texto e o palco, e se movimentam intensamente pela ribalta. Apresentam uma boa retórica, e passam o texto de forma compreensível, de forma que o público assimila sem grandes dificuldades.
A direção é de Guilherme Leme Garcia e Gustavo Rodrigues. Eles fizeram as marcações precisas, e deixaram os dois atores a vontade para atuar e interpretar livremente.
Os figurinos criados por Ana Roque são simples, e adequados. São roupas do quotidiano. Henrique traja uma roupa mais adequada a um executivo, enquanto Rafael veste uma roupa do dia a dia.
A cenografia é simples, constituída por duas cadeiras, e duas mesinhas.
A iluminação criada por Adriana Ortiz utiliza uma luz branca intensa, e contribui para realçar os dois atores nas interpretações dos seus personagens.
A trilha sonora criada por Marcelo H. é reproduzida a partir do celular do jornalista, que apresenta as canções preferidas de Henrique, sobretudo de uma determinada banda de rock.
Real Politik é uma peça com um texto de qualidade e primoroso, que reflete sobre questões contemporâneas; dois atores com atuações perfeitas; e uma direção correta e precisa.
Excelente produção teatral!