Soberano é coroado em um dos momentos mais difíceis da economia britânica, além da queda no apoio popular à monarquia.
Oito meses após a morte de sua mãe, Rainha Elizabeth 2ª, Charles assume como monarca numa transição tranquila, como costumam ser as sucessões monárquicas. Porem nada é tão simples quanto pode-se sugerir pela tradição : Charles senta-se ao trono em um momento adverso para o país e para a realeza. Especialistas acreditam que o novo rei enfrentará “desafios sem precedentes” que definirão sua história com a coroa real.
Charles terá que lidar com situações desafiadoras, que vão desde o impacto por conta da crise de energia no país, até a ‘virada de chave’ após o reinado de Elizabeth ao longo dos últimos 70 anos.
Eis algumas das principais questões que o novo rei terá de lidar:
RETOMADA ECONÔMICA E SORORIDADE
Com a disparada da inflação, desencadeado pela guerra na Ucrânia, as previsões não são otimistas e especulam que até 45 milhões de pessoas terão dificuldades para pagar suas contas — ou seja, dois terços da população local.
E isso muito provavelmente colocará as finanças da família real sob mais sufrágio do que o normal. Mesmo antes da guerra, havia especulações na imprensa britânica de que o então príncipe de Gales estava aberto a diminuir as pompas reais – inclusive coroação em comparação a cerimônia de sua falecida mãe em 1953 — que foi a primeira cerimônia do tipo a ser televisionada. A coroação de Charles 3º é mais curta, “menos cara” e, circunstancialmente, mais voltada para a diversidade cultural, de modo a poder compreender melhor as necessidades da sociedade britânica.
RESGATE DA REPUTAÇÃO REAL
Em seu momento de maior impopularidade em mais de três décadas, a família real terá que enfrentar um duro desafio de remontada de sua reputação. De acordo com o British Social Attitudes Survey, uma pesquisa que mede regularmente os sentimentos de uma amostra da população britânica em relação à realeza.
A última pesquisa, publicada em 2021, apontou que 55% dos britânicos achavam “muito importante” ou “bastante importante” ter uma monarquia. Em décadas anteriores, esse apoio oscilava entre 60% e 70%.
Os resultados da pesquisa instituto YouGov divulgados em abril sugerem, no entanto, ainda um considerável apoio à manutenção da monarquia — 58% preferem ter um rei como chefe de Estado contra 26% que preferem ter uma pessoa eleita.
Porém a pesquisa revela que as opiniões estão mudando — e que o rei enfrentará desafios – sobre tudo diante do público mais jovem.
IDADAE AVANÇADA
Aos 74 anos, Charles 3º é rei mais velho a ser proclamado na Grã-Bretanha. Uma das questões á serem discutidas é sobre sua rotina de reinado é em relação da grande lista de obrigações reais ele conseguirá cumprir.
Muito se ventila na imprensa que seu filho e herdeiro da coroa, o príncipe William, poderia assumir alguns compromissos reais, sobretudo em viagens ao exterior. A própria Elizabeth 2ª abandonou as viagens internacionais aos 80 anos.
“Charles é um rei velho. Ele não pode fazer tudo”, segundo a historiadora Kelly Swab. “Acredito que a consequência disso será vermos muito mais o príncipe William.”
COMMONWEALTH: O LEGADO COLONIAL
Charles tornou-se o chefe da Commonwealth , uma associação política de 56 países, incluindo principalmente ex-colônias britânicas. O rei também é o chefe de Estado de 14 países além do Reino Unido — um grupo onde faz parte Austrália, Nova Zelândia, Jamaica, o Canadá, e Nova Zelândia.
Porém, nos últimos anos, alguns dos países membros passaram a rever sua relação com a coroa britânica. Em 2021 quando Barbados tomou a decisão de se tornar uma república, isso removeria a falecida rainha como chefe de Estado do país. A ilha caribenha viveu séculos sobre a influência da coroa britânica e foi um centro para o comércio de escravos por mais de 2 séculos .
SUPERAR AS COMPARAÇÕES COM O REINADO DE ELIZABETH
Carismática e bastante popular – fato que ficou exposto pelas comoventes manifestações de pesar por sua partida – a falecida rainha era uma monarca com uma grande aprovação popular.
Mais uma situação desafiadora para o novo detentor da coroa, que certamente passará por um processo natural de comparações como sofrem normalmente os sucessores- ainda mais levando em consideração a popularidade de sua antecessora.
Segundo a a historiadora real Evaline Brueton, essa não é uma situação inédita na história das sucessões ao trono:
Ela afirma que o rei Edward 7º passou pelo mesmo, quando herdou a coroa em 1901, após a morte da rainha Vitória, outra monarca muito popular e longeva.
“Há semelhanças interessantes entre o momento que estamos vivendo agora e o fim da era vitoriana”, diz Brueton. “Tanto Edward 7º quanto Charles 3º assumiram o poder em períodos de mudança social na Grã-Bretanha. E ambos não eram tão populares quanto suas mães.”
Edward 7º ficou no poder por apenas nove anos (1901-1910), mas é lembrado com carinho como um rei que se envolveu em esforços diplomáticos que lançaram as bases para a famosa Entente Cordiale, uma série de acordos entre o Reino Unido e a França assinados em 1904.
“Edward 7º se saiu extremamente bem e não há nada que sugira que Charles não será igualmente lembrado como um rei importante”, diz Brueton.
“Ele teve a rainha Elizabeth II como um ótimo modelo e teve tempo para se preparar para a tarefa.”
Texto: Salvador Razogh