O título de Rainha do Pop não foi concedido à toa. Para os que gostam dos números, Madonna vendeu mais de 300 milhões de albuns ao longo de 40 anos de carreira, tendo conquistado 50 músicas número 1 na parada dance da Billboard – a primeira artista a chegar a esse patamar em qualquer parada da mais renomada lista musical do mundo. Aos 65 anos de idade estreou dia 14 de outubro sua mais recente turnê mundial “The Celebration Tour“, em Londres, (sua 12a turnê mundial) que passará em mais de 38 cidades fazendo 78 apresentações e tem mais de 10 trocas de figurinos icônicos assinados por Jean-Paul Gaultier, Versace (por Donatella) e Vetemens (por Guram Gvasalia).

Mas há ainda os feitos de Madonna que não se consegue medir por números: ela abriu caminho para o mundo pop e para as mulheres na música, influenciando todas as cantoras que vieram depois; O formato de espetáculo de música que se conhece hoje foi cunhado por Madonna em 1990, com a “Blond Ambition Tour“; Sua influência na cultura pop é enorme, indo desde a moda, passando pelo comportamento, ao combate a todo o tipo de preconceito, e ao quebrar os dogmas do que se esperava das mulheres do século XX. Isso para dizer somente algumas coisas.

“The Celebration Tour” tem deixado os fãs extasiados com uma mistura perfeita de nostalgia e inovação. Com os rumores há dois anos de que um estúdio de Hollywwod estaria pronto para colocar a vida da mega estrela na grande tela em uma cinebiografia, Madonna disse que ninguém, além dela, poderia contar sua história. E na “The Celebration Tour” ela mostrou o porque. O show percorre mais de 30 hits, além de trechos de outros, revisitando muitos momentos marcantes de sua carreira icônica, ao mesmo tempo que tece uma rede de auto referências que somente os fãs mais ardorosos são capazes de decifrar por completo.

No palco, a Madonna de hoje encontra-se consigo mesma no passado,através de dançarinas que a acompanham pelas eras de sua carreira e pelos momentos mais marcantes, como nos anos 80, em sua fase punk-rock para criar o pop de hoje e com os seus embates com o puritanismo da Igreja Católica; nos anos 90 com sua cruzada pela liberação sexual de mulheres e gays, seguido por seu comportamento anti-guerra e, finalmente ao trazer a música eletrônica como um raio de luz para a música pop; nos anos 2000 ao reinventar o pop com roupagem country eletrônica e depois voltar ao universo Disco se confessando em plena pista de dança; nos anos 2010 ao flertar com a música EDM e depois abrir seu coração rebelde para o público; chegando aos anos 2020, em sua maturidade mostrando que é possível cantar também em Português e atingir recordes ainda inéditos no mundo da música, como chegar ao 50 hits número 1 na parada dance da Billboard.
Há momentos muito significativos e emocionantes no show, quando Madonna sobrevoa todo o estádio em uma moldura durante a performance da linda música “Live To Tell“, ressignificada para homenagear todos os seus amigos (além de toda uma geração) atingida duramente pela AIDS, como o artista Keith Harring, o cantor Freddy Mercury, o professor Christopher Flynn, o artista Marting Burgoyne, os dançarinos Gabriel Trupin e Michael Perea, entre outros.
Sua família teve destaque, na música “Mother and Father” onde fez uma homenagem à mãe, também chamada Madonna, que faleceu quando a cantora tinha apenas cinco anos de idade, marcando profundamente sua vida.

Outros grandes ícones pop ganharam homenagens, como Michael Jackson, em uma versão de “Like A Virgin” com “Billie Jean“, enquanto as silhuetas da Rainha e do Rei do Pop dançam e fotos dos dois artistas são projetadas nos telões. E Prince, que é personificado no palco durante “Like A Prayer / Act Of Contrition” pelo filho de Madonna, David Banda, tocando vigorosamente guitarra, exatamente como o artista fez nessas músicas de Madonna, e vestindo seu indefectível figurino roxo.

A cultura ballroom, da comunidade trans, latina e marginalizada de Nova York, que ganhou visibilidade no mainstrain através da música “Vogue” de Madonna, se fez presente no palco da Celebration Tour através de uma ball, uma competição de dança, poses e atitudes, onde Madonna fez papel de jurada com a companhia da filha Lourdes Maria – Lola (outra jurada) e com uma das gêmeas caçulas, Estere, que arrasou como competidora ballroom. A participação de outra filha da popstar, Mercy James, emocionou a todos tocando belissimamente o piano durante a canção “Bad Girl“, um dos hits que finalmente chegou nas turnês depois de décadas.

Madonna tem uma trajetória impressionante e incomparável. E esse show pode ser descrito como uma aula de música, comportamento e história contado através de um show.
No set final, Madonna está lá, vestida com mais um figurino icônico com seu corset com cruxifixos e um véu sobre a cabeça, encarando-se mais uma vez, agora com muitas “Madonnas” que a circulam em “Bitch, I’m Madonna“, todas partes de si mesma e ao mesmo tempo ainda vívidas na mente e no coração daqueles fãs da platéia (e dos que acompanharam pela internet), pois cada uma das “Madonnas” que existiu, continua existindo e reverberando no universo pop. O show termina com a animada faixa-título, “Celebration“, mostrando que apesar dos números, dos records, dos hits, o melhor de tudo é que ainda temos a sorte de estarmos vivos acompanhando e celebrando a vida de uma das figuras mais influentes e impactantes da cultura mundial: Madonna!

Texto: Rodolfo Abreu (@rodolfoabreu)
Imagens: Divulgação
