Um curto perfil do ator, mímico e diretor de teatro Álvaro lvaro Assad.
Álvaro lvaro Assad é premiado ator, diretor e preparador mímico da companhia carioca ETC E TAL/RJ. Indicado aos Prêmios Shell, Bravo Prime, Zilka Sallaberry e Aplauso Brasil. Ganhador do Prêmio de Humor Fábio Porchat 2023 pelos 30 anos de atividades na arte gestual do ETC e TAL. No Audiovisual assina a Direção Corporal e Mímica da Série da NEFLIX – “Ninguém Tá Olhando” (Dir. Daniel Rezende), do filme “Lições Turma da Mônica” (Dir. Daniel Rezende), preparação e Direção Corporal e Mímica de Rodrigo Santoro para o Filme “Laços – Turma da Mônica”(Dir. Daniel Rezende), além de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, novo filme live-action inspirado em Turma da Mônica.
Em foco – Quando despertou em você o interesse pelas artes cênicas ? E como foi a sua formação ?
Álvaro Assad – O interesse aconteceu em um encontro com um mímico Luis de Lima no início da década de 1990.
Foi o primeiro momento em que senti que a arte da expressão corporal faria parte da minha trajetória.
Em paralelo entrei na CAL Casa das Artes de Laranjeiras RJ, tendo forte influência do diretor inglês David Herman que trabalhava o Realismo (análise ativa) de Stanislavski.
De lá para cá é história, influência com troca artística e aprendizados. E claro, aprofundar durante 30 anos na linguagem do Etc e Tal
Em foco – Como se deu o processo de criação da Companhia Etc e Tal?
Álvaro Assad – Etc e tal surge em 1993 no encontro de cinco estudantes de teatro e profissionais da mímica que trabalhavam no mercado literário com apresentações em feira de livros para escolas, editoras e livrarias. Ali criamos o espetáculo ENROLA E DESENROLA para Editora Ediouro. E assim nasceu a companhia onde até hoje dois integrantes continuam há 30 anos, Márcio Moura e eu.
Em foco – Quais as principais produções cênicas realizadas pela Companhia?
Álvaro Assad – Definitivamente as Produções que continuam em repertório nos últimos 25 anos desde FULANO&SICRANO até o espetáculo NO BURACO passando pelos infantis VICTOR JAMES, O MACACO E A BONECA DE PICHE , O MAIOR MENOR ESPETÁCULO DA TERRA, DRAGUINHO, JOÃO O ALFAIATE e nosso último espetáculo adulto ESPERANDO BELTRANO. Todas essas produções e outras que compõem o repertório são de significância na nossa trajetória.
Em foco – Em suas produções cênicas, você trabalha com a mímica. Explique sobre essa técnica utilizada.
Álvaro Assad – Primamos por uma forte característica de expressão corporal mesclando nos espetáculos uma dramaturgia totalmente sem palavras ou que combinam as palavras na língua portuguesa com outras em uma língua fictícia, como também temos obras totalmente em pantomima ou seja sem palavras. Isso provoca no público uma situação cênica imagética e cativante. Esse é o nosso lugar de busca e esse é o desafio a cada nova criação.
6- Você também tem trabalhado com outras companhias de teatro. Como tem sido se dado essa relação?
Álvaro Assad – O primeiro encontro e fundamental foi com a companhia paulista LA MINIMA onde preparamos dramaturgicamente e com direção o espetáculo “A Noite dos Palhaços Mudos” em 1998. De lá para cá trabalhei com eles em mais 2 Produções “Mistero Bufo” e “Ordinários”, assim como tive oportunidade de trabalhar com os PARLAPATÕES no espetáculo Os MeQueTreFe e a companhia SOLAS DE VENTO além do espetáculo “O mundo de Hundertwasser” com Raul Barreto e Ana Cerelo. Esses e outros encontros primam por trabalhar com outras companhias com a linguagem da comicidade e da palhaçaria. Um lugar que diverge do ETC E TAL e que a mim é um desafio e desejo de criação.
Em foco – No plano internacional, você tem uma experiência com o Cirque du Soleil. Comente sobre essa experiência.
Álvaro Assad – Um dos grandes encontros de mímica na minha trajetória foi com o mímico, palhaço e bufão Cláudio Carneiro. Embora, seja natural de São Paulo ele é um artista do mundo e muito conceituado no Cique du Soleil. Ele estava no México em Cancún e me convidou para ir para lá trabalhar especificamente com ele um número dentro do espetáculo fixo JOYA. Foi uma troca preciosa com alta estrutura de profissionalismo, tecnologia e claro uma liberdade de criação onde ampliamos o número e vivenciamos o que até hoje nos traz alegria, lembrança e referência nas trajetórias. Com Cláudio Carneiro mantenho sempre encontros criativos. Já tivemos a oportunidade de criar outro espetáculo e números juntos.
Em foco – Além do teatro, você também tem participações na televisão, no cinema? Qual é a diferença das produções cênicas para as demais no tocante a atuação do mímico?
Álvaro Assad – O desafio no audiovisual na maioria das vezes é conseguir colocar sutileza da limpeza mímica dentro de uma estrutura onde o naturalismo é exacerbado. Ou seja essa limpeza não pode tirar o fluxo de atuação e chamar a atenção exatamente para algum lugar que engesse a cena. Em dois projetos eu tive a oportunidade de fazer a mímica de uma forma mais consistente no que cerne ao efeito da pantomima. Um projeto foi o primeiro e com Rodrigo Santoro. No filme Laços Turma da Mônica com direção do Daniel Rezende, onde ele interpretou o personagem LOUCO e ali fizemos o mais significativo em movimentos gestuais com toque de bufonaria. Além disso a série “Ninguém tá olhando” também com direção do Daniel Rezende aonde pude preparar de forma mímica o elenco. Os personagens sem efeito especial precisam se tornar invisíveis E isso se deu de forma a criar uma concordância na movimentação e nos olhares de todo o elenco e da figuração. Foi um projeto desafiador e muito enriquecedor. Inclusive essa série, para ossa alegria, foi agraciada com prêmio EMMY Internacional de melhor série de comédia. De lá para cá a parceria com audiovisual tem sido periódica e muito positiva.

Em foco – Quais são os seus projetos futuros?
Álvaro Assad – No momento o projeto de maior significância é a comemoração dos 30 anos do ETC E TAL e circular com todos os 10 espetáculos atualmente em repertório a partir daí criar mais um novo espetáculo infantil que já estamos em tratamento de roteiro e também um espetáculo para espaço aberto esse é o desafio “manter vivo o Leão todo dia”.
Em foco – Como você avalia a situação dos artistas no contexto brasileiro? Vale a pena ser artista em terras brasileiras? Comente.
Álvaro Assad – Nos últimos anos vivemos uma situação de calamidade Mundial mas também de um olhar Nacional em relação à cultura que foi extremamente preocupante Nós das artes cênicas sofremos em demasia, mas os projetos retomaram e o mercado artístico que envolve tantos profissionais técnicos que vão de roteiro, direção, atuação, iluminação, cenário, figurino, programação visual, transporte, alimentação, contabilidade, administração são muitos e muitos e é relevante para nós que o mercado aconteça e nós estamos a cada dia realizando isso. É isso que importa, a continuidade e a atitude artística e profissional.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação.