Jose G. Guerrero e historiador, professor, possui Mestrado em Educação, autor de oito livros publicados, membro da Academia Dominicana de História e da Academia de Ciências da República Dominicana, e hoje Diretor do Museu de História e Geografia RD. Guerrero chegou à cidade maravilhosa do RJ para conferenciar temas curiosos sobre geografia e historia da Republica Dominicana. Não podemos deixar de ressaltar sua vasta e larga experiência de vida sempre acompanhados da arte e da cultura por “donde quiera”. Nas Conferencias que serão explanadas, onde ele mesmo titulou como” Um país único no mundo” se deve ao fato de que essa grande ilha no Caribe, a qual existem dois países ao mesmo tempo em ela, tem vários Padres da Pátria, varias independências. Sua ligação com o Brasil veio com a oportunidade de fazer seu Mestrado na FGV em 1984 em Educação, e uma especialização em Desenhos de Projetos Culturais. Sempre divulgando a musica brasileira e seus costumes, Guerrero recebeu a medalha de Ordem Honra ao Mérito Rio Branco pelo Itamarati. É um eterno apaixonado pelo Rio de Janeiro. Tem família nessa terra e sempre será bem vindo.
Em Foco – Comente resumidamente seu perfil.
José G. Guerrero – Eu sou José G. Guerrero, historiador, nasci na cidade de Santo Domingo em 1955, quase no mesmo instante em que o ditador Rafael Leonidas Trujillo inaugurava a “Feira Mundial da Paz e da Confraternidade do Mundo Livre” diante de muitos governantes, entre eles incluía Juscelino Kubitschek , que pôde se inspirar na arquitetura do evento quando construiu a cidade de Brasília. Depois da morte de Trujillo, estive no meio da guerra civil que acontecia no país em 1965 e observei tropas brasileiras que vieram com Força de “Paz ” que ocuparam a capital em nome da OEA (na verdade, Estados Unidos) . Um militar brasileiro ensinou ao meu Pai fazer suco de abacate, o qual vendia numa lanchonete da cidade.
Em Foco – Como você encontrou sua vocação de cientista social e historiador?
José G. Guerrero – Estudei história na única universidade do país. A UASD- Universidade Autónoma de Santo Domingo -, herdeira da universidade primada de América, criada aqui pelos frades dominicanos em 1538. Sempre gostei de história, mas a decisão veio depois quando enxerguei um anúncio pendurado numa árvore que dizia: estuda história, a ciência do futuro. Também me dediquei a trabalhos arqueológicos e antropológicos, onde pude descubrir as primeiras mulheres brancas que chegaram da Espanha (vieram escondidas e vestidas como homens) e apresentei duas expressões afrodominicanas que foram escolhidas pela UNESCO como patrimônio da Humanidade. Sou atual Diretor do Museo Nacional de História e Geografia.
Em Foco – Como você lembra da sua passagem de estudante pelo Brasil e dos estudos onde você foi formado?
José G. Guerrero – Nos anos entre 1984-1985 arranjei 2 (dois) cursos no Brasil na Fundação Getúlio Vargas, um de Especialização em Desenho de Projetos Culturais, e outro em Mestrado em Educação. No Brasil conheci grandes professores que tinham estudado com celebridades na Europa. Minha formação ficou muito enriquecida. Apresentei no curso de Desenho, o projeto ” museu na casa da Moeda de Rio de Janeiro” e no mestrado apresentei “A sofística grega: educação, política e linguagem”. Ambos foram recomendados para publicação. O melhor de tudo foi que me casei lá e tenho uma filha e neta cariocas.
Em Foco – Qual é a sua visão em relação a arte e cultura na RD?
José G. Guerrero – Dominicana compartilha com o Haiti, a Ilha de Santo Domingo, um caso não muito comum no mundo. A Ilha, povoada por uma diversidade de etnias que vieram do Brasil, Venezuela, e Colombia desde 3.000 anos AC. Precisamente sobre esse primeiro povoado de gente nômade, sem agricultura, nem cerâmica, publiquei meu primeiro livro no ano de 1981. Os lugares mais antigos estão no Sudeste. Mas não foram esses grupos os que os espanhóis acharam, senão outros que vieram do Rio Orinoco na Venezuela e que aqui tiveram o maior desenvolvimento – os chamados cacicatos-, razão pela qual a ilha foi sede do governo colonial.
As primícias são muitas: primeiras vilas e cidades, primeira fauna e flora européias, primeiras mestiçagem, primeiros negros e suas revoltas, primeira Catedral, Universidade, Tribunal de Justiça, etc… De aqui partiram os europeus para o resto da América. Em termos atuais, o país tem quatorze museus públicos e dez particulares na Praça da Cultura onde está o Teatro Nacional, os museus de antropologia, de história e geografia (o que eu dirijo), de história natural e de arte moderna, a cinemateca e a Biblioteca Nacional. Tudo isso fica na antiga fazenda onde morava Trujillo e sua família. Tem também o Ministério da Cultura que luta por um maior orçamento.
Em Foco – Quais são seus desafios como Diretor do Museu de Historia e Geografia?
José G. Guerrero – O Museu Nacional de História e Geografia abriu em 1982, mas depois de um tempo ficou fechado por mais de 12 anos por problemas na edificação. Assim eu o encontrei. Tive número de pessoal limitado que foram levados para outras instituições, limpeza, conservação, roteirista, procurar informações, identidades, imagens até reabrir as portas em dezembro de 2022, mostrando uma sala da Pátria, com retrato de nossos presidentes até 1844, a embarcação em que veio a guerrilha de Caamaño em 1973, o jardim de Hostos com sua estátua feita por J.J. Sicre em 1941, e uma sala com peças restauradas. Agora falta completar a museografia da história e da geografia.
Em Foco – Qual relação existe entre a arte brasileira e a arte dominicana?
José G. Guerrero – O Brasil é uma terra de promessas, segundo Stefan Zweig, que morreu em Petrópolis. É um país tão grande e diverso que é desconhecido pelos próprios brasileiros. Os intercâmbios econômicos, políticos e culturais poderiam ser muito aproveitados para qualquer país. As relações com a RD são cada vez mais estreitas, mas podem acrescentar ainda mais no campo dos estudos, da indústria, e no comércio. A maioria dos ônibus e muitos aviões de combate daqui são brasileiros. Virou moda brasileira virem se casar aqui em Punta Cana, na parte leste do país.
O dominicano agora não precisa ter visto para ir ao Brasil. Santo Domingo e Rio de Janeiro são cidades irmãs desde 1985. O Centro Guimarães Rosa está fazendo grandes contribuições. Eu faço um programa de música pelo rádio a mais de vinte e oito anos, no qual as sextas feiras é dia de música brasileira. Entrevistei nomes como Gal Costa, Djavan, Peri Ribeiro, Egberto Gismonto, Os baianos, Ivan Lins, entre outros. Recebi a medalha Ordem de Honra ao Mérito Rio Branco, pelo Itamaratí.
Em Foco – Você acredita que a classe dominante Latino-americana aprendeu com sua historia a identificar os melhores interesses de seus países?
José G. Guerrero – As relações são antigas, mas a gente tem que estudá-las, refazê-las. Aqui esteve Vicente Yanez Pinzón antes de descubrir o rio Amazonas, e também Alonso de Ojeda cortava pau-brasil em 1496, antes que Cabral chegasse a Ilha de Vera Cruz no Brasil. Pena que o Brasil não esteve na independência junto a San Martin, Bolivar, Sucre, O’ Higgins e demais próceres hispano-americanos. Dois problemas que temos em comum e que a melhor, uma solução conjunta e integral são a segurança pública e as desigualdades sociais. Pedro Henriquez Ureña , o intelectual mais desenvolvido do país no século XX, diz que se existe cultura, existe esperança, mas imediatamente advertiu que o ideal de cultura não está diante da justiça.
Em Foco – Os seres humanos atualmente estão. apostando na ” inteligência digital” para transformar a vida como a percebemos até agora. Como a “inteligência artificial” afetará o desenvolvimento de vida do ser humano? Qual é a sua percepção?
José G. Guerrero – A inteligência artificial veio para ficar. É um produto humano que começou quando o ser humano descubriu o fogo e os primeiros utensílios manuais. O problema é que as grandes invenções quase destroem a sociedade humana, diz Federico Engels. Dai a importância da ética e o compromisso com a justiça social e o bem estar da humanidade. Crescimento, mas também desenvolvimento.
Em Foco – Que ligação podemos tirar da História dominicana e da brasileira, que mensagem pode dar aos Governantes da America Latina?
José G. Guerrero – A história não é só passado, é também, sobretudo , presente. O crescimento e as relações mútuas poderiam ser muito mais abrangentes.
Em Foco – Finalmente, dedica-nos umas palavras, ao nosso Brasil, e à Sociedade Carioca que o recebeu durante sua formação intelectual.
José G. Guerrero – Brasil, meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro, é um gigante adormecido que um dia acordará para o bem da sua gente e do mundo!!!